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PAUTA AMBIENTAL

“Alertas precisam ser encarados como avisos claros”, diz André Fraga

Vereador e defensor da causa verde fala sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente e consequências de ações humanas

Por Eduardo Dias

05/06/2024 - 6:00 h
Fraga é defensor da causa verde e tem atuação incisiva com projetos que visam melhorar a qualidade de vida sem afetar o ecossistema
Fraga é defensor da causa verde e tem atuação incisiva com projetos que visam melhorar a qualidade de vida sem afetar o ecossistema -

No dia do meio ambiente e na semana que se comemora também o dia dos oceanos, o vereador André Fraga (PV) fala sobre como as políticas públicas corretas podem ajudar a humanidade a enfrentar seus desafios ambientais e ajudar a evitar desastres naturais, como o ocorrido no estado do Rio Grande do Sul.

Engenheiro ambiental de graduação, André Fraga é pós-graduado em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas e Doutorado em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP, além de ser defensor da causa verde, ele tem atuação incisiva com projetos que visam melhorar a qualidade de vida sem afetar o ecossistema.

Confira a entrevista completa do vereador ao Portal A TARDE.

O Rio Grande do Sul vivencia uma destruição jamais vista de sua infraestrutura com custos humanos, sociais, ambientais e econômicos gigantescos. Até que ponto isso é realmente resultado da mudança do clima no planeta?

“Primeiro, não podemos mais aceitar que eventos como esses são ‘desastres naturais’. Não são desastres, muito menos naturais. A forma como a humanidade escolheu para se desenvolver, consumindo combustíveis fósseis e jogando todo seu rejeito para a atmosfera, alterou todos os elementos que mantêm o clima equilibrado e previsível. Aquece os oceanos, derrete geleiras, reduz a biodiversidade, tudo isso produz eventos climáticos extremos como chuvas torrenciais, secas prolongadas, ondas de calor intenso”.

“A tomada de consciência a partir do entendimento desse fenômeno por parte da comunidade científica não foi acompanhada pela ação por parte do mundo político, quem efetivamente toma as decisões. O negacionismo e a produção de uma realidade paralela também tem responsabilidade. O que temos como visão de futuro, se insistirmos nessa rota, é o caos”.

Vereador, você acredita que era possível evitar tantas perdas numa situação como essa do RS?

“Alertas anteriores de eventos climáticos extremos precisam ser encarados como avisos claros de que vivemos uma nova realidade climática e é essa nova realidade que precisa ser considerada para políticas públicas, planos e ações a serem executadas com rapidez. A perda de vidas e o caos social e econômico, além de desafios ambientais de proporção inimaginável, com impactos em todas as frentes é um bom motivo para que a agenda climática, de mitigação e adaptação, seja prioritária. Não dá para dizer que não sabia. Alertas vêm sendo dados há mais de 50 anos”.

Em meio a tudo isso, André, quais os caminhos para mudar essa realidade e se ter um convívio ideal com a natureza? Nos estados e municípios, por exemplo, há de se destacar a atuação das Defesas Civis, mas o que de mais concreto pode ser feito?

“Estruturar órgãos integrantes do sistema de defesa civil é um bom caminho para a prevenção e adaptação das cidades. Muitas cidades no Rio Grande do Sul vivem nas áreas alagáveis nos vales dos rios, o que tornava tudo que aconteceu muito previsível. É fundamental que o setor público crie carreiras no funcionalismo que atualizem o entendimento sobre a mudança global do clima”.

“Um exemplo são projetos de infraestrutura, por exemplo, que desconsideram as características naturais que ainda são desenvolvidos nas cidades. É preciso que esses projetos sejam pensados a partir de Soluções Baseadas na Natureza, promovendo um desenvolvimento que de fato seja bom para todos. É assim que teremos cidades resilientes a essa nova realidade climática.

Se tratando de desafios a serem enfrentados, quais caminhos a política pode apontar para vencê-los?

“A política é a arte do diálogo e a busca pelo entendimento. É nesse sentido que precisamos fazer com que soluções para enfrentar a crise climática esteja na agenda de toda a classe política, independentemente de partido ou corrente”.

Na sua tese de doutorado, vereador, você investigou como parques e áreas azuis impactam a saúde das pessoas. Quais foram os resultados do levantamento?

“Ao cruzarmos dados do local de residência e dos indicadores de saúde de 2000 pessoas em Salvador, acompanhadas pelo ELSA Brasil identificamos que, quem vive até 1 quilômetro de distância de algum parque, possui menor chance de desenvolver hipertensão e diabetes. Esses resultados estão alinhados com pesquisas que vêm sendo desenvolvidas em todo o mundo”.

André, sua passagem pela SECIS foi marcada por realizações e pela retomada da pauta verde em Salvador. Que legado considera que deixou?

“A reconexão da cidade com seus parques acho que chegou e ficou. Lembro que encontramos os parques municipais abandonados em 2013. Hoje o Parque da Cidade é um espaço vivo e de integração. Criamos o Parque dos Ventos, o Parque Pedra de Xangô e o Parque Lagoa dos Pássaros. Reformamos o Jardim Botânico e criamos o Primeiro Parque Marinho da história de Salvador. Garantimos segurança jurídica para o Parque das Dunas, o maior de dunas e restinga do Brasil. Deixamos ainda diversos parques novos encaminhados como Canabrava, o Centro de Interpretação da Mata Atlântica, Mata Escura e Ipitanga. O IPTU Verde tem reconhecimento internacional e a outorga verde foi a primeira no Brasil, mostrando essa capacidade de inovação”.

“Na agenda institucional criamos leis de arborização e meio ambiente que resolveram os passivos históricos da cidade. O Colabore, foi o primeiro espaço efetivamente público a estimular o empreendedorismo socioambiental alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Globais. Esses projetos seguem dando resultado e transformando vidas”.

Além de sua atuação como secretário, você também se destacou na aprovação de projetos importantes na Câmara Municipal. Como acha que eles podem contribuir com as questões ambientais da cidade?

“Conseguimos a partir da Câmara de Vereadores aprovar o perdão da dívida e a isenção de IPTU, TFF e a redução de ISS para as cooperativas de reciclagem na cidade, o que será um impulso importante para essa agenda e para esse grupo de trabalhadores da nossa cidade, que realiza um trabalho fundamental. Além disso, também garantimos que não haverá mais distribuição de canudos plásticos na nossa cidade. O que pode parecer pouco, mas é aponta de um problema grande, o dos microplásticos, que já afeta a saúde humana. Temos ainda a lei que instituiu o ensino da cultura oceânica nas escolas, o de distribuição de cannabis medicinal, projetos voltados para o uso de bicicletas na cidade e para o esporte”.

André Fraga foi presidente do Partido Verde e Secretário de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência em Salvador. Nacionalmente, foi coordenador do Fórum CB27 reunindo os secretários de meio ambiente das capitais brasileiras debatendo a adaptação às mudanças climáticas, e vice-presidente da Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente ANAMMA.

Foi também Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, entidade que defende e promove a arborização de cidades. Internacionalmente representou Salvador em redes globais de cidades em busca de soluções para os desafios impostos pela crise climática como C40, ICLEI, Cities 4 Forests. Diversos programas e projetos implementados durante suas gestões foram reconhecidos e premiados nacional e internacionalmente.

Atualmente, tem se dedicado a estudar como o contato com a natureza ajuda no desenvolvimento de crianças e jovens mais saudáveis física e emocionalmente.

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Tags:

André Fraga meio ambiente Política Ambiental sustentabilidade

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