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29/05/2024 às 8:00 - há XX semanas | Autor: Gabriela Araújo

RACISMO RELIGIOSO

Crescimento das candidaturas afros não refletem no Legislativo baiano

Candidatos ligados ao Candomblé ou Umbanda ainda são minorias entre vereadores e deputados

Mandato Coletivo Pretas por Salvador, encabeçado por Laina Crisóstomo
Mandato Coletivo Pretas por Salvador, encabeçado por Laina Crisóstomo -

Oxum, Oxóssi e Oxalá. Nomes de orixás que acompanham alguns líderes religiosos, que buscam,no voto e na vfé, uma vaga no Legislativo com a bandeira de fazer avançar mais políticas públicas alcancem os povos de terreiro.

Em 2022, por exemplo, o Brasil alcançou um recorde na quantidade de pré-candidatos ligados às religiões de matrizes africanas, sendo que 29 pessoas no país utilizaram os títulos de mãe ou pai nas urnas eletrônicas.

O número recorde, contudo, não se aplica para as corridas eleitorais na Bahia. No leque de nomes dispostos para os eleitores para uma vaga na Assembleia Legislativa (Alba), nenhum deles carregavam o desígnio, como é o caso de Mãe Bernadete de Oxóssi, que optou por utilizar o seu nome de nascimento: Bernadete. Em conversa com o Portal A TARDE, ela explicou o motivo de não utilizar o seu nome religioso para concorrer à vaga de deputada estadual.

“No momento em que eu entro em uma campanha eleitoral,e também quando eu vou participar de algo diretamente, geralmente, eu recorro aos jogos de búzios e eu atendo e obedeço a isso. [...]. E eu trago o meu nome, Bernadete Souza, também em homenagem à minha mãe biológica e para representar a minha ancestralidade”, contou.

Pré-candidata pelo PSOL, Bernadete, como ficou conhecida nas urnas, não teve êxito na sua candidatura para um assento na Alba, tendo conquistado 2.614 votos. O nome dela voltará a ficar em evidência nas eleições municipais deste ano, com a agricultora colocando seu nome à disposição para concorrer a uma vaga na Câmara Municipal de Ilhéus, sua cidade natal.

Para disputar o pleito de outubro, Bernadete cogita a possibilidade de se apresentar com o nome religioso para concorrer à vereança da Princesa do Sul e terra do cacau.

“A gente está se preparando agora para as próximas eleições, em que eu venho como pré-candidata a vereadora, e, nesse momento, a gente começamos a pensar como vai ser essa campanha. Em um momento onde continua-se a observar esses ataques aos povos de religiões de matrizes africanas, importante se afirmar, inclusive na cidade, que quem está ali é Bernadete de Oxóssi”, atestou.

Mãe Bernadete de Oxóssi
Mãe Bernadete de Oxóssi | Foto: Reprodução | Instagram (@bernadete_souza)

As crescentes nas candidaturas correlacionadas às religiões evangélicas também apresentou uma crescente. No último pleito, disputado em outubro de 2022, houve um aumento de 25% em relação a quantidade de candidatos de 2018, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Um levantamento feito pelo Portal A TARDE, por meio do DivulgaCand, constatou que 35 candidatos utilizaram designações religiosas como "Bispo", "Pastor" ou "Missionário", para alçar o cargo de deputado estadual. Apesar do avanço, a estratégia não colou e a bancada evangélica da Alba manteve os mesmos nomes, que, até o momento, não se apresentam com títulos.

Baixa representação

Apesar de Salvador ser considerada como a capital afro, a desigualdade racial ainda é uma realidade na cidade e afasta a população negra de alcançar seus plenos direitos, principalmente quando se trata de mulheres ou homens de candomblé. Os povos de santo, como são chamados, ainda tem uma baixa representação nos espaços políticos, especialmente nos Legislativos.

Dos seis candidatos ligados ao candomblé que concorreram a um assento na Câmara Municipal de Salvador (CMS) em 2020, apenas uma candidatura conseguiu se efetivar. O mandato coletivo Pretas por Salvador, encabeçado pela vereadora Laina Crisóstomo (PSOL), ainda conta com duas co-vereadoras: Gleide Davis, que também é adepta à religião e Cleide Coutinho, que é evangélica.

“Eu acho que quando a gente fala da representatividade de mais pessoas de axé na política, a gente também precisa fazer um debate sobre quais pessoas de axé estamos falando. Porque a gente também não quer ser as pessoas fanáticas, fundamentalistas, sectárias e fascistas que são as igrejas dentro da política. Pelo contrário, a gente entende que defender a política de estado laico, onde todas as religiões tenham acesso, é a nossa essência. A essência do candomblé é acolher e também pensar no coletivo”, justificou a edil.

A parlamentar, que defende um grupo minoritário na Casa, não se intimida com olhares tortos ou dedos apontados quando a questão é sobre a sua religião. Laina, que assumiu a cadeira em fevereiro de 2021, fez a sua primeira aparição como vereadora de mandato, com os seus trajes brancos e os fios de contas no pescoço.

“Historicamente, muitas pessoas são ligadas ao candomblé no espaço da política, mas nunca conseguiram se assumir publicamente em razão de um processo de discriminação, enfim. [...] ”,disse.

“[...]. Lembro que a primeira vez que eu vim para Câmara com as vestes que eu uso na festa de Candomblé e uma menina faz uma análise de que eu sou a primeira parlamentar na Bahia que faz isso, ou seja, isso é um processo histórico. Porque ninguém antes quis colocar as contas para fora, mostrar que é do axé e falar em nome de Orixá. Eu sou levantada para Oxóssi e por Obá para defender a pauta de combate à intolerância religiosa”, acrescentou ao Portal A TARDE.

A coragem e a firmeza de Laina em levantar a bandeira da sua religião, no entanto, é uma das poucas vistas nas Casas Legislativas. A ausência dos nomes associados às religiões de matrizes africanas, de acordo com a cientista social da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Márcia Maria Santos do Nascimento Dias, é motivada pela “intolerância e racismo religioso”.

“Eleger mulheres ou homens de candomblé em Salvador ainda é muito difícil, mesmo Salvador sendo a cidade mais negra fora do continente africano. Muitos terreiros de candomblé infelizmente são conduzidos e assediados por políticos brancos que não carregam suas pautas. Na Câmara de Salvador só temos praticamente um mandato que se assume enquanto mulher de candomblé e os demais que são, não os vejo”, afirmou.

Professora de Educação Social da UFBA, Márcia Maria Santos do Nascimento Dias
Professora de Educação Social da UFBA, Márcia Maria Santos do Nascimento Dias | Foto: Arquivo Pessoal

Já o vereador Sílvio Humberto (PSB), militante do Movimento Negro Unificado (MNU), também acredita que o “racismo religioso” é determinante para a ausência do aumento dos números de parlamentares ligados à religião afro.

“Não podemos subestimar o caráter sistêmico do racismo bem como compreender o nosso real tamanho e a necessidade de ainda juntar gente, lembrando a música do Ilê, "sem dividir seremos sempre mais". Importante sinalizar que as religiões de matriz africana e afro-brasileiras são atacadas, fundamentalmente, por serem uma religião de negros. O racismo desumaniza as pessoas negras, então, nada que essa população originalmente produza será considerado como humano”, expôs o socialista.

A passos cautelosos

O aumento da presença de líderes religiosos evangélicos na política impulsionou a criação de uma bancada voltada para a defesa de temas inerentes ao evangelho, conhecida como bancada evangélica. O mesmo movimento, contudo, ainda não foi conquistado pelos adeptos das religiões de matrizes africanas.

Esse marco, segundo a professora de Educação Social da UFBA, ainda está longe de ser alcançado na política brasileira. Para Márcia Dias, o amadurecimento sobre a política deve ser plantado dentro e fora dos terreiros para que as políticas públicas também possam adentrar os espaços religiosos dos povos de santo.

“Como cientista social, acho difícil, mas não impossível. Para que realmente isso aconteça, será preciso fazer um combate político e mais direito a essa bancada. [...]. Percebo que precisamos fazermos formações políticas dentro e fora dos terreiros de candomblé”, afirmou a docente.

E continuou: “É preciso falar de verbas, fundo partidário dentro dos partidos políticos e para quem e como são distribuídas. Se as candidaturas evangélicas seguem, é por conta dos investimentos que determinados partidos atuam para serem eleitos”.

Em contrapartida, a vereadora Laina Crisóstomo (PSOL) acredita que a bancada deve ir além da religiosidade e tratar sobre as questões que permeiam a religião, bem como o racismo religioso, a segurança pública e o acesso a água e energia nos terreiros de candomblé e umbanda.

“Talvez eu concorde com uma bancada de povos tradicionais, comunidades tradicionais. Pensar em uma bancada com uma perspectiva que não é só da religião, mas sim, de uma pauta, como a bancada negra, que já existe na Câmara Federal. A gente entende que não é só sobre religião ou só do povo de axé, [...], a gente quer trazer para a política uma bancada diversa para poder pensar em tudo que essa religiosidade determina e foca”, destacou.

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