DOAÇÃO DOS ÁRABES
Sagradas: saiba por que tamareiras dadas à Bahia ficarão em quarentena
Mudas foram doadas para a Bahia por sheik ligado ao Grupo City
Por Lucas Franco
Como noticiou o Portal A TARDE nesta quinta-feira, 9, um sheik ligado ao Grupo City fez doações de mudas de tamareira para o estado da Bahia. Mudas da planta, sagrada em alguns países com população predominantemente muçulmana, precisarão passar por uma quarentena de seis meses na sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Brasília. Após o período, as mudas serão destinadas ao Governo da Bahia, que as enviará para municípios da região semiárida do estado.
Nascido na Nigéria, país em que a maioria da população é muçulmana, o líder da Comunidade Islâmica na Bahia, Sheikh Abdul Hameed Ahmad, afirmou que o fruto que se dá nas tamareiras, a tâmara, é recomendo para consumo diário, em especial no ramadã, período de jejum sagrado para a religião.
"Eu posso dizer que é a melhor fruta que existe no mundo. Nosso profeta Muhammad, que vocês chamam de Maomé, orientou para que se coma tâmara todos os dias. Porque ela é uma fruta abençoada. Em época de ramadã, a fruta que mais se utiliza para quebrar o jejum, depois do pôr do sol, é a tâmara. Não é obrigatória, é uma fruta abençoada e tem muitas vitaminas boas para a saúde", disse Sheikh Abdul Hameed Ahmad ao Portal A TARDE.
O líder da Comunidade Islâmica na Bahia disse também que há grande variedade de tâmaras, das mais baratas até as mais caras. "Cada um compra a que tem condições de pagar", alega.
Embora a doação de mudas de tâmaras do Oriente Médio para o Brasil não seja comum, a relação entre tamareiras e o Nordeste tem tudo para funcionar, disse ao Portal A TARDE o doutor em agronomia e diretor da Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI), Carlos Vítor Oliveira.
"A tamareira se adapta muito bem à nossa região semiárida. É uma planta que não requer muita chuva. No entanto, se você trabalhar ela com a irrigação, ela vai produzir de forma muito mais satisfatória e mais rápida", afirmou Carlos Vítor Oliveira. "Se assemelha [a tâmara] bastante ao licuri", comparou.
As tamareiras não chegaram na Embrapa, segundo o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e o diretor geral da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), Paulo Sérgio Luz. Ainda que tivessem chegado, a empresa pública, que é vinculada ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), não pode fornecer dados sobre seu trabalho.
Para explicar como funciona de maneira geral o processo de quarentena de plantas vindas do exterior, o Portal A TARDE conversou com o pesquisador da Estação Quarentenária da unidade de recursos genéticos e biotecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Norton Polo Benito.
"Imagine um material chegando aqui. A gente vai obrigatoriamente analisar se junto desse material vegetal pode ter vindo algum inseto, ácaro, fungo, bactéria, vírus ou hematóide, que é um tipo um verme. Então, são feitas sete análises diferentes para saber se veio algum contaminante com aquele material", conta Norton.
O servidor aponta que o tempo de quarentena varia muito. "Dependendo do tipo de material, as quarentenas mais rápidas demoram em torno de três meses, enquanto as mais longas podem levar dois anos", contextualiza.
Há uma diferença, porém, para a análise de materiais comerciais e materiais de pesquisa. "O Mapa [Ministério da Agricultura e Pecuária] autoriza importações que são relacionadas à pesquisa e autoriza importações que são comerciais. As importações comerciais não passam aqui por essa quarentena. Elas têm outros trâmites determinados pelo Mapa para a entrada desses materiais no Brasil com segurança", explica.
"Por exemplo, um navio que está vindo da Argentina com trigo, porque o trigo vai ser utilizado nas empresas que moem o grão e fazem farinha. Esse é um material comercial, ele não é um material de pesquisa. O material de pesquisa, em geral, vem em quantidade pequena", continua o pesquisador da Estação Quarentenária da unidade de recursos genéticos e biotecnologia da Embrapa.
Norton justifica o motivo de as importações relacionadas à pesquisa terem trâmites mais rigorosos. "Imagine que essa semente, ao ser levada para o pesquisador, vai ser colocada para germinar no solo. Se ela tiver uma praga associada, existe uma chance muito maior de você levar isso para o campo", conta. Além de sementes, plantas em estacas estão incluídas na inspeção de material de pesquisa.
"Ela [planta que é material de pesquisa] vai ser cuidada dentro de um ambiente controlado e fechado, que se chama quarentenário. Enquanto ela está sendo cultivada, os pesquisadores envolvidos na quarentena vão ter acesso a esse material e ver se tem alguma praga. Vão checar se é preciso tirar uma folha para ver se há alguma praga associada. Há protocolos a serem seguidos", conclui Norton.
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