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Com Fundo Eleitoral ‘magro’, partidos na Bahia apostam em vaquinha e doações

Publicado domingo, 13 de maio de 2018 às 11:15 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Regina Bochicchio
Campanhas eleitorais terão custo mais baixo apesar do Fundo Eleitoral bilionário criado no ano passado
Campanhas eleitorais terão custo mais baixo apesar do Fundo Eleitoral bilionário criado no ano passado -

A pouco mais de três meses para início da campanha eleitoral, pela primeira vez financiada com dinheiro público, os partidos políticos na Bahia ainda não sabem de quanto será a fatia que receberão das Executivas nacionais, oriunda de parte do Fundo Eleitoral de R$ 1,7 bilhão, e começam a projetar as dificuldades que terão para levantar cifras. Doações de pessoas físicas e vaquinha virtual, que está liberada a partir de terça, são apostas.

>>Candidatos terão dificuldade para conseguir doação

O montante geral é bilionário, mas, na visão dos políticos, emagrece à medida em que será dividido por todos os 32 partidos os quais, por sua vez, distribuirão fatias nos estados. Quando comparado aos gastos das eleições de 2014, quando vigorava o financiamento privado, R$ 5 bilhões segundo a ONG Transparência Brasil, políticos avaliam o fundo como insuficiente. A incerteza sobre quanto pingará na conta dos partidos na Bahia decorre da indefinição de candidaturas à presidência e governos.

Partidos que lançarão candidato à presidência, em tese, devem dar prioridade à candidatura nacional, cujo teto de financiamento é de R$ 70 milhões. O restante deve ser compartido com executivas estaduais, com critérios de livre escolha. Mas nos estados em que serão lançados candidatos a governador, outra fatia, de R$ 14 milhões, será comida pelo candidato.

A lei determina que a divisão dos recursos do fundo seja proporcional às bancadas dos partidos no Congresso (assim como é o tempo de TV), por isso a tendência nos estados é a de que as candidaturas ao Senado e à Câmara Federal sejam priorizadas na divisão do dinheiro que restar. Deputados estaduais terão mais dificuldade. O teto de gasto para federal é de R$ 2,5 milhões e estadual de R$ 1 milhão.

Para engordar a arrecadação as apostas são doação de pessoa física e vaquinha virtual. O crowdfunding foi liberado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a partir da próxima terça, 15/05, mas os recursos só poderão ser usados em agosto. Além do fundo eleitoral, o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou, semana passada, uso de 5% do Fundo Partidário, R$ 888 milhões, para irrigar campanhas.

O TSE ainda não oficializou quanto cada partido terá do bolo de recursos do fundo eleitoral. Mas legendas e especialistas têm feito previsões com base na lei.

Correndo atrás

O PT, que deve receber R$ 199 milhões, depende da decisão sobre ter ou não candidato à presidência. Independentemente disso, pelo menos os cinco governadores petistas, entre os quais Rui Costa, terão recursos priorizados. “Será uma campanha modesta e difícil de atingir o teto para deputados e até governador. A nossa ideia é utilizar o crowdfunding”, diz Everaldo Anunciação, presidente estadual do PT. A prioridade, conta, será para quem já tem mandato, “que tenha condições reais de disputa”. E se tiver chiadeira? “Nós combatemos o financiamento empresarial, está na hora de os candidatos assumirem”, crava.

O senador Otto Alencar, presidente estadual do PSD, que pleiteia vaga ao Senado na chapa de Rui com o nome do presidente da Assembleia Legislativa, Ângelo Coronel, diz que o partido ainda não se reuniu para tratar do assunto. “É difícil analisar porque será a primeira grande eleição sem financiamento privado”. Otto, que votou contra o financiamento público, avalia que o fundo deva ser “insuficiente”. O PSD nacional deve ganhar cerca de R$ 109 milhões.

O PR está em compasso de espera. “Vamos aguardar para ver quanto vamos receber. Aqui na Bahia, vamos dar prioridade às candidaturas a deputado federal”, adiantou logo José Carlos Araújo, presidente do PR na Bahia, que integra o arco de alianças de Rui Costa. O PR nacional terá direito a R$ 105 milhões do fundo. Para Araújo, a vaquinha virtual nessa eleição só deve funcionar para partidos que tenham militância ideológica. “Ninguém quer mostrar a cara dizendo que doou dinheiro para político”, crê.

E é justamente a estratégia da vaquinha virtual a aposta do Psol da Bahia. O partido, que nunca aceitou doação de empresas, terá o ativista Guilherme Boulos como candidatos à presidência e Marcos Mendes ao governo da Bahia. O presidente estadual da sigla, Fábio Nogueira, diz que o PSOL vai mobilizar a população. “Tivemos excelente experiência no Rio, com a campanha de Marcelo Freixo (candidato à prefeitura em 2016), com crowdfunding. Vamos fazer isso aqui”, diz ele. Do fundo serão destinados à sigla cerca de R$ 21 milhões. Nogueira opina que o fato de a legislação permitir que o próprio candidato doe para si pode desequilibrar a campanha.

Oposição

Após a desistência do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM) de disputar o governo, os partidos de oposição a Rui, sobretudo DEM e PSDB, lançaram pré-candidaturas. Mas há possibilidade de se unirem em uma única chapa. Articulações nacionais terão papel decisivo nisso.

O presidente do PSDB baiano e pré-candidato ao governo, João Gualberto diz que o PSDB já definiu que, do fundo eleitoral, 1/3 irá para a candidatura à presidência, 1/3 para candidatos a governador e senador e outro 1/3 para as proporcionais, sobretudo para federais”. A sigla tem como pré-candidato à presidência o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e deve ter R$ 173 milhões do fundo.

O partido deve definir, em junho, critérios “objetivos” para distribuição do terço que caberá às majoritárias e proporcionais nos estados. “O dinheiro deve ir para governador, senador e federais”. Gualberto pretende complementar a campanha com recursos próprios. “Mas vou apostar na doação de amigos. Vaquinha virtual, vou fazer tudo”.

O DEM baiano, que tem como candidato ao governo o ex-prefeito se Feira de Santana, José Ronaldo, aguarda as definições sobre candidatura à presidência, cujo pré-candidato é o deputado federal Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, e ao governo nos estados. “Será uma campanha modesta, com poucos recursos disponíveis”, diz o deputado federal José Carlos Aleluia, presidente estadual da legenda. O DEM deve ter em mãos R$ 85 milhões.

Para ele, a doação de pessoa física é boa ideia, não fosse “o grande empecilho” de expor o nome. “A publicização de doações pequenas foi um erro, é uma exposição desnecessária”. O caminho, diz ele, será “bater na porta, mobilizar lideranças”. Ele avalia que na Bahia será luta de Davi contra Golias, já que Rui Costa está com a estrutura de governo ao seu favor.

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