AtlasIntel esclarece decisão sobre pesquisa; Neto comemora Seculus | A TARDE
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AtlasIntel esclarece decisão sobre pesquisa; Neto comemora Seculus

Determinação do TRE-BA suspendeu pesquisa AtlasIntel-A TARDE porque instituto não divulgou bairros onde levantamento foi aplicado

Publicado quarta-feira, 20 de julho de 2022 às 08:00 h | Atualizado em 20/07/2022, 08:32 | Autor: João Guerra
ACM Neto, então prefeito, com o Presidente da República em encontro no ano de 2019
ACM Neto, então prefeito, com o Presidente da República em encontro no ano de 2019 -

De forma diferente do que o pré-candidato ao Governo do Estado pelo União Brasil, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, e seus apoiadores têm divulgado, a pesquisa AtlasIntel-A TARDE foi suspensa pela Desembargadora Zandra Anunciação Alvarez Parada, do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-BA), não pelo fato de a magistrada ter acatado a denúncia do partido, de que o levantamento se tratava de uma enquete sem fazer uso de metodologia científica adequada para apontar os resultados apresentados. De acordo com a decisão da Desembargadora, faltou ao estudo o detalhamento dos bairros nos quais a pesquisa foi aplicada.

“Verifica-se que não foi apresentada, nos termos acima destacados, a exigida informação complementar quanto os bairros abrangidos ou a área em que foi realizada a pesquisa, restringindo-se a listar apenas os municípios, conforme se depreende de consulta ao sítio eletrônico no TSE”, diz trecho da decisão da magistrada.

Sobre o assunto. em nota divulgada pela AtlasIntel, a empresa indicou que já complementou em juízo, dentro do prazo estipulado pela Justiça Eleitoral, a relação inicial de municípios submetida no sistema Pesqele com a listagem dos bairros e/ou áreas informadas pelos respondentes. A razão pela não inclusão inicial dessa lista se deu em decorrência da nossa leitura anterior sobre o conteúdo da referida norma legal, que cita a “área em que a pesquisa foi realizada,” sendo que a nossa pesquisa não foi efetivamente realizada dentro de uma área, mas de maneira remota.

Vale ressaltar que a ação movida pelo União Brasil contra a pesquisa AtlasIntel-A TARDE inicialmente foi proposta exclusivamente contra o instituto de pesquisa. Só apenas uma emenda da petição inicial corrigindo o erro grosseiro é que o A TARDE foi incluído como parte na representação junto ao TRE-BA.

Em conversa com o A TARDE, o CEO da AtlasIntel, Andrei Roman, destacou o detalhamento sobre os bairros não foi uma informação ocultada propositadamente para enviesar os resultados. Essa informação consta na base de dados brutos da pesquisa divulgada, que estava disponível para quem quisesse acessar.

“Essa não foi uma informação que ocultamos, está na base de dados e qualquer pessoa pode acessar a qualquer momento. Não foi colocado no registro por uma questão metodológica. Em pesquisas presenciais, você define onde vai enviar os entrevistadores, então faz sentido colocar o bairro no registro para garantir que a pesquisa tem um caráter aleatório. É bem diferente na web e telefone porque a seleção dos respondentes não é feita de maneira regional. Na pesquisa telefônica os números são aleatorizados e na web é aleatorizado a maneira de fazer o contato para que os respondentes sejam alcançados com uma chance aleatória”, explica Roman que diz esperar por uma decisão positiva da Justiça Eleitoral após a apresentação dos dados solicitados.

Sobre a alegação do União Brasil baiano, de que o levantamento AtlasIntel-A TARDE foi uma enquete que poderia ser respondida mais de uma vez por uma pessoa ou que a pesquisa pudesse ser compartilhada em plataformas de mensagens para que grupos de uma mesma filiação partidária respondesse, a Desembargadora não apontou esse viés em sua decisão e disse que a pesquisa impugnada obedeceu à quase totalidade dos requisitos do que determina a Justiça Eleitoral para a elaboração e divulgação de pesquisas eleitoral.

“À luz da legislação supracitada, observa-se que a pesquisa impugnada, a princípio, obedeceu à quase totalidade dos requisitos supracitados, conforme se infere do registro efetuado no Tribunal Superior Eleitoral tombado sob o número BA-02664/2022, não sendo manifesta, a priori, a hipótese de enquete invocada pelo acionante”, diz trecho da decisão da magistrada.

Ainda assim a AtlasIntel explicou em nota, a impossibilidade de a aplicação do seu levantamento como foi alegado pelo partido de ACM Neto. “Sistemas de segurança via verificação de tokens impedem que a pesquisa seja respondida pela mesma pessoa mais de uma vez ou que respondentes possam manipular os resultados através do compartilhamento do link do questionário em grupos de mensagens”, explica o instituto de pesquisa.

Ou seja, mesmo que uma pessoa tenha sido escolhida para responder o questionário da pesquisa e responda, se ela enviar esse mesmo questionário para um amigou ou parente, vai dar erro. Só a primeira resposta é que valerá.

Essa metodologia, cita a nota da AtlasIntel, assegurou destaque nacional e internacional a empresa pela qualidade dos seus estudos: melhor empresa de pesquisa no ciclo eleitoral dos Estados Unidos em 2020; melhor empresa de pesquisa nas eleições municipais no Brasil de 2020 em cada uma das cinco capitais onde pesquisas Atlas foram divulgadas no 2º turno: São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife e Porto Alegre; melhor empresa de pesquisa nos últimos três ciclos eleitorais da Argentina; melhor empresa de pesquisa no ciclo eleitoral presidencial da Colômbia em 2022.

“O descontentamento do União Brasil com o resultado dessa pesquisa é porque ela foi divergente das demais que estão sendo apresentadas na Bahia. Isso aconteceu porque na nossa metodologia colocamos ao lado do nome do candidato no questionário, o nome do partido ao qual ele pertence. Assim, muita gente pode não conhecer o candidato, mas associa ele com o partido e acaba optando por ele. Nesse caso específico, é possível ver a capacidade de transferência de voto que o ex-presidente Lula tem, pois os respondentes associam Jerônimo Rodrigues ao PT”, partido ao qual ele é filiado, argumentou Roman.  

Pesquisa Séculus comemorada por ACM Neto

Às vésperas do pleito em 2020, Seculus apontou números bem díspares com o resultado final de Itabuna
Às vésperas do pleito em 2020, Seculus apontou números bem díspares com o resultado final de Itabuna |  Foto: Reprodução
  

Nas redes sociais do ex-prefeito soteropolitano foi possível ver o pré-candidato ao Palácio de Ondina comentando indignado os índices demonstrados pela pesquisa AtlasIntel-A TARDE. Nessas mesmas plataformas, nesta terça-feira, 19, Neto e seus apoiadores comemoraram os resultados da pesquisa Séculus para o Governo da Bahia, que o colocam em larga vantagem na disputa eleitoral. Contudo, esse instituto que fez o levantamento que agradou o herdeiro do Carlismo tem um histórico de erros em levantamentos eleitorais.

Nas eleições municipais de 2020, em Itabuna, no sul do estado, a cinco dias de os itabunenses irem às urnas, a pesquisa da Séculos mostrou que três pretendentes ao governo grapiúna estavam tecnicamente empatados e que a eleição estava indefinida.

Tanto no cenário estimulado quanto no espontâneo, o atual prefeito a época Fernando Gomes (PTC), Augusto Castro (PSD) e Capitão Azevedo (PL) apareciam com números muito parecidos nas intenções de votos do eleitorado da cidade.

No dia 15 de novembro de 2020, no entanto, Augusto Castro (PSD) foi eleito pelos itabuneses com mais de vinte pontos percentuais a frente do segundo colocado. Castro ficou em primeiro, com 39,50% dos votos, Capitão Azevedo ficou com 17,22% e Fernando Gomes com 15,35%.

Em 2020, a Seculus foi alvo de matéria do Jornal A Região, de Itabuna, que noticiou o rosario de decisões e acusações contra o instituto:

“A Séculus tem uma longa lista de acusações de fraude e suspensão de suas pesquisas eleitorais. No dia 8 de outubro [de 2020] teve uma suspensa em Juazeiro, por usar questionário tendencioso, no qual apresentava a candidata Suzana com apoio de um ex-prefeito inelegível e citava os nomes isolados dos demais candidatos.

No dia 3 de outubro [de 2020], em Jussara, a pesquisa foii suspensa por falta de filtro no questionário, se o entrevistado é eleitor do município, campos de identificação, opções para votos brancos e nulos. Além disso havia divergências na estratificação de dados de sexo, renda, idade e escolaridade.

Em outubro de 2012, a Séculus teve pesquisa suspensa em Jequié, porque um oficial de justiça descobriu que o endereço de sua sede era “fantasma”. Além disso, a pesquisa não informava no registro plano amostral, ponderação quanto ao grau de instrução e nível econômico, nem a área física da aplicação dos questionários.

Em 2018, sua pesquisa foi suspensa em Morro do Chapéu por nomes errados de povoados onde foi realizada e a omissão do nome de todos os candidatos. Em outubro de 2012, uma pesquisa em Ilhéus, que dava empate entre Jabes Ribeiro e Carmelita, tinha várias irregularidades cometidas na coleta e divulgação dos dados.

Em setembro daquele ano já tinha um pesquisa suspensa em Ilhéus pelos mesmos problemas. Em Cachoeira, a Séculus teve uma pesquisa suspensa em 2012 e em junho deste ano, outra em Lagarto (SE), por não incluir nível de instrução, nível econômico, “disco” com os nomes dos candidatos, além de lista de resposta tendenciosa e erro ortográfico.”

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