MERCADO
De hotéis até casas de aluguel, São João estimula a economia
Com crescimento previsto de 7% este ano, os festejos juninos aquecem negócios nos municípios do interior
Por Claudia Lessa
A menos de um mês para o São João, os setores turístico, de hotelaria e de aluguel de casas por temporada nos municípios onde a festa junina tem forte tradição calculam um cenário otimista. Considerando ser o São João a maior festa popular do país, levando-se em conta que, só na Bahia, acontece fortemente em mais de 100 municípios, o Conselho Baiano de Turismo (CBtur) avalia que o crescimento dos festejos juninos no Estado em 2024 será diretamente proporcional ao do turismo baiano.
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“Nossa expectativa é que o São João da Bahia, deste ano, terá um aumento na faixa dos 7% em relação a 2023, mesma porcentagem que cresceu o turismo na Bahia em relação ao Brasil”, analisa o presidente da CBTur, Roberto Duran. O setor hoteleiro dos municípios que realizam o São João, por sua vez, já está aquecido. Em cidades concorridas, como Amargosa, Senhor do Bonfim, Santo Antônio de Jesus Amargosa, Ibicuí, Senhor do Bonfim, Cruz das Almas e Lençóis, a ocupação esperada em hotéis e pousadas é de 100%, conforme prevê a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia (Abih-Ba).
A Pousada do Bosque, localizada no município de Amargosa, por exemplo, está com suas 30 suítes (55 leitos) reservadas há dois meses, quando foram abertas as vendas dos pacotes para o período de 20 a 24 de junho, com valores entre R$ 3.500 e R$ 4.500. “Abrimos as vendas em 1º de março e no mesmo dia vendemos tudo, principalmente para nosso público-alvo, que é Salvador. Oferecemos um serviço de qualidade, que é o nosso diferencial e que faz com que nosso estabelecimento seja movimentado durante todo o ano”, revela o proprietário Adailson Cerqueira.
Na Pousada Dedé, em Santo Antônio de Jesus, o clima é de contagem regressiva para os festejos. “O São João é a data mais aguardada do ano! O mês de junho é diferenciado para nós. Nossas expectativas são as melhores para esta época do ano, quando nossa pousada fica cheia de gente animada para curtir o melhor São João do Recôncavo Baiano e o nosso município vibra de energia. Oferecemos um café da manhã delicioso, incluindo várias opções de alimentos típicos dessa festa maravilhosa”, relata a sócia Simarla Velame. Como este é um período em que a cidade recebe pessoas de todos os lugares, para atender a alta demanda, ela conta que, além de hospedagem, disponibiliza serviço de restaurante e lanchonete para o público externo.
Um dos mais tradicionais de Santo Antônio de Jesus, o Antonius Imperial Hotel também aposta em um São João concorrido. “Nossos pacotes já estão sendo vendidos desde abril e a expectativa é que, até o final deste mês já não tenhamos mais disponibilidade. Nossa localização e o atendimento são nossos diferenciais. Ficamos na praça principal da cidade, perto de restaurantes, do comércio local e, principalmente, da área da festa e todos esses deslocamentos podem ser feitos a pé”, relata Simone Soares, responsável pelo setor de reservas, ressaltando que o município foi beneficiado com a divulgação antecipada da grade de atrações da festa da prefeitura, que contará com nomes como Xand Avião, Flávio José, Safadão e Calcinha Preta, “que atraem o público que gosta de São João de verdade”.
Festa e renda
Muitas pessoas aproveitam a época em que aumenta a procura por hospedagem para alugar seus imóveis durante o período festivo, rendendo um faturamento extra que varia entre R$ 3 mil a R$ 15 mil, por três a quatro dias. Da mesma forma, quem vai curtir a festa no interior em grupo de amigos ou com família grande considera mais vantajoso locar uma casa. “O aluguel de casas movimenta a economia local, uma vez que nós devolvemos esse dinheiro para o comércio local, fazendo girar a economia. O São João em si já causa um grande impacto na economia”, avalia a funcionária pública Nuza Cardoso, que coloca sua residência para aluguel há 20 anos.
Dona de uma ampla casa em Amargosa, com acesso por duas entradas distintas; quatro quartos, sendo três de casal; dois banheiros; duas salas; uma varanda; e duas cozinhas (uma externa, junto à área de lazer), com capacidade para até dez pessoas, incluindo crianças, Nuza conta que decidiu alugar sua residência quando viu a possibilidade de, com o dinheiro extra, fazer pequenas melhorias e/ou reformas na residência. A experiência foi bem-sucedida e, desde então, passou a alugar todos os anos, nesta época.
“As pessoas que alugam sempre saem satisfeitas, e nós também. É muito boa essa satisfação mútua”, diz Nuza. O clima junino, completa, já está tomando conta da cidade. “Tanto os moradores, como os turistas aguardam ansiosos a divulgação da grade de atrações e a decoração pública para os dias de festa. Acredito que, este ano, o São João seja ainda mais marcante, já que, no ano passado, ainda estávamos nos recuperando da pandemia”.
O técnico em Redes de Computadores, Antonio Marcos Braga, é outro cidadão amargosense que também opta por alugar sua casa, na época do São João. Ele conta que ainda está finalizando uma pequena reforma para disponibilizar o imóvel. “Alugo todos os anos, geralmente, para 12 a 15 pessoas, que me contatam diretamente. O pessoal que alugou em 2023 já está aguardando meu sinal”, relata, contando, ainda, que o dinheiro que recebe do aluguel, normalmente, investe na própria residência.
Há quem prefira entregar seu imóvel a profissionais do ramo. A corretora de imóveis Rosane Almeida, que atua na região de Amargosa, revela que já chegou a locar 40 casas por temporada junina, antes da pandemia da Covid. “Mas, este ano, a expectativa é de alugar uns 15 imóveis. Faço meu trabalho com muita atenção e responsabilidade, só que hoje em dia a concorrência entre os colegas que fazem corretagem no São João aumentou bastante, bem como os preços por temporada”, justifica.
Negócios em torno dos festejos juninos vão movimentar mais de R$ 1,6 bilhão
A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis da Bahia (Abih-Ba) acredita que as receitas que serão geradas, em 2024, com hospedagem, transporte, alimentação e comércio, durante o São João, ultrapassem as obtidas nos festejos juninos de 2023, que foram cerca de R$ 1,6 bilhão. “Para diversas localidades do interior com tradição da festa, este é o período de maior procura e movimento. A expectativa de negócios para este ano é que esses números sejam superados”, afirma Thiago Sena, diretor de Relações Institucionais da ABIH-BA.
Para os municípios maiores, que possuem mais oferta de meios de hospedagem, a busca se intensifica sempre a partir de abril e maio. Mas mesmo essas localidades com tradição de São João têm uma oferta limitada de hotéis, pousadas e albergues, sendo insuficientes para atender a grande demanda do período. “Portanto, as vagas se esgotam com muita antecedência. No ano passado, as cidades mais buscadas tiveram 100% de ocupação e a expectativa para esse ano é a mesma”, avalia o representante da Abih, destacando que deverá haver, também, um fluxo maior de turistas de fora da Bahia, “já que o São João tem sido divulgado com mais intensidade para as cidades emissoras de turistas em outros estados”.
A Associação Brasileira de Agências de Viagens da Bahia (Abav) também avalia que o setor terá um desempenho positivo. “A nossa festa junina acontece, praticamente, nos 417 municípios e o Governo da Bahia está indo nos principais polos para fazer a divulgação dos festejos baianos. Inclusive, na semana retrasada, a equipe do governo estadual foi em São Paulo e apresentou o São João baiano para mais de 200 agentes de viagem. Temos a certeza de que, depois do Carnaval, o São João é o festejo preferido”, avalia o presidente da Abav, Jean Paul Gonze. Nas cidades mais procuradas, como Amargosa, Senhor do Bonfim e Cruz das Almas, o dirigente da entidade ressalta que “se torna difícil conseguir uma hospedagem durante o período do evento”.
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