Adversários apostam em isolamento para tentar vencer Zé Cocá | A TARDE
Atarde > Portal Municípios > Centro Sul Baiano

Adversários apostam em isolamento para tentar vencer Zé Cocá

Candidato escolhido por Antonio Brito deve ser o principal oponente do atual prefeito jequieense

Publicado sábado, 10 de junho de 2023 às 06:00 h | Autor: João Guerra
James Meira (PL), Zé Cocá (PP) e candidato indicado por Antonio Brito (PSD) devem protagonizar a disputa eleitoral em Jequié no próximo ano
James Meira (PL), Zé Cocá (PP) e candidato indicado por Antonio Brito (PSD) devem protagonizar a disputa eleitoral em Jequié no próximo ano -

A 16 meses do próximo das eleições municipais, o próximo pleito eleitoral em Jequié, cidade localizada a 375 Km de Salvador já tem os agentes políticos que deverão disputar o executivo municipal bem definidos.

De um lado, o atual prefeito Zé Cocá (PP) já se coloca como pré-candidato à reeleição, do outro, um postulante do grupo comandado na cidade pelo deputado federal Antonio Brito (PSD) deverá ser o principal opositor ao atual prefeito.

Além disso, corre por fora, um coadjuvante com potencial de roubar a cena, como quase aconteceu em 2020, com o principal expoente do bolsonarismo na cidade, James Meira (PL).

Para entender as primeiras movimentações político-partidárias na Cidade Sol, o Portal A TARDE foi conversar com alguns dos principais players do tabuleiro político jequieense em busca de desvendar como que a disputa eleitoral na cidade se desenrolará pelos próximos meses. 

Provação para Cocá

Caso a eleição se desenhe de forma polarizada em Jequié, como costuma acontecer nas cidades onde não há segundo turno, o pleito ganhará ares de “plebiscito”, ou seja, de confirmação ou não da atual gestão de Zé Cocá e na sua popularidade junto à população, e é nisso que o mandatário jequieense aposta. 

Em contato com a reportagem, o prefeito disse que colocou como condição se recandidatar se isso fosse um chamamento dos moradores da cidade, o que, segundo ele, tem acontecido. 

"Eu digo sempre, eu só sou candidato se for um chamamento da população. Caso não seja, irei respeitar. Então, se continuar como está, que tudo deduz pra isso e graças a Deus estamos trabalhando, trabalhando muito, serei sim candidato à reeleição pra continuar esse trabalho que mudou a cara de Jequié”, afirma.

Soma-se a favor do pepista a base sólida que tem na Câmara de Vereadores da cidade, com 15 dos 19 edis compondo sua base, o que permitiu, junto com emendas parlamentares e fundos do próprio município, fazer de Jequié um verdadeiro campo de obras e que legislasse sem oposição.

Zé Cocá foi eleito em 2020, contudo, em um outro contexto. Na ocasião, ele era o candidato que representava os anseios do grupo político do governo estadual na cidade e tinha o aval do então governador Rui Costa (PT) e da ex-primeira-dama, Aline Peixoto, que é natural de Jequié.

A vice-prefeita indicada para compor a chapa com o atual prefeito jequieense foi a enfermeira Poliana Leandro (PT), que tem ligação com a atual conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia (TCM/BA).

Prefeito de Jequié, Zé Cocá (PP) busca reeleição
Prefeito de Jequié, Zé Cocá (PP) busca reeleição |  Foto: Divulgação | ALBA
 

Em 2022, entretanto, esse cenário de ligação entre Rui e Cocá, que já vinha se desgastando desde o segundo semestre de 2021, desandou de vez.

De acordo com o prefeito, o motivo para a ruptura foi uma pretensa articulação feita pelo grupo do então ocupante do Palácio de Ondina para que Patrick Lopes (Avante) e Antonio Brito (PSD) tivessem o apoio no pleito de 2022 para, respectivamente, a Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) e a Câmara Federal.

O mandatário jequieense, contudo, já havia se comprometido em apoiar as candidaturas a deputado estadual de Hassan Iossef (PP) e do deputado federal Leur Lomanto Jr. (União Brasil).

Em 2022, com o rompimento do PP com o PT, capitaneado pelo então vice-governador João Leão (PP), Zé Cocá foi um dos prefeitos do partido que se mantiveram leal a Leão e migraram para a base de apoio à candidatura do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) ao governo estadual. 

Por esse motivo, o que pesa contra Cocá no meio político é a pecha de “traidor” por ele não ter seguido firme no apoio de quem o ajudou a se eleger em 2020. Fama essa que o prefeito rechaça 

“Eu tenho uma admiração muito grande pelo ex-governador Rui Costa, inclusive disse isso quando saí do grupo, o que fiz por um chamamento do, naquele momento, líder João Leão, que era um cara que eu tinha sempre uma relação muito maior do que com qualquer outro. Mas respeito o ex-governador e já falei que, para mim, [Rui Costa] foi o maior governador da minha geração. Porém, não poderia deixar naquele momento de ficar com Leão. Como a política aqui é local e o povo vai ver quem tem a maior força, quem tem a maior introdução de futuro localmente, eu acho que isso aí [o rompimento com o ex-governador do estado] não vai interferir”, avalia o prefeito.

Sobre a relação com o atual governador, Jerônimo Rodrigues (PT), a possível volta do PP para a base do governo, e a mudança do comando da sigla, com a saída e Leão e a chegada do deputado federal Mário Negromonte Jr. como presidente da legenda, Zé Cocá disse que as portas estão abertas para o diálogo, mas que não tomará nenhuma decisão de forma individual e sim coletivamente, com os seus co-partidários.

“O governador Jerônimo está aí. Não existe hoje uma aliança nossa no governo, mas o futuro só a Deus pertence. Eu disse que sou partidário, mas não irei discutir com o governo antes de o meu partido discutir. Se houver condição do partido conversar com o governo, estaremos juntos nessa conversa também, iremos respeitar e iremos pra eleição”, destaca Cocá. 

Com o rompimento do prefeito com a base do governo do estado, uma das consequências é o espaço de vice de Zé Cocá para o próximo pleito, já que a atual vice-prefeita é do PT e deverá se manter na oposição em 2024 conforme confirmou ao Portal A TARDE.

Perguntada se a sigla vai lançar candidato na cidade, Poliana adotou o discurso de praxe que o Partido dos Trabalhadores tem adotado para afirmar que os seus postulantes nascerão da vontade de um grupo político e não apenas do partido. 

“Nós temos uma junção política que tem o PV, o PCdoB, o PT, o PSD, o Avante e alguns outros partidos. Estamos em conversa e desse grupo político deverá sair o candidato que irá concorrer com Zé Coca nas próximas eleições do município”, aponta a vice-prefeita, salientando que a política é dinâmica e que o cenário pode mudar nos próximos meses. 

Poliana Leandro, vice-prefeita de Jequié
Poliana Leandro, vice-prefeita de Jequié |  Foto: Divulgação
 

Nesse contexto de vacância no posto de companheiro de chapa de Zé Cocá, uma das possibilidades discutidas no meio político da cidade, é a uma possível indicação do PDT.

O presidente estadual da sigla, oédeputado federal Félix Mendonça Jr., disse recentemente que mantem conversas iniciais sobre um possível apoio ao chefe do Executivo jequieense, mas não confirmou se isso passa pela indicação na chapa.

Dentro da Câmara do município, o partido ocupa a segunda maior bancada, com três vereadores, ficando atrás apenas do PP e PSD, que têm quatro. Dentre os pedetistas da Casa Legislativa jequieense, está o vereador Ramon Fernandes, filho de um dos caciques políticos da região, o deputado estadual Euclides Fernandes (PT). 

Unidade para vencer

Procurado para comentar os indícios que a política eleitoral de Jequié dá para 2024, Euclides explica que, apesar da distância entre o hoje e o tempo da campanha, a oposição só deverá ter êxito na disputa contra Zé Cocá se conseguir unir a base em torno de uma candidatura.

“A nossa leitura é que haverá um confronto se o governo do estado manter uma posição clara, de unidade nos grandes municípios, como Feira de Santana, Itabuna, Vitória da Conquista e Jequié, que é considerado também um grande município, em uma movimentação no sentido de construir uma base político-eleitoral, não só da federação [PT, PV e PCdoB], mas com os outros partidos, com, por exemplo, a presença do deputado Antonio Brito [PSD], que é muito forte em Jequié. Mas esse posicionamento é o de hoje e isso pode mudar. Daqui um ano, quando acontecerem as convenções, pode ter uma outra estrutura montada”, avalia.

“Se houver essa junção da base do governo em Jequié, teremos uma eleição disputadíssima, no sentido de que qualquer lado poderá ganhar as eleições. Não há dúvida que o atual prefeito é um candidato fortíssimo e, se o governo não construir uma base, vai ter um caminho facilitado nas urnas”, destaca o deputado. 

O PSD de Antônio Brito deve ser, de fato, o principal opositor de Zé Cocá em 2024, com o apoio do governo do estado. Brito, nas últimas visitas a Jequié e nas entrevistas que dá, tem subido o tom contra a gestão de Cocá.

No Carnaval, em conversas com jornalistas, chegou a chamar Cocá de “traidor” e desde aquela época já afirmava que o PSD teria candidato na disputa jequieense no próximo ano, podendo inclusive ser ele na disputa.

A favor de Brito, pesa o grande capital político na cidade. Em 2022, ele foi o deputado federal com mais votos em Jequié: 26.079 votos. Além disso, no mesmo ano, o parlamentar foi responsável pela coordenação da campanha vencedora de Jerônimo na cidade.

“Fui oposição a Zé Cocá desde o início e quando o mesmo traiu o governador Rui Costa. Fomos firmes e eu conduzi a campanha de Jeronimo que saiu vitoriosa em Jequié. Agora, o grupo vai se unir para que possamos fazer um amplo debate para ter o nome. Estou na liderança do partido e seria um sonho ser candidato em Jequié”, afirmou Brito na ocasião.

Brito garante oposição contra Cocá em 2024
Brito garante oposição contra Cocá em 2024 |  Foto: Divulgação
 

Em 2024, o deputado pode enfim conseguir concretizar a vontade de indicar o seu cunhado, Alexandre da Saúde (PSD), como o seu candidato. Em 2020, era essa a intenção de Brito. Contudo, por causa de uma proibição da legislação eleitoral, não conseguiu fazer isso e precisou indicar outro nome, Dr. Fernando, de última hora. O candidato acabou ficando em terceiro lugar na disputa, com 22,91% dos votos. 

O anseio de Brito não pôde se concretizar na última eleição municipal porque o irmão de Alexandre da Saúde, o hoje deputado estadual Hassan Iossef (PP), que na época era vice-prefeito de Jequié, precisou assumir a prefeitura por conta do afastamento do então prefeito, Sérgio da Gameleira (PSB), o que tornou Alexandre inelegível para a Justiça Eleitoral por conta do parentesco com Hassan. 

Ainda que Brito não tenha batido martelo, Alexandre da Saúde deve ser anunciado em breve como o pré-candidato do partido em Jequié.  A sigla se reuniu na sexta-feira, 9, no município tendo como principal ponto de encontro o posicionamento da legenda em relação às eleições de 2024.

Nem tão azarão assim

Outro agente político que promete mexer no tabuleiro político é o servidor público James Meira (PL). Em 2020, quando se candidatou pelo Patriota, James, no auge do bolsonarismo, se apoiou na força do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e no anti-petismo e quase foi eleito, alcançando a marca de 27.407 votos, menos de 3 mil votos na comparação com Zé Cocá.

Em 2022, já no PL e candidato a deputado estadual, James teve 6.770 votos e foi o terceiro nome para a Alba mais votado em Jequié, ainda que não tenha sido suficiente para elegê-lo para a Casa Legislativa baiana. Com o resultado, ele ficou com a sétima suplência. 

Isso, no entanto, não esmorece o bolsonarista, que já mira 2024 em Jequié, seja na cabeça de chapa ou na composição com outros partidos de centro-direita.

“Essas duas votações expressivas nos permitem pensar em um projeto futuro pra 2024. Isso passa rá obviamente pelas conversas com João Roma, o nosso líder estadual. O presidente Bolsonaro tem a intenção de fazer muitos prefeitos pelo Brasil, então, embora seja um assunto em aberto, o nosso nome está à disposição para sempre, da vontade de nosso povo e dos nossos líderes", destaca.

O servidor público salienta ainda que, apesar de se sentir pronto para ser candidato mais uma vez, o projeto da direita é mais amplo.

“A nossa preocupação hoje é de construirmos dentro de Jequié um projeto já lastreado por 2022 e 2020, mas que cresça e agregue outras figuras que talvez não tenham estado conosco nos últimos pleitos e que, sobretudo, seja considerado como um grupo político que vem representando os segmentos da direita, o segmento conservador”.

Meira lembra ainda da importância e do tamanho do PL. O partido saiu de 2022 com a maior bancada da Câmara dos Deputados e isso reflete tanto no quesito do Fundo Eleitoral quanto no tempo de rádio e TV. A sigla, portanto, deve ser sondada por parcerias nas principais cidades baianas, dentre elas, Jequié. 

Por esse tamanho do partido, qualquer decisão, afirma James, precisa levar em conta o que o presidente estadual da sigla, João Roma (PL), tem de projeto para o estado, incluindo alianças partidárias locais e pontuais. 

“Qualquer decisão que nós tomemos em relação a majoritária numa cidade da importância de Jequié, é preciso passar por João Roma. Essas discussões a gente trata primeiro com João e depois a gente desce pra Jequié pra conversar com representantes de outros partidos. Desejamos e estamos abertos para alianças da centro direita na Bahia inteira, mas não tivemos conversas efetivas nesse sentido ainda”, ressalva.

James Meira ao lado de João Roma durante as eleições de 2022
James Meira ao lado de João Roma durante as eleições de 2022 |  Foto: Divulgação
 

Na segunda-feira, 5, Meira esteve em reunião com Roma, o deputado federal Capitão Alden (PL) e outras lideranças do PL de Jequié e Ilhéus para debaterem os rumos da legenda. Segundo ele, esses encontros têm acontecido de forma quinzenal.

Sobre a forma como avalia a gestão de Cocá, James faz elogios pontuais, mas critica a falta de ampliação do cuidado com a cidade, com a periferia do município e o que chamou também de “falta de transparência” do atual governo municipal.

“Nós tivemos uma sequência de gestões muito ruins. Então, a cidade estava realmente carecendo de muita coisa. O prefeito de Jequié tem feito um bom trabalho no Centro da cidade em relação à estética. A cidade está mais bonita, mais agradável. O ambiente de cidade melhorou bastante. No entanto, nas periferias, o trabalho do prefeito deixa muito a desejar. Um outro ponto que precisa ser dito também é que nós acompanhamos a gestão do prefeito do ponto de vista do Diário Oficial quanto do ponto de vista das prestações de contas no TCM e a gente tem encontrado muitos problemas que qualquer hora podem eclodir e trazer repercussões negativas", pontua.

Sobre se terá vida mais fácil contra Cocá em 2024 do que teve em 2020, quando o pepista teve o apoio do governador, James lembra que o seu adversário só saiu vencedor por causa da intervenção direta de Rui no pleito e que plantou “sementes muito ruins de traição política”.

“O prefeito está sendo tratado conforme aquilo que ele plantou. Ele plantou sementes muito ruins de traição política. E tem um ditado que diz que "na política perdoa-se a traição, mas não o traidor". Ele ganhou a eleição de 2020 por conta principalmente da força do governo do estado. O governador foi duas vezes em Jequié naquele pleito. Em 2016, mesmo com candidato do próprio partido, o governador não foi lá. Então, duas vezes o governador esteve em Jequié, virou o jogo e conseguiu a vitória pra esse prefeito, que sai ano passado atirando no então governador. Também não são boas as relações dele com outras lideranças políticas locais, então, do ponto de vista das alianças, a gestão está muito comprometida".

Publicações relacionadas