SALVADOR E RMS
Aumento nos casos de afogamento preocupa com o Verão
Em 2022, foram registrados 978 casos, que corresponde a um aumento de 29,7% em relação ao ano de 2021
Por Rafaela Souza

Com as altas temperaturas do verão, as praias ficam lotadas e a probabilidade de afogamentos também aumentam nas praias de Salvador e Região Metropolitana. Em 2022, foram registrados 978 casos, o que corresponde a um aumento de 29,7% em relação ao ano de 2021. Já em janeiro deste ano, foram notificadas 169 ocorrências de resgate por afogamento.
Os dados, divulgados pela Coordenadoria de Salvamento Marítimo (Salvamar), órgão vinculado à Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), levam em conta registros sem mortes ocorridos nas áreas de atuação da Salvamar, que monitora os trechos entre as praias de Jardim de Alah e Ipitanga (próximo ao kartódromo), além da Ilha de Ponta de Nossa Senhora e Ilha de Maré.
Coordenador da Salvamar, Kailani Dantas conta que há uma previsão de aumento dos casos de afogamento por conta da flexibilização da pandemia de Covid-19 e maior movimento de banhistas nas localidades, inclusive de turistas. No entanto, ele alerta à necessidade de respeitar as medidas de segurança e se atentar às bandeiras de sinalização instaladas pelo órgão. Segundo ele, os casos são mais frequentes entre homens e adolescentes entre 14 e 17 anos.
“Primeiramente, os banhistas precisam respeitar as sinalizações que estão nas praias. Em caso de dúvida, pode perguntar ao profissional para saber o local indicado para banho, onde estão as correntes de retorno, evitar consumir bebidas alcóolicas e ir para o mar, estar sempre a distância de um braço e não perder contato visual com as crianças por conta do risco de perda e afogamento. Evitar tomar banho em locais com pedras e corais porque eles têm uma corrente de retorno mais acentuada e aumentam o risco de afogamento. É importante não se expor sem saber onde está entrando”, recomendou Dantas.
As bandeiras da Salvamar informam sobre os riscos na área das praias, conforme o modelo nacional proposto pela Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa). Atualmente, a sinalização conta com quatro bandeiras: verde (baixo risco), amarela (médio risco), vermelha (alto risco) e roxa (animais marinhos). Anteriormente, apenas eram usadas as bandeiras amarela e vermelha, que indicavam atenção e perigo, respectivamente.
"A maioria dos afogamentos podem ser evitados. É importante que os banhistas evitem áreas sinalizadas com a bandeira vermelha, por conta do alto risco. As bandeiras verdes vêm com a intenção de sinalizar o local adequado para o banho, com maior segurança. Já as bandeiras roxas servem para alertar sobre a presença de animais marinhos. Por exemplo, existem períodos em que as praias são infestadas por caravelas que podem causar acidentes e queimaduras", explicou.
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Dantas destaca que, por conta do maior movimento nas praias, o órgão está promovendo a operação Praia Segura, que consiste na distribuição de mais agentes nos pontos de cobertura.
"Com a operação, estamos conseguindo colocar mais efetivo nos finais de semana e feriado nas praias para tentar prevenir e diminuir os afogamentos. A ação vai ocorrer durante todo o ano. A Salvamar vem com esse reforço positivo montando alguns outros pontos dentro do nosso trecho habitual e reforçando pontos onde seja necessário ter mais efetivo e estudando a ampliação para outros pontos da cidade", completou.
Recomendação
A estrutura de atuação é composta por moto aquática, pranchões, pés-de-pato, máscaras de mergulho, respiradores, capacetes e botes. Os salva-vidas também realizam ações preventivas, educacionais, de orientação e de salvamento em ambientes aquáticos, evitando afogamentos e preservando a vida de quem estiver em perigo.
“A recomendação é procurar o salva-vidas para pedir ajuda. Provavelmente, terá um posto próximo, tentar sinalizar que tem uma ocorrência. Caso seja em algum local distante do ponto de cobertura, que não tenha um agente, é tentar buscar um objeto flutuante, uma garrafa pet fechada, uma tampa de isopor, uma bola de futebol para tentar jogar para que essa pessoa possa tentar segurar e com isso cessar o risco do afogamento. Essa medida reduz a chance dela afundar porque ela vai estar flutuando. Aí é aguardar o salva-vidas ou alguém treinado para tal para fazer o resgate do banhista”, pontua Dantas.
Em caso de emergência, além do contato direto com os profissionais nas praias, o serviço pode ser acionado através do número (71) 3363-5333. Já nas demais praias fora do trecho Jardim de cobertura da Salvamar, o contato deverá ser feito com o Grupamento Marítimo (Gmar), do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, pelo número 193.
O cabo Vitor Mendson, do Gmar, do Corpo de Bombeiros, recomenda que os banhistas precisam priorizar locais que tenham salva-vidas próximos e evitar subir em pedras para tirar fotos. "A gente tem o lema que água no umbigo é sinal de perigo. Então, se a pessoa não sabe nadar e não tem afinidade com água, é preciso respeitar os limites, ter cuidado com a profundidade”.
Médico e coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Ivan Paiva enfatiza que, em casos de afogamento, é crucial aguardar o suporte especializado para retirar o banhista da água. Isso porque, segundo ele, a falta de preparo e técnica podem vitimar mais pessoas.
"Os casos mais comuns, quando a gente fala em afogamento, é uma pessoa tentar ajudar sem ter os equipamentos e as técnicas adequadas, e morrerem as duas por conta do afogamento. É muito comum uma pessoa estar se afogando e a outra vir em sua direção e, pelo próprio reflexo, segurar nessa pessoa e empurrá-la para baixo. Então, se você não tiver o preparo e técnica adequada, pode terminar se afogando junto", apontou.

O Samu também pode ser acionado através do número 192 para atender as vítimas de afogamento. Ainda de acordo com o coordenador, o serviço oferece à equipe o Curso de Emergências Aquáticas, que possibilita o aprendizado de técnicas adequadas para o atendimento desse tipo de ocorrência.
“Existe uma classificação mundial em seis graus de afogamento, onde existe você tem o grau um, que é mais leve e que a pessoa é liberada na praia pelos salva-vidas após o resgate. Mas também temos casos mais graves, onde a vítima tem algum comprometimento, como em alguns casos onde há perda da consciência, dificuldade de deglutir. Aí é necessário um acompanhamento médico e o Samu é acionado para dar o suporte. Às vezes, é necessário fazer uma intubação ali na praia mesmo. É importante que o atendimento seja feito da forma mais rápida possível”, frisou.
Prevenção
O coordenador do Samu ainda ressalta que os casos de afogamentos podem ser reduzidos através da prevenção e alerta para os cuidados com as crianças em ambientes aquáticos. Para ele, uma pequena desatenção dos pais e responsáveis pode ser suficiente para uma criança perder a vida.
"A prevenção é sempre estar atento a fatores potenciais de risco, principalmente, envolvendo crianças. A piscina tem que ser coberta e isolada por uma grade que esteja fechada, além de ficar sob vigilância das crianças em ambientes desconhecidos onde tem fonte, tanques. É importante manter as crianças dentro do campo visual", afirma.
Paiva ainda reforça a importância do uso do colete durante passeios e viagens em embarcações tanto para as crianças, quanto para os adultos. O coordenador do Samu também alerta para o perigo de saltos durante o mergulho.
"O colete salva-vidas é necessário mesmo para quem sabe nadar, até mesmo se vai viajar, passear em uma embarcação. É importante a utilização do colete e conhecer o local onde você vai estar se banhando, saber as condições porque a gente ainda tem um fator associado que é o que a gente chama de mergulho raso, quando as pessoas se jogam de cabeça na água. Você não sabe se aquele lugar tem um banco de areia, uma pedra", adverte.

Assim como Paiva, o cabo Mendson faz um alerta para o aumento dos casos de afogamentos de crianças durante a pandemia. Conforme a Sobrasa, o afogamento infantil se tornou a primeira causa de óbitos no país entre crianças de 1 e 4 anos de idade.
"O número de afogamentos aumentaram por conta da maior permanência das crianças no ambiente doméstico, nas residências. Embora, muita gente pensa que o maior risco está nas praias. Isso acontece não só em piscinas, mas em banheiras, baldes, caixas d'águas. Por isso, é importante seguir as recomendações de segurança para evitar cenários como esse. A atenção com a criança tem que ser integral", reforçou Mendson.
O cabo ainda diz que, além do isolamento das piscinas com cercas e uso dos ralos anti-sucção, não é seguro manter boias e brinquedos infláveis na água, pois podem chamar a atenção das crianças.
"Qualquer ambiente aquático com presença de criança precisa de supervisão. Nas piscinas e praias, os adultos devem estar a um braço de distância das crianças. Não é recomendado o uso daquelas braçadeiras, bóias com furo no meio. Esses objetos podem escorregar e se soltar com facilidade. O que é recomendado é o uso do colete de espuma com as travas de segurança, que não tem o risco de furar e soltar", finalizou.
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