ORGULHO LGBTQIAPN+
Amor que une: mulher trans realiza sonho de ser mãe e de amamentar
Foi o pai, um homem trans, quem engravidou e gestou as crianças por sete meses
Por Andrêzza Moura

As gêmeas Rayssa e Rayandra, de 1 anos e 11 meses, são frutos do amor da servidora pública, Develyn Almeida Santos, 27, mulher trans, e do auxiliar de pintura automotiva, Pyetro Kauê Barbosa Pereira, 22, homem trans. Juntos há sete anos, o desejo de aumentar a família era um sonho antigo do casal, realizado em 29 de julho de 2023.
As meninas, concebidas de forma natural, nasceram no Hospital Estadual da Criança (HEC), em Feira de Santana, a115 km de Salvador.

A experiência da maternidade vivida por eles em cada detalhe, desde a concepção das gêmeas, é uma prova viva de que o amor familiar transcende barreiras e floresce além de rótulos sociais e identidades de gênero.
Isso porque foi Pyetro, o pai, quem gestou as filhas em seu ventre durante sete meses, e Develyn, a mãe, quem as amamentou até os seis meses de vida.
“Foi um sonho, na verdade. A gente sempre teve, desde o início da relação, o sonho de ter um filho. Na verdade, seria Arthur [nome escolhido caso fosse pais de um menino]. Só que aí Arthur ficou para trás e deu lugar às meninas. É Plano de Deus! Deus cuidou de tudo!”, contou Develyn, entre risos, aos Portal A TARDE.

Apesar de enfrentar uma gravidez delicada, por ser gemelar, Pyetro comemora o fato de ter realizado o grande sonho da vida ao lado da esposa.
“Minha gestação foi maravilhosa, era um sonho meu, desde os 16 anos, em ser pai. Meu e de Develyn. Graças a Deus, realizamos. Não amamentei as bebês, poque não me senti confortável, Develyn fez o tratamento para poder amamentá-las”, explicou ele.
“A experiência de ser pai é uma coisa única. Elas são meu xodó, a cura do meu mundo, como costumo dizer. Porque elas me mudaram pra um cara melhor, me fez enxergar a vida com mais clareza e leveza”, concluiu o pai de primeira viagem.
Transgestantes
A gravidez de Pyetro foi toda acompanhada por equipes do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids (CEDAP) e da Maternidade Climério de Oliveira - unidade referência, em Salvador e na Bahia, no atendimento a pessoas transgestantes, através do programa "Transgesta". Foi na Climério também que Develyn fez o tratamento de indução da lactação para amamentar as filhas.

Develyn e Pyetro nasceram em Tapiramutá, no centro-norte da Bahia, e, há anos, são pacientes do Cedap. Foi a falta de estrutura hospitalar especializada na cidade onde moram, mas principalmente, a relação de confiança com as equipes do centro, que os fizeram optar em fazer todo acompanhamento pré-natal, em Salvador.
“O município não oferece um apoio digno para pessoas trans, no sentido de conhecimento. Então, a gente optou, escolheu fazer o acompanhamento no Cedap, onde a gente já vinha recebendo acompanhamento há muito tempo. Todo o pré-natal foi no Cedap e lá nos encaminharam para a Climério”, reafirmou a mãe.

“Tanto Develyn, quanto Pyetro Kauê são pessoas trans acompanhadas pelo Ambulatório Trans do CEDAP. Ele conseguiu dar conta de engravidar, de gestar, e de fazer o pré-natal, todo o processo cuidadosamente feito lá na maternidade Climério de Oliveira, mas não se sentia confortável para amamentar. Então, a melhor possibilidade era que Develyn fizesse a indução, a lactação, para que pudesse amamentar as crianças”, explicou Ailton Santos, coordenador do Ambulatório Trans.















Orgulho LGBTQIAPN+
No último sábado, 28 de junho, foi celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ e, na oportunidade, em conversa com o Portal A Tarde, Develyn compartilhou o desejo de viver livremente o amor com o marido, Pyetro, e de poder criar as filhas em uma sociedade digna e que abrace a diversidade familiar com respeito e empatia.
Para ela, o que falta, de fato, nas pessoas é reconhecerem que o afeto e a união são os verdadeiros alicerces de qualquer família, independente de gênero, identidade, cor e raça.
“Gostaria que fossemos tratados com respeito, em primeiro lugar, dignidade e inclusão da gente na sociedade, não só em Tapiramutá. Porque as meninas vão crescer e eu não quero que minhas filhas cresçam em um lugar onde as pessoas não têm o amor com a nossa família. Que alguém possa, por exemplo, querer impor ou falar alguma coisa relacionada a que eu não sou a mãe, que Pietro não é o pai. Fazer transtorno mental na cabeça das meninas, esse é o meu maior medo”, expôs Develyn.

“Então, eu acho assim, o que eu pediria a sociedade era mais amor, mais empatia, se colocar no lugar do outro, até mesmo porque Deus ama todos da mesma forma”, finalizou ela.
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Serviço
Ambulatório trans/ CEDAP: Rua Comendador José Alves Ferreira, 240 - Garcia
• Contato: (71) 3116-8888
• Funcionamento: Segunda a sexta-feira
Maternidade Climério de Oliveira: Rua do Limoeiro, 137 - Nazaré
• Contato: (71) 3283-9200
• Funcionamento: 24 horas
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