BASTIDORES DA MORTE
Empresária apoiada por Sthe Matos vira florista de funerais e diz ver espíritos
Em 2020, Vanda fechou as portas da empresa que mantinha e, hoje, trabalha como coroeira
Por Andrêzza Moura

Por quatro anos, a empresária Vanda Melo de Abreu, 51 anos, comandou a VM Flores e Decorações. Floricultura, que funcionava na Rua das Pitangueiras, em Brotas, até 2020, quando a pandemia da Covid-19 se instalou no mundo e obrigou o fechamento das portas. Sem saber o que fazer, Vanda precisou se reinventar e, na busca por uma saída, encontrou o apoio da blogueira Stephanie Matos, que divulgou o seu trabalho e impulsionou as vendas. Cinco anos depois, a rotina de Vanda está ligada aos mortos, mais precisamente trabalhando como florista funerária, onde ela afirma até ter avistado espíritos.
"Tinha uma floricultura, portas abertas. Quando veio a pandemia, tive que fechar porque era aluguel e não tinha condições de mantê-la fechada. Então, eu comecei a trabalhar online. Ela [Stephanie] me ajudou muito, na época. Ela é uma pessoa super humilde, uma pessoa maravilhosa", lembrou a empresária, que, ainda hoje, mantém a empresa funcionando na internet.
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Vanda conta que sua vida sempre foi marcada por muitas lutas e recomeços e, neste momento da vida, não seria diferente. Há dois meses, ela decidiu se desafiar, mais uma vez, e encarar uma nova profissão. Agora, além de empresária no ramo da floricultura, é também coroeira - profissional responsável por fazer as coroas usadas nos enterros. Ela trabalha em um laboratório funerário.
"Eu nunca me imaginei vindo trabalhar onde tinha mortos. Mas, na vida, a gente tem que superar tudo. Até o medo que a mente cria, de a gente achar que os mortos fazem mal. Mas, é tranquilo. Estou me dando bem, super bem. Adorando ser coroeira",
Vanda confessa que, quando chegou ao laboratório, indicada por uma amiga, tinha receio de ter de ficar em um ambiente com várias pessoas mortas. No entanto, a curiosidade e a vontade de aprender, foram mais fortes que o medo. "Não foi fácil. Quando eu cheguei, o pessoal [colegas de trabalho] disse: 'lá [sala] tem os mortos. Fiquei na curiosidade de ir ver, mas depois fiquei com medo. Dias depois, com a continuidade do trabalho, fui ver como era o trabalho do pessoal lá dentro, com os corpos. Achei ótimo, adorei. É muito interessante", brincou a coroeira.
Passado o medo, agora, Vanda já consegue transitar tranquilamente nas salas onde são feitos os procedimentos nos cadáveres e entende a importância do seu trabalho. "Estou tranquila. Trabalho, vou lá às vezes, faço uma oraçãozinha. Isso é muito importante. Volto aqui e faço o meu serviço, que é de fazer as coroas para o último adeus. As coroas são como se fossem uma lembrança de tudo que aquela pessoa deixou, representou na vida de quem está mandando a coroa de flores. Então, as flores, eu acho que faz parte do corpo, sabe? Então, é muito importante o trabalho de coroeira também", disse ela.

Clariaudiência e vidência
Apesar de já ter superado o medo, Vanda revela que, vez ou outra, alguns espíritos aparecem para ela. "Estava aqui trabalhando, vi um senhor passar de um lugar para outro, entrando na sala onde tem a câmera fria. Ele estava com uma roupa e aí ele entrou. Fiquei olhando, mas ele não saiu, sumiu. Outro dia, também estava fazendo uma coroa. Tem um cantinho aqui que eu digo sempre para os meninos que não gosto. As pessoas podem não acreditar, só quem tem sensibilidade que pode dizer isso: Ouvi um gemido onde não tinha ninguém", contou.
"As meninas estavam no outro pavimento que é do lado de fora, quando ouvi um gemido: 'oi, oi'. Comecei a me arrepiar, e fui fazer oração. Comecei a fazer oração e dizer: 'irmão, siga o caminho da luz, do perdão, da misericórdia. Rezei o salmo 91, prece de caritas e só me arrepiando. Continuei trabalhando e tentando esquecer o gemido que eu tinha ouvido", relembrou.
"Mas, não tenho mais medo porque eu acho que eles têm que seguir em paz. Cada um tem uma missão, a missão se acaba quando você fecha os olhos e tem uma nova missão esperando por eles", completou.
- Clariaudiência - é a faculdade mediúnica de ouvir vozes e sons que não são percebidos pelos sentidos físicos.
- Vidência - refere-se à capacidade de perceber e "ver" o mundo espiritual, incluindo espíritos, energias sutis e eventos futuros, através da intuição e da percepção além dos sentidos físicos.

Pau para toda obra
Com o trabalho de carteira assinada como coroeira, Vanda recebe um salário de pouco mais e R$ 2 mil e, para complementar a renda familiar, nos dias de folga, realiza serviços de decoração em festas e eventos. No laboratório, ela tem uma carga horária de 24 por 48. Ou seja, trabalha um dia e folga dois. "Às vezes, dá para conciliar com os colegas de trabalho, e vou fazer decoração de casamento, de aniversário, do que surgir. Porque a vida está difícil e, para a gente, qualquer trocadinho, é bom. Além da floricultura, eu também trabalho com eventos, com decorações, festa infantil, festa de adulto, encho balões, faço de tudo, porque na vida a gente tem que ser mil e uma utilidade. Porque quando não dá um serviço, você tem outro", finalizou Vanda.
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