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FÉ E LEGADO ANCESTRAL

Mãe Carmen de Oxalá: guardiã da fé, da ancestralidade e da alma do Gantois

Ialorixá esteve à frente do Terreiro do Gantois, um dos mais antigos de Salvador, por 23 anos

Andrêzza Moura

Por Andrêzza Moura

26/12/2025 - 12:43 h
Mãe Carmem faria 99 anos na próxima segunda-feira, 29
Mãe Carmem faria 99 anos na próxima segunda-feira, 29 -

Carmen Oliveira da Silva, conhecida como Mãe Carmen de Oxalá ou Mãe Carmen do Gantois, foi uma das mais importantes lideranças femininas do Candomblé no Brasil. Nascida em Salvador, Bahia, em 29 de dezembro de 1926, ela teve sua trajetória profundamente marcada pela espiritualidade desde a infância.

Iniciada no Candomblé aos sete anos de idade, Mãe Carmen foi formada dentro do Terreiro do Gantois (Ilé Ìyá Omi Àṣẹ Ìyámase), um dos mais tradicionais do país. Oxalá - especificamente Oxaguian - foi seu Orixá de cabeça, elemento central de sua vida religiosa e símbolo da serenidade, da sabedoria e da responsabilidade que marcaram sua atuação como ialorixá.

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Filha de Mãe Menininha do Gantois

Mãe Carmen era a filha mais nova de Maria Escolástica da Conceição Nazareth - Mãe Menininha do Gantois -, uma das ialorixás mais influentes da história do Brasil. Mãe Menininha foi responsável por projetar o Gantois nacional e internacionalmente, além de desempenhar papel fundamental na valorização e no reconhecimento público do Candomblé ao longo do século XX.

Criada dentro do terreiro, Mãe Carmen passou toda a sua vida integrada à comunidade religiosa, absorvendo os fundamentos, os rituais e os saberes transmitidos por gerações de mulheres que sustentaram a tradição do Gantois.

O Terreiro do Gantois e sua linhagem matriarcal

O Ilé Ìyá Omi Àṣẹ Ìyámase, conhecido como Terreiro do Gantois, no bairro da Federação, em Salvador, foi fundado em 1849 pela africana Maria Júlia da Conceição Nazaré e é reconhecido como patrimônio histórico, religioso e cultural. A casa segue uma linhagem matriarcal, em que a liderança espiritual é transmitida de mulher para mulher dentro da família.

A sequência histórica das ialorixás do Gantois inclui:

  • Maria Júlia da Conceição Nazaré, fundadora
  • Mãe Pulquéria
  • Maria da Glória Nazareth
  • Maria Escolástica da Conceição Nazaré, a Mãe Menininha do Gantois
  • Mãe Cleusa de Nanã
  • Mãe Carmen de Oxalá, que assumiu a chefia espiritual em 2002.

A sucessão no comando do Gantois

Após o falecimento de Mãe Menininha do Gantois, em 1986, sua filha mais velha, Mãe Cleusa de Nanã - Cleusa Millet -, assumiu como ialorixá do terreiro, exercendo a função até sua morte, em 15 de outubro de 1998.

Mãe Carmem de Oxalá era a filha caçula de mãe Menininha do Gatois
Mãe Carmem de Oxalá era a filha caçula de mãe Menininha do Gatois | Foto: Acervo A TARDE

Depois de um período de vacância de alguns anos, Mãe Carmen de Oxalá foi escolhida para assumir a chefia espiritual do Terreiro do Gantois, em 2002, tornando-se ialorixá e dando continuidade à missão espiritual da família e da casa, até esta sexta-feira, 26 de dezembro de 2025.

Atuação como ialorixá

À frente do Gantois por mais de duas décadas, Mãe Carmen liderou a casa com profundo compromisso religioso e responsabilidade na transmissão das tradições afro-brasileiras. Seu trabalho foi marcado pela preservação dos fundamentos do Candomblé, pela valorização da ancestralidade e pela defesa do respeito às religiões de matriz africana.

Sua atuação ultrapassou os limites do terreiro, alcançando os campos social e cultural. Mãe Carmen foi defensora do diálogo inter-religioso e do reconhecimento do Candomblé como parte essencial da identidade cultural brasileira.

Reconhecimento e homenagens

Em reconhecimento à sua trajetória, Mãe Carmen recebeu importantes homenagens ao longo da vida, incluindo a Medalha dos Cinco Continentes da Unesco, em 2010, a Medalha Comemorativa dos 410 anos do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), concedida pelo órgão em junho de 2019, e a Comenda Maria Quitéria, entregue pela Câmara Municipal de Salvador em 2023.

Mãe Carmem recebendo a Comenda Maria Quitéria, na Câmara Municipal de Salvador, em 2023.
Mãe Carmem recebendo a Comenda Maria Quitéria, na Câmara Municipal de Salvador, em 2023. | Foto: Valdemiro Lopes | CMS

Ela também foi celebrada no campo artístico e cultural. Em 2019, foi lançado o álbum Obatalá: Uma Homenagem à Mãe Carmen - um projeto coletivo que reuniu grandes nomes da música brasileira, entre eles Daniela Mercury, Gilberto Gil, Ivete Sangalo, Margareth Menezes e Carlinhos Brown, em celebração à ialorixá e à cultura do Candomblé.

A canção “Senhora do Terreiro (Mãe Carmem)”, composta e cantada por Daniela Mercury em homenagem a Mãe Carmen, tornou-se uma evocação simbólica de sua liderança espiritual e da força do Gantois.

Vida profissional e compromisso com a ancestralidade

Além de sua atuação religiosa, Mãe Carmen teve uma trajetória profissional fora do terreiro, atuando como contadora antes de dedicar-se integralmente ao axé do Gantois. Ao longo de sua vida, esteve envolvida em projetos de preservação da ancestralidade e de ensino das tradições religiosas, contribuindo para manter vivos os saberes que constituem o patrimônio espiritual afro-brasileiro.

Família religiosa e legado

Mãe Carmen deixou duas filhas iniciadas no Candomblé, Ângela Ferreira (Iyakekerê) e Neli Cristina (Iyadagan), além de netos e bisnetos que também integram a comunidade religiosa do Gantois, garantindo a continuidade da tradição familiar e espiritual.

Leia Também:

Falecimento

Mãe Carmen de Oxalá faleceu na sexta-feira, 26 de dezembro de 2025, aos 98 anos, em Salvador, no Hospital Português, na Barra, em Salvador, onde estava internada há duas semanas em decorrência de complicações de uma forte gripe. Ela faria 99 anos na próxima segunda-feira, 29.

Sua morte encerra um ciclo histórico no Terreiro do Gantois, mas seu legado segue vivo na fé, na resistência e na memória de todos que reconhecem sua importância espiritual, cultural e histórica para o Candomblé em Salvador, na Bahia, no Brasil e, quiçá, no mundo.

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