SAÚDE
Cirurgia plástica traz funcionalidade e autoestima para pacientes
Procedimento raro foi feito este ano em Salvador no pulso de uma paciente
Por Felipe Sena*
As cirurgias plásticas envolvem mais do que estética. Os procedimentos cirúrgicos reparadores podem ser realizados por necessidade e preservação da saúde do paciente, ao mesmo passo em que mantém ou resgatam a autoestima. Originalmente, as cirurgias plásticas surgiram com a função reparadora e atualmente têm tido índices crescentes.
Em 2019, o Brasil foi o país que mais realizou cirurgias plásticas no mundo. De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, entre 2008 e 2020, o aumento da procura por cirurgias plásticas, tanto estéticas, como reparadoras, foi de 184,6%. Neste ano, em Salvador, foi realizada uma cirurgia plástica reparadora rara e complexa, após retirada de um tumor benigno, mas “localmente agressivo”. O procedimento durou cerca de 9 horas e foi conduzida pelo cirurgião plástico Thomaz Menezes.
A paciente, Sônia dos Anjos, de 60 anos, que já está no processo de reabilitação pós-cirurgia, não imaginava que a dor discreta que sentia no punho poderia ser um tumor de células gigantes, que afeta o rádio distal, localizado na extremidade do antebraço. Ela recebeu o diagnóstico após uma consulta rotineira. “O clínico recomendou ir numa consulta com o especialista, para verificar. Nesse ínterim, tive uma dor mais aguda, fui para o atendimento de emergência e conduzida pelo oncologista clínico. Achei que fosse um cisto, mas fui encaminhada para a cirurgia”, explicou.
De acordo com Sônia, o oncologista explicou que para seu caso, teria que ser feita a ressecção óssea, que é a remoção do tumor, e em seguida seria feito o enxerto ósseo, quando uma parte do osso é retirada para ligar a outra em regiões distintas do corpo. Isso foi evidenciado após exame de imagem, biópsia e análise patológica. O procedimento teve a atuação de uma equipe multidisciplinar de profissionais como os cirurgiões plásticos: Thomaz Menezes, Franklin Mônaco, Antônio Lima; os cirurgiões de mão, César Dario, Tharcio Dourado e Rafael Ribeiro. Além do ortopedista oncológico, Rodrigo Martins.
Em entrevista ao Portal A TARDE, Thomaz Menezes explica que a cirurgia foi de alta complexidade e delicada. “Tivemos que retirar um segmento da fíbula [um dos ossos da perna], junto com um vaso sanguíneo. Existe um vaso sanguíneo que é responsável pela nutrição desse osso. Então foi feito um retalho microcirúrgico [enxerto vascularizado]. A gente leva o osso [da perna] para o antebraço e coloca no local afetado do osso do antebraço, [a osteossíntese]”, afirma o cirurgião plástico. Ainda segundo o especialista, antes do retalho microcirúrgico, foi feita a retirada do tumor, procedimento conhecido como reconstrução imediata.
Cirurgia após diagnóstico
Com 42 anos, Leonel Cerqueira, foi submetido a cirurgia plástica para reconstrução da mandíbula há um ano, depois da retirada de um tumor na região do pescoço, em 2018. Para o empresário, foi um momento de preocupação e mudança de estilo de vida. “Foi um baque para mim, tanto psicológico, quanto financeiro. Tive dificuldade, porque fiquei ingerindo alimentos pastosos e líquidos”, contou Leonel ao afirmar que teve que usar placa de titânio, para que não abrisse muito a região bucal e pudesse causar outra lesão mais grave.
O diagnóstico veio depois que o empresário ingeriu um alimento e fraturou a região. “Estava comendo um pão e fraturou a mandíbula. Liguei para a clínica que fazia manutenção do meu aparelho na época. No dia seguinte, me informaram que teria que fazer avaliação e foi analisado que tinha rachado a mandíbula”.
Assim como na cirurgia feita em Sônia, o cirurgião plástico Thomaz Menezes, usou o mesmo método de procedimento, o retalho microcirúrgico, que é feito com a ajuda de um microscópio, pela sua minuciosidade. No entanto, a retirada do tumor de Leonel foi feita por outro profissional, antes da cirurgia plástica.
Por causa da pandemia, a avaliação médica teve que ser feita de forma virtual. “Foi feita uma impressão 3D, vimos o segmento do osso que precisava, como o osso iria se encaixar e isso facilitou retirá-lo da perna, a fíbula, trazendo-a para a mandíbula e juntando os vasos [das duas regiões], fazendo a vascularização”, explica o cirurgião.
Antes do procedimento cirúrgico, Leonel tinha receio de fazer várias atividades, como por exemplo andar na rua. “Fiquei de dois a três anos com a placa de titânio. Até hoje mastigo só de um lado, porque ainda não coloquei a prótese. Mas com a placa, eu não saia, tinha medo de tomar um tombo, cair e quebrar, ficava com muito receio de comer as coisas, não tinha segurança”, relata. “Antes, quando ele retirou o tumor e não reconstitui, ele tinha bastante dificuldade para se alimentar e dor na mandíbula”, diz Thomaz Menezes.
Benefícios da cirurgia plástica reparadora
Para Sônia, o procedimento só trouxe benefícios para sua vida e diz que se já vê melhoras no estágio pós-operatório. “Tive uma evolução muito boa, não tive intercorrência nenhuma na cirurgia, nem no pós-cirúrgico. Tenho melhorado a cada dia a condição do meu punho. Meus movimentos estão intactos, minha função motora está normal. Estou comendo, penteando o cabelo”, afirma com entusiasmo. Sônia foi submetida à cirurgia há um mês e está sendo acompanhada “rotineiramente por especialistas e fisioterapeutas, com exames e revisão clínica”.
Quando estava no estágio pós-cirúrgico, Leonel diz que precisou do auxílio do andador e depois andar de muleta, por causa da retirada do osso da perna, mas se sente melhor agora. “Frequento a academia, corro e faço tudo normalmente. Já estou providenciando para colocar a prótese e poder mastigar do lado que foi feita a cirurgia. Minha autoestima está normal. Estou praticamente vivendo normalmente como antes”. No entanto, de acordo com Thomaz Menezes, os cuidados necessários no pós-operatório são essenciais para garantir a recuperação bem-sucedida e o alcance de melhores resultados.
Sob supervisão da subeditora Brenda Ferreira.
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