SAÚDE
Covid: mais de oito milhões de baianos não completaram esquema vacinal
Especialistas fazem alerta por conta da circulação de novas variantes no país
Por Rafaela Souza

Em meio à preocupação com a circulação de novas variantes da Covid-19 na Bahia, a baixa procura pelo reforço da vacinação por parte dos baianos também reacende o alerta das autoridades de saúde. De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), mais de oito milhões de baianos estão com o esquema vacinal incompleto. A situação pode contribuir para o surgimento de novas variantes e aumento dos casos.
A coordenadora do Centro de Operações de Emergência em Saúde da Sesab, Priscila Macedo, alerta que a vacinação é uma das medidas mais seguras para proteger e reduzir as chances de desenvolver a forma grave da doença.
"Podemos voltar a um cenário de flexibilização das normas de segurança graças ao avanço da vacinação. É entristecedor esse número porque estamos, desde o início de 2021 (quando as vacinas foram disponibilizadas), enfatizando a importância de comparecer aos postos de saúde para tomar a vacina. É fundamental que a população complete seu esquema vacinal e mantenha o nível de anticorpos para não ter a forma grave da doença", ressalta.
Para a coordenadora, a desinformação e descrença por conta de um cenário mais favorável da pandemia podem interferir na procura pelas doses de reforço nas unidades de saúde do estado.
"Muita gente pensa: 'tomei vacina e peguei Covid'. Precisamos deixar claro que a vacina não isenta de contrair a doença. O grande ganho da vacinação, das vacinas que estão disponíveis, é que protege contra formas mais graves da doença, inclusive óbito. Por isso que precisamos dessas doses de reforço nos intervalos que são preconizados no plano de vacinação, para que o número de anticorpos não caia tanto e para que seja possível combater o vírus e as suas subvariantes", afirma.

Novas variantes da doença
Mesmo com a alta de casos em diversos países, a Bahia ainda não registrou casos das novas subvariantes da ômicron, a BQ.1 e XBB. A sublinhagem está relacionada ao aumento de casos na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá. Os especialistas apontam que elas podem ser mais transmissíveis e resistentes às barreiras vacinais.
Conforme a coordenadora, a expectativa é de que os casos aumentem nas próximas semanas, tendo em vista o comportamento do vírus nas outras grandes ondas mundiais.
“Estamos nessa expectativa não tão boa de aumento dos casos nos próximos dias e semanas. Observamos muito o que vem acontecendo na Europa, nos Estados Unidos, nas outras cidades do país. Estamos sob controle neste momento, se olharmos o número de casos novos, ativos, internação, média de óbitos. Todos os nossos indicadores apontam um arrefecimento da pandemia em todo o estado. Só que a gente olha para essa nova subvariante com preocupação e triplica esse sinal de alerta”, explica.
O infectologista do Grupo Fleury, Celso Granatto, alerta para a possibilidade de uma nova onda no país. Segundo ele, “o aumento de casos vem acompanhado da entrada de uma nova variante”.
“Desde o final do ano passado até agora, a gente tem observado isso. Como o vírus está em processo de adaptação, cada vez que ele sofre uma modificação, no sentido dele se adaptar melhor, consegue ultrapassar os anticorpos adquiridos após o contágio e o da vacina. A gente teve um pico muito importante com a circulação da ômicron e, posteriormente, com as suas variações. A capacidade de transmissão é alta”, afirma.
O especialista explica que os sintomas se assemelham ao de um resfriado, como a inflamação na garganta e corrimento no nariz.
“Muita gente com esses sintomas acha que não é covid, mas é preciso fazer o teste para ter a confirmação. Os casos apresentam sintomas leves, mas pessoas com comorbidades podem desenvolver uma forma mais grave da doença.
No Brasil, alguns casos já foram registrados no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Porto Alegre. Entre eles, um óbito foi confirmado nesta terça-feira, 8, pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. A vítima era uma mulher de 72 anos e tinha comorbidades.
A cepa BQ.1 foi identificada pela primeira vez na Europa. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a subvariante já está presente em, ao menos, 65 países.
Cuidados
O infectologista destaca a importância do uso das máscaras no dia-a-dia, principalmente neste contexto de circulação das novas variantes. Para o especialista, o equipamento de segurança deve ser utilizado em ambientes fechados, nos transportes públicos, nas salas de aula.
“A gente tem visto em todo o Brasil que as pessoas abandonaram o uso da máscara. Com isso, a transmissão do vírus fica mais eficiente. As nossas taxas de vacinação para terceira e quarta doses estão abaixo do esperado; a quarta dose, por exemplo, não chega nem a 20%. Isso precisa mudar. A máscara é uma proteção universal, ela vai ser uma barreira para proteger contra todas as variantes”, enfatiza.
Além do uso da máscara, o infectologista alerta para a manutenção de cuidados como a higienização das mãos e superfícies em geral e testagem em caso de sintomas, como coriza e inflamação na garganta.
Aumento dos testes
Também foi constatado um aumento na realização de testes em laboratórios particulares no Brasil. Segundo o Instituto Todos Pela Saúde, o número de exames positivos passou de 3% para 17% entre 8 e 29 de outubro. Os dados representam um forte indício de nova onda de casos, conforme o pesquisador científico da instituição, Marcelo Bragatte.
“A gente estava em baixa positividade e deu um salto. Está havendo um aumento de casos no Brasil. O ideal é que todo mundo estivesse com o cartão de vacinação atualizado. As pessoas que não completaram o esquema vacinal ficam mais suscetíveis ao vírus. É um alerta, não é para ficar desesperado. Mas é importante tomar todos os cuidados possíveis”, pontua.
Ainda de acordo com o pesquisador, o cenário aponta para a possibilidade de um planejamento de vacinação anual.
“Tudo leva a crer que a gente vai ter a vacina de covid como um reforço anual, como a da gripe, levando em consideração a frequência de novas ondas. Para conseguir abarcar e acompanhar todas essas sublinhagens, a gente vai ter que fazer pelo menos um reforço anual para que todos fiquem protegidos”, completa.
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Comprovante de vacinação
Diante das informações da chegada no Brasil da nova variante da covid-19 e da possibilidade de uma nova onda da doença, o Conselho Estadual de Saúde da Bahia defende que o comprovante de vacinação volte a ser exigido em espaços de grande concentração das pessoas. O órgão, que fiscaliza e delibera o Sistema Único de Saúde (SUS) no estado, vai fazer a recomendação ao governo e às prefeituras da Bahia.
Segundo o Conselho, o pedido é indicado no intuito de controlar e reduzir a contaminação pela variante do coronavírus. Entre os locais orientados a seguir a recomendação estão: hospitais, unidades de saúde, órgãos públicos, aeroportos, rodoviárias, metrô, ferryboat, escolas, academias, shoppings centers, bares e restaurantes, hotéis, cinemas, teatros, museus, festas e estádios de futebol.
O Conselho prevê que essa é a medida mais eficaz para evitar os casos de contaminação, visto que a imunização é uma das ferramentas mais eficientes e seguras para prevenir doenças infecciosas.
De acordo com o presidente do órgão, Marcos Sampaio, no caso da covid-19, é notório perceber que, após a aplicação das vacinas na população, em suas diversas faixas etárias e grupos prioritários, houve uma redução nas taxas de internações e mortes.
“A possibilidade de não vivermos uma onda nas mesmas proporções de quando a Covid-19 surgiu é a manutenção da aplicação da vacina e suas doses de reforço, sendo incentivada através da apresentação do comprovante de vacina para acessar determinados espaços. Não tenho dúvidas de que a vacina salva.”, declara.
Vacinação infantil
A baixa adesão e a entrega reduzida de doses da vacina para as crianças entre 3 e 4 anos também acendem o alerta na Bahia. Conforme a Sesab, apenas 14% do público tomaram a primeira dose do imunizante contra a Covid-19.
Ainda segundo o presidente do Conselho de Saúde, a aplicação dessa obrigatoriedade também se faz necessária diante da falta de vacinas para crianças entre 6 meses e 4 anos. “Uma vez que exista o incentivo e cobrança da caderneta de vacinação atualizada há, consequentemente, o aumento na cobertura vacinal e diminuição de contágio para essas crianças e população em um contexto geral”, afirma.
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A vacinação para crianças nessa faixa etária foi aprovada no dia 16 de setembro de 2022, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para aplicação do imunizante da Pfizer. Porém, até o momento, elas não foram incluídas na cobertura vacinal.
O Ministério da Saúde afirma que recebeu doses da vacina para crianças de seis meses a menores de 3 anos com comorbidades. Elas serão distribuídas para os estados, mas ainda não há uma data definida.
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