ANO NOVO
Metas de fim de ano: por que tantas promessas não saem do papel?
Especialista explica como criar metas realistas, evitar frustrações e transformar objetivos em ações concretas.
Por Luan Julião
À medida que o ano chega ao fim, é comum que as pessoas reflitam sobre os planos traçados lá no início e percebam que nem tudo saiu como o esperado. Metas não cumpridas podem gerar frustração, ansiedade e uma sensação de incapacidade que afeta o equilíbrio emocional. Afinal, o que impede nossos objetivos de se tornarem realidade?
Para entender melhor essa relação entre metas, previsibilidade e saúde mental, conversamos com o psicólogo, analista comportamental e pesquisador em neurociência Kito Gois.
Segundo o especialista, criar metas é mais do que um desejo de realização pessoal, é uma forma de o cérebro lidar com a imprevisibilidade da vida.
"Nosso cérebro se estressa quando a nossa vida é imprevisível. Quanto mais previsibilidade temos, mais saúde mental conquistamos. O que eu quero dizer? A pandemia foi um exemplo claro disso: nossa vida virou de cabeça para baixo e não sabíamos mais o dia de amanhã. Muitas pessoas ficaram nervosas e ansiosas por causa da falta de previsibilidade. Por isso, temos essa necessidade de criar metas: para tornar a vida minimamente previsível."
Embora muitas pessoas digam que desejam uma vida espontânea e "sem regras", Kito explica que, na prática, o cérebro não lida bem com o caos e a falta de controle:
"A verdade é que, embora muita gente diga que quer ter uma vida louca, uma vida 'uhul', nosso cérebro não lida bem com isso. Ele não lida bem com a imprevisibilidade. Pergunte-se: no ano que vem, você vai trabalhar no mesmo lugar? Vai estar com a mesma pessoa? Vai manter os mesmos comportamentos? De alguma forma, queremos previsibilidade. Às vezes, olhamos para certas atitudes que tomamos durante o ano e pensamos: 'Isso não foi legal, eu queria ter parado, mas não consegui'. Se não conseguimos prever, minimamente, que vamos alterar esse tipo de comportamento, adoecemos. Isso gera desesperança, desânimo, frustração."
Meta ou método? A chave está no “como”
De acordo com o psicólogo, a frustração que surge no fim do ano não está relacionada apenas às metas em si, mas à falta de um método claro para realizá-las:
"O problema é que criamos a meta, mas não criamos o método, ou seja, o 'como'. A gente pega o caderno e despeja ali muito mais os nossos anseios e vontades do que, de fato, uma meta carregada de método. Entende? Se no ano que vem eu quero ser promovido para determinado cargo, como vou fazer isso? O que preciso para alcançar essa promoção? Quais são os lugares, as formações, as habilidades que devo desenvolver para chegar lá? O que preciso construir?"
Kito enfatiza que a maioria das pessoas se frustra porque não sabe responder a uma pergunta simples, mas fundamental: “Como você vai fazer isso?”. Esse detalhe, segundo ele, é o que impede que muitos planos saiam do papel.
"As pessoas criam metas, mas não criam o método. Colocam no caderno desejos, vontades e ansiedades (no sentido positivo), mas não pensam no 'como'. A maioria das pessoas se frustra porque tem meta, mas não tem método."
Reavaliando o que realmente importa
Outro ponto crucial é reavaliar metas antigas que podem não fazer mais sentido no momento atual. O especialista reforça que nem tudo precisa ser carregado para o próximo ano:
"Nem toda meta anterior que não conseguimos realizar deve ser perseguida este ano. Às vezes, essa meta já foi incorporada a outra, como se tivesse se fundido com ela. Então, não faz sentido ficar correndo atrás de algo que, de uma maneira direta ou indireta, já foi realizado. Às vezes, a gente também não considera a pessoa que somos hoje. Uma meta planejada no ano passado pode não fazer mais sentido este ano."
Para Kito, as metas são fundamentais porque nos oferecem a possibilidade de sonhar e buscar motivação. Mas o processo precisa ser acompanhado por planejamento realista e autoconhecimento:
"Mais do que a meta, é preciso ter o método. E não podemos esquecer de considerar quem somos atualmente. O que eu preciso aprender? O que eu preciso deixar de fazer? Quais são os ambientes que preciso evitar? E até que ponto, fazendo tudo isso, consigo manter minha saúde mental? Porque, se criamos uma meta sem colocar o método, o 'como', é isso que nos adoece."
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