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BASEADO NA CIÊNCIA

Paciente desenganada volta a andar com tratamento à base de cannabis

Fisioterapeuta chegou a perder todos os movimentos abaixo da cabeça e desmaiava todos os dias

Por Alan Rodrigues

21/07/2025 - 12:00 h
Carla Karoline teve uma melhora imediata após iniciar o tratamento com cannabis sob orientação do Dr. Antônio Andrade
Carla Karoline teve uma melhora imediata após iniciar o tratamento com cannabis sob orientação do Dr. Antônio Andrade -

Uma jovem de 18 anos, iniciando o curso de fisioterapia, cheia de sonhos e com a vida pela frente. Carla Karoline viu sua vida mudar em 2015, quando contraiu zika vírus. A arbovirose desenvolveu os sintomas mais graves e afetou a rotina da jovem estudante.

Dores no corpo, febre, articulações rígidas, manchas na pele e dores no olho se tornaram frequentes. Foram dois anos até descobrir que a zika, na verdade, era a síndrome de Guillain Barrè e desencadeou uma doença autoimune, a polineuropatia sensitiva. Uma doença incapacitante.

“Eu tinha cansaço, fraqueza, 1º sintoma foi no ônibus, pedi para sentar por que as penas estavam fracas”, lembra Carla. Ela desenvolveu fortes enxaquecas. “A pulsação da artéria temporal era visível, minhas mãos viraram para dentro, parecia avc, as pernas, o tronco, eu não ficava em pé”, relata.

Carla Karoline fez uso de opióides como morfina, tramal, além de anticoagulantes e anticonvulsivos. “Não sentia frio nem calor, o corpo tremia”, diz a fisioterapeuta que recebeu indicação para o neurologista Antônio Andrade.

“Foi a última opção, as pernas já estavam comprometidas, cheguei até a pesquisar órteses”, recorda Carla, que considerou a hipótese de amputação. O excesso de medicamentos comprometeu os órgãos, até o ponto em que ela só conseguia mexer a cabeça.

Remédios deixaram Carla inchada e a perda dos movimentos a colocou em cadeira de rodas
Remédios deixaram Carla inchada e a perda dos movimentos a colocou em cadeira de rodas | Foto: Acervo pessoal

O tratamento começou a mostrar resultado e Carla retomou aos poucos sua rotina, mas, veio a pandemia e ela pegou covid. Depois de tantos remédios, ela desenvolveu insuficiência suprarrenal (doença de addison) e parou de produzir cortisol e aldosterona. Antônio Andrade, então, sugeriu o uso da cannabis, a partir de estudos realizados com vários pacientes. E veio a grande surpresa.

“Mudou minha vida. Com 3 meses voltei a dormir”, diz Carla, que chegou a registrar 48 batimentos por minuto e evitava dormir com receio de não acordar. “Foi como se tivesse desinflamado meu corpo, não tem como explicar, era como um carro enferrujado que começou a funcionar. Com 15 dias pararam os tremores”, diz Carla, que chegou a desmaiar diariamente por 40 dias antes do tratamento.

“O médico não esperava que eu voltasse, achou que eu ia morrer”, complementa. Atualmente, Carla consome 15 gotas de canabidiol e outras substâncias derivadas da cannabis 2 vezes ao dia. O custo é de R$ 899 ao mês.

Nas recaídas, ela ingere ‘jujubas’ de THC (tetra-hidrocarbinol) para controle da dor. O THC é a única substância psicotrópica da maconha e o seu uso, segundo Carla, provoca reações muito conhecidas dos usuários de cannabis para fins recreativos: sono e fome.

Para bancar o tratamento, Carla Karoline, que produz conteúdo digital, firmou uma parceria a CBD Cuida e compartilha no instagram (@carla.karoline) sua experiência com os canabinóides em troca do fornecimento mensal da medicação.

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Obstáculos

Um dos obstáculos para ampliar a produção nacional de canabinóides e, consequentemente, reduzir o preço, é a legislação brasileira. O neurologista baiano Antonio Andrade, responsável pelo tratamento de Carla, utiliza a cannabis medicinal há 12 anos e vê o Brasil em desvantagem nessa corrida.

Ele diz que Estados Unidos, Canadá, Israel, Alemanha e Holanda estão muito à frente e produzem medicamentos à base de cannabis para vários países. Ele acredita que o Brasil precisaria de pelo menos três fábricas de canabinóides para atender a demanda nacional. Dr. Andrade cita também o Uruguai, que liberou a produção e cultivo da maconha para dependentes químicos. Ele próprio é favor da liberação do uso recreativo.

Na Fundação Baiana de Neurologia, da qual é presidente, Antônio Andrade já atendeu mais de 3 mil pacientes com canabinóides. O primeiro foi em 2013, quando prescreveu cannabis medicinal para uma criança com epilepsia resistente a tratamentos convencionais.

O garoto, que tomava cinco medicamentos, teve as crises controladas e, ao longo dos anos, pôde ‘desmamar’ quatro deles. Hoje, leva uma vida normal. “Depois desse caso, não parei mais”, resume o neurologista.

Milenar

O uso medicinal da Cannabis remonta a mais de 2 mil anos, com registros de sua aplicação terapêutica na China e na Índia. Em diferentes culturas, a planta foi usada no tratamento de dores, convulsões, inflamações e até como anestésico em procedimentos cirúrgicos rudimentares.

Dr. Andrade é um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (SBEC) e atua fortemente na Fraternidade Nordestina de Neurologia Infantil e Clínica (FNNIC), instituição que mantém há 27 anos atendimento gratuito todos os sábados.

Atualmente, são 15 ambulatórios e 500 pacientes em uso regular de Cannabis, com produção científica contínua. A estrutura é robusta: quatro casas, aparelhos de tomografia e eletroencefalograma (EEG), 62 profissionais entre neurologistas, neurocirurgiões, psicólogos, psiquiatras, fisioterapeutas e fonoaudiólogos.

Remissão de câncer

Para driblar o alto custo da medicação, o ambulatório da fundação de neurologia recebe dos fornecedores uma cota de gratuidade destinada a crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (tdah), autismo e epilepsia, essa última patologia com mais de 10 mil pacientes cadastrados.

Dr. Andrade lembra que os canabinóides atuam em doenças de pele, gastrointestinais, reumáticas e neurológicas. Também já há estudos que demonstram eficácia no controle do diabetes e combate à obesidade e até no enfrentamento ao câncer, onde experimentos realizados em Denver, no estado americano do Colorado, alcançaram a remissão de tumores no pâncreas e no colo retal.

Aqui no Brasil, o interesse é crescente, mas esbarra na legislação. Em 2024, um simpósio promovido pela SBEC reuniu 21 mil participantes e atraiu 200 stands, ao custo de R$ 50 mil cada, de empresas interessadas em promover produtos à base de cannabis.

A SBEC também oferece uma pós-graduação à distância em cannabis medicinal, que já se encontra na sua 3ª edição e aguarda a liberação do livro ‘Tratado de Cannabis’, com três capítulos de autoria de Antônio Andrade, que se encontra sub-júdice.

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Tags:

Antônio Andrade cannabis medicinal, Carla Karoline polineuropatia

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