MEDICAMENTO
PrEP injetável pode chegar ao SUS e ampliar proteção contra o HIV
Com maior eficácia que a versão oral, medicamento aguarda incorporação ao SUS e pode acelerar a redução de novas infecções no Brasil
Por Isabela Cardoso

Com mais de 1 milhão de pessoas vivendo com HIV no Brasil e 46,5 mil novos casos registrados apenas em 2023, o país avança em uma mudança significativa na prevenção do vírus. A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) injetável à base de cabotegravir, aprovada pela Anvisa desde 2023, vem se consolidando como uma resposta promissora: estudos recentes mostram que ela oferece maior proteção contra o vírus em comparação com a PrEP oral.
A expectativa agora é pela incorporação do medicamento ao Sistema Único de Saúde (SUS), o que pode acelerar a redução das infecções e ampliar o alcance da profilaxia entre populações em maior risco.
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O que é a PrEP?
A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) é uma estratégia de prevenção combinada ao HIV indicada para pessoas que não vivem com o vírus, mas que têm maior risco de exposição. De acordo com o Ministério da Saúde, algumas situações que podem indicar o uso do medicamento:
- Frequentemente deixa de usar camisinha em suas relações sexuais (anais ou vaginais);
- Faz uso repetido de PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV);
- Apresenta histórico de episódios de Infecções Sexualmente Transmissíveis;
- Contextos de relações sexuais em troca de dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia, etc.
- Chemsex: prática sexual sob a influência de drogas psicoativas (metanfetaminas, Gama-hidroxibutirato (GHB), MDMA, cocaína, poppers) com a finalidade de melhorar e facilitar as experiências sexuais.
A profilaxia consiste no uso de antirretrovirais antes da exposição ao vírus, reduzindo drasticamente o risco de infecção — em até 95% nos casos em que há adesão adequada.
Atualmente, o Brasil oferece a PrEP oral no Sistema Único de Saúde (SUS), com um comprimido diário contendo tenofovir + entricitabina. A estratégia, no entanto, depende da disciplina no uso diário, o que impacta diretamente a efetividade, especialmente entre jovens.

Cabotegravir: como funciona a PrEP injetável
O cabotegravir é um antirretroviral de ação prolongada. Ao invés de tomar comprimidos diariamente, o usuário recebe uma injeção intramuscular com efeito que pode durar até dois meses. A proposta, além de simplificar o regime, visa aumentar a adesão e reduzir a taxa de abandono.
O regime recomendado começa com uma dose inicial, seguida de uma segunda injeção após um mês. A partir da terceira dose, o esquema de manutenção passa a ser bimestral. A aplicação é feita na região glútea.
Quem pode usar?
Segundo a Anvisa, o cabotegravir é indicado para adultos e adolescentes com mais de 12 anos, peso mínimo de 35 quilos e que testem negativo para HIV. O teste deve ser feito antes de iniciar o tratamento e repetido antes de cada nova injeção, como medida para evitar o desenvolvimento de resistência ao medicamento.
Na versão oral, o cabotegravir também é utilizado para avaliar a tolerância do paciente antes da administração da injeção, ou ainda como substituição provisória em caso de perda de uma dose injetável.
Estudos indicam maior eficácia e adesão
Dois estudos clínicos de larga escala, HPTN 083 e HPTN 084, reuniram mais de 7.700 participantes de 13 países, incluindo o Brasil, e avaliaram a eficácia do cabotegravir de ação prolongada. Os ensaios foram encerrados precocemente após evidências contundentes: o cabotegravir reduziu o risco de infecção pelo HIV em até 90% em comparação com a PrEP oral — nenhum participante adquiriu o vírus enquanto estava em uso da injeção.

Impacto epidemiológico e potencial de economia
A introdução do cabotegravir pode evitar ao menos 385 mil novos casos de HIV no Brasil nos próximos 10 anos, segundo projeções da GSK, farmacêutica responsável pelo medicamento em parceria com a ViiV Healthcare. A estimativa aponta ainda uma possível economia de 14 bilhões de reais em custos com tratamento no mesmo período.
Atualmente, a ViiV Healthcare, joint venture entre GSK, Pfizer e Shionogi, atende cerca de 698 mil pessoas com medicamentos antirretrovirais no Brasil, representando mais de 83% dos pacientes que recebem tratamento pelo SUS.
Disponibilidade: quando e onde?
Apesar de já aprovado pela Anvisa em junho de 2023, o uso do cabotegravir injetável pelo SUS ainda depende de avaliação pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). A expectativa, segundo a GSK, é que a negociação com o Ministério da Saúde permita a implementação até o final de 2025.
Na rede privada, a comercialização só será possível após a definição do preço pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
Em Salvador, a PrEP oral já está disponível em diversas unidades de saúde, incluindo o CEDAP, o Instituto Couto Maia, o Ambulatório de Atenção Especializada em Saúde LGBT e os SAE do Comércio, São Francisco e Marymar Novais.
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