SAÚDE
Verão e mudanças climáticas aumentam risco de câncer de pele; saiba cuidados
Especialistas alertam para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do tumor de maior incidência no mundo

Por Ana Cristina Pereira

Dias mais longos e quentes, com maior incidência de radiação solar. Desde 21 de dezembro estamos oficialmente no Verão, que segue até 20 de março com previsão de ser ainda mais quente do que no ano passado - quando a estação bateu recorde de altas temperaturas em todo o País.
As características naturais do período, agravadas pelos efeitos das mudanças climáticas, criam o cenário que preocupa médicos e autoridades de saúde em relação ao câncer mais comum no Brasil e no mundo: o de pele.
Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o ano deve terminar com cerca de 220 mil novos casos de câncer no País. Só na Bahia devem ser diagnosticados 10,8 mil, representando um grande desafio de diagnóstico e tratamento rápido e adequado.
Atuando nas esferas pública e privada, o cirurgião oncológico baiano Miguel Brandão reforça a necessidade de prevenção como única forma de colocar uma barreira nos números que só crescem.
Além do uso vigilante de protetores solar (o que inclui chapéus, óculos e roupas especiais) e da consulta de rotina com o dermatologista, ele faz uma recomendação complementar: aprender a conferir o Índice de Radiação Ultra Violeta (UV) antes de se expor ao sol.
Dividido em baixo, moderado, alto e muito alto, o índice vai de 2 a 10, variando ao longo do dia e de uma região para outra. Para consultá-lo, basta uma olhada em sites como das agências Climatempo ou Meteored ou em aplicativos de celular, colocando a cidade onde a pessoa está.
Caso o índice esteja alto ou muito, é melhor evitar a exposição direta ao sol. “Vale ressaltar que ele pode estar alto mesmo em dias nublados”, alerta o médico, reforçando que o índice pode ser uma espécie de bússola para o Verão.
Outro ponto importante destacado por ele é o uso correto do filtro solar, com reposição a cada duas horas ou após atividades intensas e mergulhos na água, para que ele realmente tenha o efeito protetor. “Precisamos combater essas ondas de desinformação que surgem nas redes sociais, como esta recente de que o filtro solar não protege”, diz o especialista, que atua no Hospital Santo Antônio e no Grupo de Oncologia Cutânea da clínica AMO.
Mudança de perfil
De acordo com o especialista, a falta de uma rotina preventiva, o acúmulo de anos de exposição ao sol e a incidência de uma radiação solar cada vez mais intensa - fruto do efeito estufa - têm provocado uma ampliação no perfil de pessoas com câncer de pele. “Antes, eles eram mais comuns em pessoas acima dos 60 anos, mas temos visto cada vez mais jovens com a doença”, afirma Miguel Brandão, que é presidente do Grupo Brasileiro de Melanoma.
O câncer de pele é classificado em melanoma e não melanoma (carcinomas basocelular e espinocelular), sendo este último mais comum e menos agressivo. Mas, independente do tipo, o diagnóstico precoce, a partir da investigação de sinais, manchas e lesões na pele, deve ser feito com atenção. Outro mito que precisa ser combatido, afirma o médico, é o de que pessoas negras não têm câncer de pele.
Mesmo com a proteção natural que a melanina garante à pele, pessoas negras que se expõem muito ao sol, como trabalhadores rurais, da construção civil, limpeza urbana, marisqueiros e pescadores, não estão imunes à doença. “Essa é uma realidade que vemos no Ambulatório de Oncologia do Hospital Santo Antônio”, contextualiza o especialista, referindo-se à unidade que integra as Obras Sociais Irmã Dulce. Pessoas negras estão também mais propensas a um subtipo de câncer de pele bastante agressivo, o melanoma acral, que acomete partes do corpo como a palma das mãos, a sola dos pés e as unhas.
De acordo com relatório conjunto da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada três mortes por câncer de pele não melanoma é causada pelo trabalho realizado sob o sol. A exposição ocupacional à radiação ultravioleta, segundo estimativa da OMS, aumenta em 60% o risco de desenvolver o tumor maligno.
Avanços e percalços
Além da precisão no diagnóstico, o acesso aos melhores tratamentos é um dos desafios para os pacientes, sobretudo do Sistema Único de Saúde - SUS. Na última década, explica o doutor Miguel, a imunoterapia, por exemplo, representou uma grande mudança para pacientes de câncer de pele que já passaram por cirurgia e não respondem mais aos tratamentos de quimio e radioterapia. “Ela fortalece o organismo e, mesmo nos casos mais graves, com a imunoterapia temos cerca de 50% de chances de cura”, explica o médico, acrescentando que o alto custo é o maior entrave ao tratamento, levando os pacientes ao caminho da judicialização.
No tratamento da dona de casa Maria José Silveira, de 65 anos, serão 13 aplicações em um ano, ao custo de R$ 30 a R$ 35 mil cada. Paciente da equipe do doutor Miguel no Hospital Santo Antônio, Maria José já tentou judicializar o estado, que negou o pedido, e agora ela partindo para um processo na esfera federal. “Não tenho a menor condição de pagar, mas tenho certeza que vai dar tudo certo”, torce Zezé, que atualmente reside na zona rural de Sátiro Dias.
Em 2023 ela retirou uma mancha no couro cabeludo, cuja biópsia deu negativa para câncer, mas cerca de seis meses depois apareceu um caroço no local, que já a levou a duas cirurgias, quimio e radioterapia. Zezé tem um melanoma grau três, com crescimento muito agressivo e precisa agora da imunoterapia.
“Estou em ótimas mãos e confiante. E tentando encarar esse câncer como um presente de Deus, pois eu era aquela pessoa estressada que não sabia receber nada de ninguém, mas agora preciso ser paciente. Hoje, quando vejo alguém com uma mancha minha vontade é correr para alertá-la”, diz.
Verão 2026 será mais quente e com menos chuva
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o Verão 2025/2026 será com temperaturas acima da média histórica na maior parte do Brasil. E a semana passada já deu mostras do que vem pela frente, com a onda de calor que fez os termômetros passarem dos 35 graus em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
No Nordeste, são previstos valores de temperatura acima da média histórica em toda a região, principalmente na Bahia e no sul do Maranhão e do Piauí, onde os valores podem superar 1°C acima da média. Nos demais estados, as temperaturas devem ficar até 0,5 °C acima da média. A última semana do ano terá temperaturas máximas em Salvador, segundo o Climatempo, em torno de 30 graus, mas o ano já começa com previsão de esquentar, com a máxima chegando a 32 graus no próximo sábado.
As projeções indicam volumes de chuva abaixo da média climatológica em praticamente todo o Nordeste nos três meses do Verão, principalmente na Bahia, centro-sul do Piauí, e maior parte dos estados do Sergipe, Alagoas e Pernambuco, onde são previstos volumes até 100 mm abaixo da média histórica do trimestre. Por outro lado, são previstos volumes de chuva próximos ou acima da média no centro-norte do Maranhão, norte do Piauí e noroeste do Ceará.
O Verão passado foi o sexto mais quente no Brasil desde 1961, com uma temperatura 0,34°C acima da média histórica do período de 1991 a 2020. As temperaturas ficaram acima da média em grande parte do Brasil. As maiores temperaturas máximas foram observadas, principalmente no Rio Grande do Sul, devido à ocorrência de três ondas de calor que atuaram no estado.
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