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Greves na Ufba: "sabe quando entra, não sabe quando sai"?

Publicado quinta-feira, 08 de novembro de 2007 às 09:02 h | Autor: Felipe Paranhos e Mirela Portugal

Se tem uma coisa que assusta todo candidato a aluno da Universidade Federal da Bahia são as greves. Além da ansiedade ante as provas, da dúvida quanto à escolha do curso, vestibulandos como Bruno Santos, do 3º ano do colégio Apoio, ainda se preocupam com as possíveis [prováveis?] greves na Ufba. "Pelo que ouço, quase todo ano os estudantes ficam sem aula".

 

Manifestações fazem parte do cotidiano dos alunos da Ufba, mas o conhecido raciocínio do "sabe quando entra, mas não quando sai", reproduzido por candidatos como Bruno, já não é tão verdade assim.



O último ano com interrupção de aulas foi 2004, quando houve uma greve dos professores, com duração de 38 dias e uma paralisação dos estudantes, que durou 115 dias. No período desta última paralisação, no entanto, algumas unidades estabeleceram um calendário paralelo, com alguns professores continuando as aulas. As greves daquele ano causaram um atraso de um semestre letivo. No ano seguinte, à custa da falta das férias de verão, o calendário voltou ao normal.

 

Neste ano, os servidores públicos cruzaram os braços por 75 dias. Deixaram de funcionar serviços como o da Biblioteca Intercampi e o encaminhamento do Salvador Card e as unidades tiveram dificuldades na aquisição de novos equipamentos. Apesar dos transtornos, as aulas não pararam.



Na opinião do coordenador-geral da Assufba, Jorge Oliveira, a fama de greves freqüentes da federal da Bahia é injusta. "Nossas greves são apenas fases locais de movimentos nacionais, não é um artifício que usamos a torto e à direito. As decisões são da plenária federal". Jorge também explica que antes que uma paralisação se torne oficial, os membros do sindicato participam de reuniões e negociam com o Ministério do Planejamento e o Ministério da Casa Civil. "São muitas instâncias, e é até natural que elas não possam lidar conosco sempre que queremos. Então partimos para a greve sempre que as necessidades se tornam urgentes", diz.



A greve dos servidores foi encerrada dia 5/09, quando cerca de 400 servidores votaram pelo retorno às atividades. A decisão foi fruto de um acordo assinado entre o comando greve e o governo, que garante uma evolução salarial em etapas anuais, de maio de 2008 até julho de 2010.



Jorge explica que, geralmente, as motivações das greves são de cunho salarial. Muitas vezes podem ser reivindicados também por melhorias de carreira. "Uma das nossas últimas reivindicações foi referente à valorização dos servidores no ensino superior, que sempre se sentiram desvalorizados dentro do sistema".



Mudança - Desde 2005, a Associação dos Professores Universitários da Bahia mudou a forma de votação de pautas de greve. Até então, a APUB convocava os professores e aqueles que comparecessem à assembléia poderiam votar. Mas, segundo Joviniano Neto, presidente da associação, o quórum não era grande e, por isso, se fazia necessária a "democratização do movimento".



Após a decisão, toda pauta de paralisação precisa passar por votação nas unidades universitárias. Joviniano diz que as alterações na condução das assembléias transformaram a relação do estudante com o movimento docente e, por sua vez, com as greves. "Com a mudança, aproximamos os estudantes do processo de votação. Assim, os alunos podem cobrar dos seus professores justificativas para as suas decisões."



Ainda em 2005, houve uma consulta desse tipo. A maioria (78%) dos professores decidiu que não haveria greve.  



Reuni - Vestibulandos e alunos já matriculados na Ufba podem ficar tranquilos: o Reuni não deve render greve. Ao menos esse é o que diz Fabrício Santana, membro do DCE e um dos organizadores das manifestações contra a adesão ao programa do governo federal. Não tem clima de paralisação por dois motivos bem simples: o semestre letivo já está no final, e não há um número suficiente de estudantes participando das assembléias para deliberar uma greve geral.



O Diretório dos estudantes tem adotado uma postura cautelosa em relação às greves, tentando evitar sua banalização. Para que as aulas sejam oficialmente paralisadas, primeiro deve haver uma real mobilização da comunidade estudantil da Ufba - que tem em torno de 22 mil estudantes. Os estudantes devem, primeiro, estar conscientizados da pauta de reivindicações. "Na última greve, 2004, só decidimos colocar nossa vontade em prática porque a assembléia estudantil reuniu 5 mil alunos. Hoje conseguimos no máximo 600", diz Fabrício.

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