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ENTREVISTA

Confira programação de curso sobre o cinema dos anos 80

Aulas começam na manhã deste sábado, 13, e segue nos próximos três sábados, sempre às 10h30

Por Rafael Carvalho | Especial para A TARDE

10/07/2024 - 16:41 h
Cena de "Falcões da Noite", de Bruce Malmuth, um dos filmes que será exibido
Cena de "Falcões da Noite", de Bruce Malmuth, um dos filmes que será exibido -

Muito se fala sobre as novas cinematografias que eclodiram no mundo todo depois da Nouvelle Vague, na França, na década de 1960; ou na reinvenção dos gêneros cinematográficos e o manejo de filmes de grande apelo popular nos anos 1970. Mas pouco destaque se dá ao cinema feito na década seguinte.

Para sanar um pouco essa lacuna, o Cineclube Glauber Rocha oferece o curso “O Cinema dos anos 80: Entre a Desilusão e a Utopia”, a ser ministrado pelo crítico e curador Adolfo Gomes. O curso começa na manhã deste sábado, 13, e segue nos próximos três sábados, sempre às 10h30. As inscrições custam R$ 40 e ainda estão abertas; podem ser feitas a partir das orientações na página oficinal do Cineclube Glauber Rocha no Instagram.

Gomes, em entrevista para A TARDE, contou que o cinema da década de 1980 foi o que ele viveu de modo mais intenso e afetivo. Isso serviu para que ele fizesse um recorte para o curso. “Diante da diversidade da produção de uma década, pretendo adotar um viés mais memorialista. E não só falar dos filmes, mas também do contexto social e político do Brasil nesse período, de como o fim da Ditadura Militar nos enchia de esperança e do quanto a liberdade continua importante”, pontuou.

A década de 1980 também é vista como o fim de algumas eras (da subversão no cinema norte-americano, da despedida das novas ondas em vários lugares do mundo, fora a consolidação do modelo industrial de fazer filmes para as massas). Seria essa a “desilusão” a que Gomes se refere no título do curso?

“A desilusão tem a ver com o triunfo do conservadorismo no mundo, de Reagan a Margareth Thatcher, passando por Sarney”, respondeu o ministrante. “No que diz respeito ao cinema, pretendo falar sobretudo dos filmes que fracassaram quando da sua exibição, já que havia entre o público uma certa esquizofrenia: o tom celebrativo alternando com certo niilismo. É o que podemos chamar de caldo cultural da época”, complementou.

Gomes falou também sobre a ideia de “utopia” que vem do título do curso, destacando esta palavra como a que melhor define o cinema dos anos 1960/1970. E afirmou: “Como não vivi essa época, a emprestei para voltar àquele tempo. Em certo sentido é uma utopia minha, que os filmes que vi no período continuem a me alimentar”.

Exibições complementares

Sendo também um dos coordenadores e curadores do Cineclube Glauber Rocha, o curso será atrelado à exibição de alguns filmes no domingo seguinte, coadunando a teoria com o exercício prático do visionamento e discussão das obras. O primeiro deles é o pouco conhecido Falcões da Noite, de Bruce Malmuth.

Trata-se de um filme policial estrelado por Sylvester Stallone, depois do sucesso de Rocky – Um Lutador. Ele vive um agente da lei que passa a perseguir um terrorista internacional vivido por Rutger Hauer (mais conhecido como o vilão de Blade Runner). “Pensamos em trazer filmes não muito óbvios, mas que estimulassem um novo olhar do público”, explicou o curador sobre as escolhas da programação.

O próximo filme segue esse mesmo caminho: Furyo – Em Nome da Honra, dirigido pelo japonês Nagisa Oshima (cineasta fundamental da Nouvelle Vague Japonesa anos antes) que fez o filme em co-produção com o Reino Unido. No elenco, David Bowie interpreta um major britânico que chega em um campo de concentração na ilha de Java, em plena Segunda Guerra, comandado por um capitão japonês que logo sente uma desmedida atração pelo oficial inglês.

Para os mais nostálgico, a surpresa dessa programação é o filme Clube dos Cinco, de John Hughes, clássico adolescente instantâneo que marcou época e toda uma geração mais jovem. Encerra a programação Crimes e Pecados, drama dirigido por Woody Allen, um pouco distante das suas mais conhecidas comédias.

“A escolha mais pessoal dessa seleção é o filme de Woody Allen. Depois dessa obra, passei a ver o cinema como espaço de reflexão e não apenas fuga, abrigo. Representa, precocemente, o fim da minha adolescência”, arrematou Gomes.

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