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ENTREVISTA

Projeto filantrópico apoia profissionais do audiovisual brasileiro

Ao Cineinsite A TARDE, Luísa Lucciola falou sobre a atuação do Projeto Paradiso e incentivo à cultura

Por Edvaldo Sales*

16/09/2023 - 13:00 h
Luísa Lucciola, jornalista e coordenadora de Comunicação e Gestão de Talentos, falou sobre a atuação do Projeto Paradiso no Brasil
Luísa Lucciola, jornalista e coordenadora de Comunicação e Gestão de Talentos, falou sobre a atuação do Projeto Paradiso no Brasil -

Impulsionar o crescimento profissional dos talentos do setor audiovisual, com foco na criação de histórias conectadas com seus públicos. Esse é o objetivo para o qual o Projeto Paradiso foi fundado em 2019 por Olga Rabinovich. Ela preside a iniciativa, criada dentro do Instituto Olga Rabinovich, que investe em formação profissional e geração de conhecimento no setor audiovisual, com programas de bolsas e mentorias, além de cursos, seminários e estudos.

Em entrevista ao Cineinsite A TARDE, Luísa Lucciola, jornalista e coordenadora de Comunicação e Gestão de Talentos, falou sobre a atuação do Projeto Paradiso no Brasil. Formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela já produziu o documentário “Who Killed Marielle Franco?”, sobre o assassinato da vereadora carioca, para a emissora Al Jazeera English.

De acordo com Lucciola, a iniciativa, focada na internacionalização, atua por meio de parcerias com instituições de referência no Brasil e no mundo, criando oportunidades para profissionais em diferentes fases da carreira. O público alvo do projeto são roteiristas, diretores, script-doctores, produtores, distribuidores, exibidores, programadores, entre outros.

A jornalista deu detalhes sobre iniciativas do Projeto Paradiso, como a Rede Paradiso de Talentos e a Incubadora Paradiso - programa de formação voltado ao desenvolvimento de projetos de longa-metragem de ficção. Seu objetivo é impulsionar coproduções internacionais de alto valor artístico, assim como o desenvolvimento profissional dos participantes – roteiristas, diretores e produtores independentes e estreantes, desenvolvendo seu primeiro ou segundo longa-metragem.

Ao longo de seis meses, a Incubadora oferece aos projetos selecionados recursos financeiros para viabilizar o trabalho de escrita, além de mentorias e atividades de networking focadas em ampliar seu potencial de realização e alcance. As obras são beneficiadas ainda com coaching, workshops, serviços e participação em eventos nacionais e internacionais.

Luísa Lucciola entrou para o Projeto Paradiso em 2020 para cuidar da comunicação.

Tínhamos o desafio de explicar quem a gente era para o mundo e também de fazer as oportunidades que oferecemos chegar às pessoas certas. Temos um espectro de oportunidades muito grande para quem está saindo da faculdade agora, para quem já tem dois filmes lançados, para quem é distribuidor, para quem é roteirista, para várias áreas diferentes do audiovisual. Nesse ínterim, eu fui aprofundando ainda mais essa relação com o audiovisual. Desde o começo deste ano, eu assumi também essa área de gestão de talentos.
Luísa Lucciola - jornalista e coordenadora de Comunicação e Gestão de Talentos

A coordenadora de Comunicação do Projeto Paradiso também falou sobre o PL da Cota de Tela (PL 3696/23), aprovado com unanimidade pelo Senado Federal e que estabelece a obrigatoriedade de exibição de obras nacionais na TV fechada. A votação, em regime de urgência, retirou a renovação da cota nos cinemas. Confira a entrevista completa:

Cineinsite A TARDE: O que é o Projeto Paradiso e quais são suas principais iniciativas?

Luísa Lucciola: O Projeto Paradiso é uma filantropia que tem como objetivo apoiar profissionais do audiovisual brasileiro. E a gente faz isso oferecendo, principalmente, bolsas e prêmios. São as nossas principais atuações. São bolsas de estudo em instituições renomadas.

Sempre eles que fazem a seleção, nunca é a gente. Aí quando a pessoa é selecionada para uma bolsa, nós pagamos a passagem e outros cursos para a pessoa conseguir cursar. A gente tem muito foco na internacionalização. Acreditamos que a presença dos profissionais brasileiros no exterior ajuda a fortalecer o audiovisual brasileiro e também fortalece a carreira dessa pessoa, porque ela cria várias conexões e amplia os horizontes.

Os prêmios, a gente oferece junto com instituições brasileiras, como o DiALAB, NordesteLAB e o BrLAB. Às vezes é um prêmio em dinheiro para o desenvolvimento da carreira de um talento, às vezes é uma oportunidade de formação no exterior em algum grande laboratório. São prêmios variados.

A gente tem também outros programas. A Incubadora Paradiso, que é um programa de desenvolvimento de longas-metragens de ficção. De modo geral, só trabalhamos com longas de ficção e séries. A gente não trabalha com um documentário, [porque] realmente tem que ter um limite financeiro.

Cineinsite A TARDE: As iniciativas do Projeto Paradiso abrangem a Bahia?

Luísa Lucciola: O Projeto Paradiso é uma instituição sediada em São Paulo, mas a gente tem talentos - que são as pessoas as quais recebem o nosso apoio - de muitos estados do Brasil. Se eu não me engano, 24% dos nossos clientes são do Nordeste.

Tem vários talentos aqui de Salvador. A [cineasta] Ana do Carmo, [a roteirista] Eva Freire, a Vânia Lima, que é a produtora da Tem Dendê. Tem outras que não são de Salvador, mas são da Bahia, que é a Talita Arruda e a Marina Tarabay, que são distribuidoras.

A gente tem várias instituições parceiras que são daqui da Bahia também. Tem o DiALAB, que é do Emerson Dindo, o NordesteLAB, do Gabriel Amaral Pires. Temos uma conexão grande com Salvador especificamente, mas, de forma geral, a gente tem esse exercício de sair do eixo Rio-São Paulo e tentar ter uma atuação nacional mesmo.

Cineinsite A TARDE: Como uma pessoa interessada pode receber o apoio do Projeto Paradiso?

Luísa Lucciola: Geralmente, no começo do ano, a gente divulga quais bolsas vamos oferecer. Tem instituições que são nossos parceiros há 5 anos. A EICTV, que é a Escola de Cinema de Cuba, por exemplo, todo ano a gente seleciona um profissional que vai ganhar uma bolsa para passar nove meses em Cuba estudando roteiro, numa maestria muito revolucionária. É uma bolsa que a gente oferece todos os anos. Existem várias oportunidades que abrimos no meio do caminho.

Recomendamos muito que as pessoas acompanhem a gente nas redes sociais, na nossa newsletter, para receberem essas oportunidades. Se tiver um brasileiro selecionado, ele vai ganhar uma bolsa assim, sabe? A gente deixa a instituição sempre escolher, porque a gente não quer interferir no funcionamento dela, mas temos uma experiência muito boa de ver que as oportunidades para as quais a gente não oferecia bolsa, por exemplo, nunca tinha tido brasileiro selecionado.

Quando a gente oferece, aumenta o número de candidaturas de brasileiros e tem projeto brasileiro entrando. Até mesmo oportunidades na Europa, mais exclusivas, mais difíceis, mais difíceis de acessar, a gente tem tido um retorno muito positivo nesse sentido.

Cineinsite A TARDE: Quais os principais nomes de personalidades que receberam o apoio do Projeto Paradiso?

Luísa Lucciola: A gente não forma ninguém do zero. Tem muita gente que entra na rede muito novinho e aí a gente vai acompanhando a carreira toda, mas é óbvio que o mérito da formação é deles. Não é nosso, a gente tenta só dar um empurrãozinho. Tem a Ana do Carmo, que é uma cineasta aqui de Salvador. Ela é muito jovem, mas assim, é aquela pessoa que você olha e fala ‘tem uma carreira brilhante pela frente’. Ela é uma profissional muito bem articulada. Ela é roteirista, diretora e tem uma produtora que se chama Saturnema Filmes.

Mas a gente tem vários profissionais da nossa rede que já são mais consolidados, como o Esmir Filho, que é diretor de “Boca a Boca”, série da Netflix, a Grace Passô, que é atriz, roteirista e diretora. A Carolina Markowicz, que é uma diretora de São Paulo, é muito nova, mas ela acabou de ganhar um prêmio no Festival de Toronto, em reconhecimento da carreira dela, mesmo sendo tão jovem. Teve um filme dela, o ‘Pedágio’, que ficou entre os seis que seriam que concorriam por uma indicação ao Oscar.

Pensando em pessoas famosas que fazem parte da rede tem a atriz Dira Paes, que está ingressando na direção. Ela recebeu uma bolsa nossa para desenvolver um filme dela. É engraçado porque ela é uma pessoa super consolidada já no mercado audiovisual, enquanto atriz, mas nessa carreira por trás das câmeras, ela também é uma pessoa que está começando e que se beneficiou de um apoio, porque o projeto dela foi selecionado.

O Lázaro Ramos, inclusive, é do nosso Conselho Consultivo, o Marcelo Gomes também, que é diretor do Ceará. Tem outros como: Aline Lourena, produtora criativa e executiva de TV; Matias Mariani, produtor fundador da Primo Film; entre outros. São nove profissionais de várias áreas do audiovisual, que é para gente se sentir abastecido e bem munido para tomar as nossas decisões.

Luísa Lucciola, jornalista e coordenadora de Comunicação e Gestão de Talentos
Luísa Lucciola, jornalista e coordenadora de Comunicação e Gestão de Talentos | Foto: Cristiano Lima

Cineinsite A TARDE: Você deve ter acompanhado toda a polêmica em torno do PL da Cota de Tela, que foi aprovado no Senado retirando o cinema do texto final. Qual a sua avaliação sobre isso?

Luísa Lucciola: É um projeto de lei muito urgente. A gente vê os exemplos internacionais. Nós acompanhamos muito as atuações de outros países nessa área e a gente vê que os países que mais protegem a sua produção, que mais guardam, reservam cotas e criam um público e que estão ali se alimentando, se abastecendo e se blindando, de certa forma, são os que têm audiovisuais mais potentes e mais criativos.

Esses países sempre acabam extrapolando o nacional. O objetivo é proteger o nacional, mas ele acaba gerando tanta força que ele extrapola e vira uma com uma grande potência internacional, que é o caso da Coréia, Alemanha, França e o próprio Estados Unidos.

No Brasil, a experiência que a gente teve de leis de estímulo para ter cota de telas foi muito valiosa para o audiovisual brasileiro. A gente tem toda uma geração de cineastas e produtores de conteúdo formados. [Geração] que é formada porque existe uma obrigação de você ter essa produção. São coisas muito boas que são feitas. A gente não tem nenhuma dúvida da qualidade do audiovisual nacional. Eu acho que essa legislação vem para somar e ajudar esses filmes a chegarem às pessoas.

>>> PL da Cota de Tela ignora cinema e é alvo de críticas: “é um golpe”

Cineinsite A TARDE: Qual a sua opinião sobre o posicionamento de algumas entidades do setor exibidor que protestaram contra a votação do PL e disseram defender um amplo debate sobre o tema envolvendo todos os elos da cadeia cinematográfica?

Luísa Lucciola: O Projeto Paradiso se coloca muito como parceiro da indústria. Para a gente é muito difícil se colocar de um jeito que seja, entre aspas, isento. A gente quer muito que esses filmes sejam vistos e que esses filmes cheguem às pessoas. Quando a gente vê um cenário como o lançamento de ‘Barbie’ e ‘Oppenheimer, que não havia espaço para essas obras do cinema nacional, a gente se pergunta: Como é que você faz caber todo o resto?

A falta de proteção e espaço para o audiovisual brasileiro é uma questão. Ao mesmo tempo, a gente também vê, em outros caminhos, ‘Cangaço Novo’ nos streamings, uma série que aqui está bombando muito, mas no mundo inteiro também.

A sensação é essa, que existe um potencial muito grande do audiovisual nacional e que, quando a gente consegue garantir os espaços, consegue garantir a realização, fazer chegar lá, ele fala por si mesmo. ‘Bacurau’ também é um filme que se distribui para o mundo inteiro.

Cineinsite A TARDE: Na sua avaliação, é necessário investir mais no marketing dos filmes nacionais para que ele alcance mais pessoas e, consequentemente, tenha mais espaço nos cinemas?

Luísa Lucciola: Eu acho que essa área da distribuição, que abrange o marketing, tem profissionais muito competentes aqui no Brasil. Tem muita gente boa pensando e fazendo isso. Porém, existe uma questão que é o modelo de negócio do audiovisual do cinema, especificamente, está se transformando muito.

Até 2018 ou 2020, muito do dinheiro que era usado pelas distribuidoras para as ações de marketing vinham das salas de cinema, e com o esvaziamento total das salas em 2020, 2021 e 2022 [isso foi impactado]. Agora que isso está sendo retomado, até com esse fenômeno Barbieheimer, a gente está vendo as salas voltarem a ter um movimento maior, tem muita gente que voltou para cinema só agora.

Com isso, eu sinto que é como se você tirasse um pouco muito dos recursos de distribuição que você tinha antes e fica muito mais difícil você fazer uma ação de marketing. No fim das contas, acaba sendo menos uma dificuldade de ‘a gente não sabe fazer isso’ e mais uma dificuldade que é falta de recurso.

Não tem tantos editais de distribuição, muitas vezes os filmes chegam para ser distribuídos com todo o dinheiro que eles já tinham gasto com pós-produção, a compra da trilha, a produção em si, e aí não sobra o que fazer para distribuir, mas existem muitos caminhos assim para distribuição que vão além da sala de cinema.

O Projeto Paradiso tem uma iniciativa nessa linha. A gente tem muito talento na área de distribuição. A gente chama a iniciativa de Design de Audiência, que ensina como você chega na audiência do seu filme. Não são todos os tipos que são para todo mundo e não são todos os tipos que têm que estar em uma ‘salona’ de cinema. [O objetivo] é pensar em como fazer o seu filme chegar a um público que faça sentido para ele.

Se é um filme adolescente, faz mais sentido fazer um cineclube com escolas e a gente exibe esse filme nesses locais e isso vai valer muito mais a pena, porque vai sensibilizar muito mais gente, vai chegar mais pessoas do que se você tivesse no Glauber Rocha, por exemplo. Óbvio que é um pensamento muito mais complexo que esse, muito mais profundo, mas a lógica é pouco essa, de desenvolver um trabalho bem personalizado.

*Sob supervisão de Bianca Carneiro

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Tags:

Cineinsite A TARDE entrevista Luísa Lucciola PL da Cota de Tela Projeto Paradiso

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