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AUDIOVISUAL

Zezé Motta brilha em curta baiano no Festival de Paraty

Festival de Cinema de Paraty traz o uníssono das atuações no doloroso e (quase) desesperançoso curta ‘Deixa’

Por João Paulo Barreto*

02/08/2024 - 10:00 h
‘O filme é um melodrama, mas que tem os elementos de gênero’, diz a diretora Mariana Jaspe
‘O filme é um melodrama, mas que tem os elementos de gênero’, diz a diretora Mariana Jaspe -

Um dos destaques relacionados à presença de cineastas baianos na primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Paraty conta com um nome cuja ressonância do peso para a cinematografia brasileira ecoa de modo sempre impactante ao tê-la em qualquer projeto. Trata-se da grande Zezé Motta, que atuou sob a batuta da soteropolitana Mariana Jaspe no curta-metragem Deixa, filme que conta, também, com o ator Dan Ferreira, que interpreta o par romântico da personagem Carmen, vivida por Zezé.

Se passando em uma tarde cuja apreensão palpável da protagonista se faz notar através da voz às vezes tensa, às vezes doce e da expressão forte de Motta, o filme coloca aquela mulher livre no limiar do retorno para uma prisão conjugal, uma vez que o marido vai deixar a cadeia naquele mesmo dia, após cumprir uma pena de doze anos.

No processo de construção daquela tensão para o espectador, bem como em relação às razões desconhecidas que levam mulheres a permanecerem em relacionamentos abusivos, o roteiro de Jaspe utiliza elementos que remetem a um cinema de gênero que encontra referências em mestres como John Carpenter e George Romero.

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“Deixa é o meu segundo curta. O primeiro é Carne, de 2018, que foi um exercício de cinema de gênero e fez uma carreira que eu não esperava porque foi o meu trabalho de conclusão do curso de Direção de Cinema", explica Mariana ao A TARDE.

“Quando filmei Carne, decidi depois fazer uma trilogia que eu chamo de ‘Trilogia do Corpo’. Meu segundo filme iria ser dentro dessa trilogia de gênero de horror a partir de corpos, e seria algo protagonizado por mulheres. Comecei a estudar e alguns elementos vieram. O que eu quero tratar? Como eu vou tratar esse corpo? Eu fui estudar sobre zumbis, e tem um texto do George Romero que fala sobre o que é um zumbi ali em A Noite dos Mortos Vivos (1968). No texto, o zumbi é um corpo que não corresponde às expectativas que a gente tem dele. Do que a sociedade tem dele. E aí eu fiquei com esse corpo na mente, esse zumbi que não corresponde ao que se espera dele", relembra a diretora.

Ameaça externa

Ao trazer esse aspecto sutil e ao mesmo tempo tão marcante do cinema de Romero, Mariana Jaspe acabou por encontrar uma relação com a própria família, ao relembrar da avó, que permaneceu anos em um casamento no qual não parecia ser feliz. “Lembro de lhe perguntar a razão dela não se separar. Ela me disse que eu não entenderia. Quando estava construindo o roteiro de Deixa, veio essa história à minha cabeça e que casa muito com a ideia do corpo, do zumbi e do inquietante. E aí eu começo a construir essa história do por que essas mulheres ficam nesses relacionamentos. E eu fui entender o que minha avó quis dizer com aquilo, mas eu não tenho resposta para isso. E o filme nasce muito disso. É quando eu começo a escrever a história já com a Zezé Motta em mente para o papel”, detalha Mariana.

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Com elementos cênicos que, juntamente à presença de peso do casal de protagonistas, ajudam a salientar a tensão citada anteriormente com a saída do marido de Carmem da cadeia, Mariana Jaspe cria uma relação também sutil com o cinema de John Carpenter, ao abordar a ideia do elemento invasor.

“Tem uma coisa do cinema do Carpenter que eu acho que é muito maravilhoso: essa coisa do estranho que está fora. Tem sempre algo estranho que vem de fora e que não se explica. Um exterior estranho que, às vezes, se explica, mas muitas vezes, não. Mas tem esse exterior estranho. Essa divisão de, alguma maneira, dentro-fora”, ela pontua.

Melodrama e gênero

Um dos elementos a captar, isso vem do som de um telefone que abre e fecha o filme, gerando tanto a apreensão da protagonista diante da mudança que a vida irá tomar a partir daquele retorno, quanto a dúvida sobre qual será a escolha dela. No som pungente e agudo a cortar aquele silêncio pacífico, unido à expressão apreensiva de Zezé Motta, Deixa marca essa sensação de aprisionamento pelo qual passou aquela mulher vivida e que, tendo tido doze anos de liberdade com a ausência de um abusivo marido, conseguiu viver novamente e encontrou um novo amor. Agora, aquela realidade parece começar a desmoronar.

“O filme é um melodrama, mas que tem os elementos de gênero. Eu não fiz um filme de gênero, mas ele tem esses elementos. E o telefone é um item de cena fundamental, por ser essa ligação do dentro- fora que falei antes. Foi o primeiro item de cena que eu comprei, isso antes mesmo de pensar o roteiro. Eu sabia que eu ia usar esse telefone, antes de saber qual era a história ainda”, relembra Mariana, ao abordar o processo criativo de construção de uma história a partir desse objeto central.

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“Eu gosto desses elementos que me ajudam nessa construção. O som dele e do interfone ao final, mas é esse elemento que conecta o dentro com o fora. Com esse exterior opressor, violento, seja lá o que for esse exterior, ele se conecta com esse lugar seguro que é dentro de casa. E o som, a construção sonora, é importante”, destaca Mariana.

Com sua conclusão em aberto, fica uma sensação de esperança por aquela mulher, cuja vida parece estar retroagindo, voltando ao abismo após alguns anos de luz e esperança afetiva.

“Eu não sei o que a mantém presa a esse homem. A minha avó falou aquilo de eu não entender a escolha dela, e eu acho que ela estava certa. E, na verdade, eu não sei nem se a Carmen vai aceitá-lo de volta. Porque o personagem do Dan ter ido embora não significa que o marido dela entrou na casa. A gente não sabe. O telefone ficou tocando. É um filme que não tem resposta. Não se sabe o que ela faria”, finaliza.

*O jornalista viajou a convite do Festival de Cinema de Paraty

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Tags:

curta-metragem Dan Ferreira Deixa Festival de Cinema de Paraty Paraty Zezé Motta

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