A TARDE BAIRROS
Acarajé atrai baianos e turistas
Ser conquistado pelo acarajé é um momento crucial para quem circula por Itapuã
Por Icaro Lima
O despejo do azeite de dendê no tacho das baianas serve como um anúncio importante para moradores e turistas: a noite em Itapuã es tá começando, e é o acarajé que age como um dos principais atrativos do bairro.
Na junção da Ladeira do Abaeté com a Rua Aristides Milton, é possível observar, constantemente, uma grande movimentação de pessoas assim que a tarde começa a ir embora. É lá que encontramos o tradicional Acarajé da Cira, ponto que leva o nome de uma das baianas mais famosas do Brasil, e que faleceu em 2022. Atualmente, os familiares de Cira levam adiante esse negócio, que envolve também outro tabuleiro, localizado no Rio Vermelho. Cristina de Jesus Santos, uma das filhas da baiana , exalta essa responsabilidade. “Significa manter o legado que ela deixou. É um significado muito grande. A gente continua com a mesma qualidade, tudo como ela deixou”, conta.
Outra moradora de Itapuã e que também representa a continuidade de uma das maiores expressões do estado é Ivana Muzenza, que comanda o Tabuleiro Cinco. Ela relembra com orgulho a infância próxima dessa atividade. “É uma questão de herança, de família. Já nasci com esse dendê no sangue. Eu lembro que, quando criança, era muito atentada na escola, tomava suspensão, e minha mãe achava que trabalhar com ela no tabuleiro era um castigo, mas não era. Ficava lá batendo massa, pequena, com uns 5, 6 anos. Eu achava o máximo”, diz.
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Ivana, que ocupa a quinta geração de uma família moldada pelo acarajé (por isso, o “Cinco” no nome do tabuleiro), destaca a importância dos pontos turísticos do bairro e como eles são influenciados pelas mudanças sociais. “Gosto muito de sentir cada ponto daqui porque cresci curtindo cada um deles. O Abaeté, o Farol, a [Praia da] Sereia, a Praça Dorival Caymmi. Existem muitas modificações porque existe essa questão das Gerações, né? Na minha época, gostava de samba, que era o que Itapuã vivia, de samba e lambada, hoje, vive de arrocha e paredão. São gerações totalmente diferentes, são manifestações culturais, coisas que a gente tem que respeitar”, explica.
História contada a pé
Ser conquistado pelo acarajé é um momento crucial para quem circula por Itapuã, mas há outras experiências que também carregam muito da identidade do bairro. Uma dessas formas é oferecida por Juci Santana 43, que comanda um tour que apresenta Itapuã a partir de pontos históricos, sob uma perspectiva afrocentrada que busca valorizar traços importantes da construção do bairro.
O passeio, que dura em média 3h, conta, em média, com quatro pessoas. Ele passa por diversos locais que ajudam a contar a história de Itapuã, como residências de figuras importantes, terreiros de candomblé e espaços que fazem parte da rotina dos moradores, como o Parque Metropolitano do Abaeté. Tudo isso a pé, a fim de criar uma conexão ainda maior com cada trecho. Juci, que defende com orgulho a posição de nativa de Itapuã, conta que grupos de diferentes estilos já fizeram o tour, e que o ajusta conforme os perfis de interesse de cada um. "Eles querem viver o que está se vivendo, e não necessariamente só bater uma foto e ir embora. Quer ver como acarajé está sendo feito, participar de um ensaio e fazer uma aula de percussão no Malê [Debalê], ir no terreiro de candomblé…", explica.
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