CLIMA
Agravamento da seca e elevação de queimadas afetam a agricultura familiar e o agronegócio
Culturas do café arábica e de frutas, como laranja, melancia e banana, são impactadas na produção e nos preços
O agravamento da seca e o aumento das queimadas em várias regiões do Brasil estão impactando a agricultura familiar e o agronegócio. Culturas como o café arábica, além de algumas frutas como laranja, melancia e banana, são apontadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) como as que foram mais afetadas na produção e nos preços.
Em nota da Conab, o setor de frutas teve os impactos climáticos são mais acentuados: "A laranja é a fruta que pode ter os maiores problemas devido à massa de ar quente, que está provocando grande estresse hídrico nos pomares, fazendo com que os preços se mantenham por longo período elevados. A produção de melancia pode ser também bastante afetada e a produção de banana já sofreu elevação de preços por causa da baixa quantidade produzida". Para o café, a safra de 2024 do grão está estimada em 54,79 milhões de sacas beneficiadas, redução de 0,5% se comparada com a produção obtida em 2023.
De acordo com Assis Pinheiro, diretor da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), a falta de chuvas tem comprometido a capacidade de recuperação das áreas afetadas, tanto na agricultura quanto na preservação das florestas. "A falta de umidade no solo, agravada pelas altas temperaturas, está tornando o solo mais suscetível à desertificação em algumas regiões. Precisamos implementar políticas de recuperação de áreas degradadas e investir em tecnologia de manejo para frear esse processo", afirma.
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Segundo Assis Pinheiro, o oeste da Bahia é a região em que mais tem sido fortemente impactada pela seca e pelas queimadas, com florestas e culturas típicas sofrendo os efeitos. “Hoje a agricultura tem que partir para a irrigação e práticas sustentáveis como plantio direto, quebra-vento e conservação dos mananciais. É preciso acabar com o uso do fogo”, ressalta.
Uma das culturas afetadas pela falta de chuva e altas temperaturas é o café. De acordo com João Lopes, presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), as condições climáticas têm dificultado muito a produção de café na Bahia. “No semiárido, já tivemos no passado 102 municípios produzindo café e hoje não chega a 50. A irregularidade da chuva e as altas temperaturas são preocupantes”. Ele também destacou que a produção de café, que já chegou a 5 milhões de sacas, está agora em 3,5 milhões, sendo a maior parte no sul da Bahia, onde há mais disponibilidade de água para irrigação.
Lopes também ressaltou que a redução não é um problema exclusivo do Brasil: “Tivemos uma redução mundial no volume produzido. Brasil, Vietnã, Colômbia, Peru, Indonésia quebraram mais de 10 milhões de sacas. Falta de chuva mesmo”. Ele prevê que os preços continuarão a subir, já que está distante a próxima colheita e “não temos onde buscar café para suprir essas quebras”.
Na Chapada Diamantina, o produtor de café Antônio Rigno compartilhou que a seca prolongada e as variações climáticas reduziram sua safra em 50%. “A mudança climática tem afetado principalmente a florada do café, que está desregulada, vindo em diferentes épocas do ano. Isso aumenta os custos de colheita e afeta a qualidade dos grãos”. Ele também apontou que a produção está ficando mais cara devido às medidas de adaptação, como a irrigação de salvamento, que nem todos os produtores conseguem implementar devido aos custos.
Frutas no norte
De acordo com Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), a fruticultura, especialmente no Nordeste, tem conseguido se manter competitiva devido ao alto nível de tecnologia implementado nas cadeias produtivas, mas ressalta sobre a preocupação com as condições climáticas.
“A fruticultura praticada no norte da Bahia contém um alto nível de tecnologia, inclusive de gestão de dados para o uso da agricultura de precisão, o que contribui para mitigar os efeitos das variações climáticas”, destacou Coelho. Mesmo assim, as condições climáticas adversas e emergências, como a seca e as queimadas, ainda representam desafios significativos para os produtores.
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Luiz Silva, produtor de uvas no Vale do São Francisco, ressaltou os desafios enfrentados por todas as culturas da região devido à seca. “Os maiores desafios enfrentados são as mudanças climáticas, as logísticas de escoamento da produção e a falta cada vez mais presente de mão de obra disponível”, afirma. Ele também ressaltou a importância dos projetos de irrigação implantados, que têm ajudado a mitigar parte dos efeitos da escassez de água e a impulsionar a atividade agrícola na região.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló
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