AGRONEGÓCIO
Algodão baiano supera secas e calor com tecnologia de ponta e inovações
Chuvas, secas e ondas de calor exigem ajustes no manejo do algodão

Por Joana Lopes e Laura Pita*

O êxito do produto local não ocorre, no entanto, sem desafios. Chuvas mal distribuídas, secas prolongadas e ondas de calor mais frequentes têm exigido ajustes no manejo. João Henrique Zonta, pesquisador da Embrapa Algodão, explica que a irregularidade das chuvas compromete tanto o plantio quanto o manejo fitossanitário.
“Em algumas safras enfrentamos até 30 dias sem chuva, o que gera estresse hídrico na planta. Já quando chove demais em poucas semanas, não conseguimos aplicar fungicidas a tempo, o que pode causar apodrecimento das maçãs de algodão”, detalha.
A tecnologia tem sido crucial para contornar esse cenário. “A crise climática traz um alto risco para a cotonicultura e exige dos agricultores uma adaptação contínua com inovação. A gente usa desde GPS até inteligência artificial no manejo do solo e na agricultura de precisão”, afirma Fernando Caetano, engenheiro agrônomo da Fazenda Bela Vista, em São Desidério.
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“Há mais de 15 anos usamos monitoramento georreferenciado, com imagens de satélite, drones e modelos de recomendação para aplicação variável de insumos. Tecnologias de precisão e práticas responsáveis, como essas, garantem a rastreabilidade e o alto padrão da fibra”, reforça Carolina Zuttion, gerente comercial da Fazenda Zuttion, localizada no mesmo município.
Os produtores ainda têm investido em irrigação — que já cobre uma área crescente na região — e em práticas de manejo do solo para aumentar sua capacidade de reter água. O custo, porém, é elevado: instalar um sistema de irrigação pode ultrapassar R$ 20 mil por hectare, e o custo de produção médio do algodão no oeste baiano chega a R$ 18 mil por hectare. Ainda assim, o investimento compensa. “Um ditado popular no setor afirma que ‘quem quebra com algodão, só se recupera com algodão’”, resume Zonta.
Parte dessa rentabilidade se deve ao fato de que o algodão pode ser aproveitado por completo, já que mesmo o que resta no solo após a colheita é aproveitado como matéria orgânica. Já o que vai para a algodoeira, é separado em pluma, caroço, fibrilha e impurezas. As impurezas, compostas por fibras e folhas, são usadas na alimentação animal. A fibrilha, uma fibra de baixa qualidade, é muito usada no artesanato nordestino, como em redes e sacos.

Do caroço à pluma
“O caroço é separado em línter (um subproduto) e o caroço propriamente dito. O línter é usado para fazer cotonetes e algodão vendido em farmácias. Já o caroço é esmagado e gera torta de algodão e óleo. A torta, rica em proteína, também vira alimento para os animais. E o óleo de algodão é comum na indústria alimentícia, presente em margarinas e óleos para fritura. Por fim, a pluma vira tecido”, detalha Paulo Schmidt, CEO da Schmidt Agrícola, propriedade em Luís Eduardo Magalhães.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló.
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