A TARDE BAIRROS
Mercado imobiliário da Barra está em plena expansão
Nos últimos cinco anos, mais de duas mil novas unidades residenciais foram lançadas na região
Por Joana Lopo

Salvador vive um forte movimento de renovação urbana, e poucos bairros refletem isso com tanta intensidade quanto a Barra. Nos últimos cinco anos, mais de duas mil novas unidades residenciais foram lançadas na região, consolidando-a como um dos endereços mais desejados da capital baiana, segundo o diretor da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Marcos Vieira Lima.
Com valores de metro quadrado que variam entre R$ 15 mil e R$ 30 mil, os novos empreendimentos oferecem um padrão elevado de acabamento, ampla infraestrutura de lazer e uma localização privilegiada.
Por isso, o mercado imobiliário da Barra tem atraído diferentes perfis de compradores. Enquanto investidores enxergam uma oportunidade promissora na locação de curta temporada, facilitada por plataformas digitais, jovens profissionais e nômades digitais também encontram no bairro um estilo de vida dinâmico, prático e conectado à modernidade. Para muitos, a Barra é mais do que um local para morar; é um estilo de vida.
“A beleza natural do Porto da Barra, o contemplar do pôr sol no Cristo e no Farol, o surf, a infraestrutura completa do bairro, tudo isso o torna um dos bairros mais atraentes da cidade de Salvador”, observa Vieira Lima.
Para ele, não há o que se falar em pontos fracos do bairro. “Os pontos fortes são a beleza natural e a infraestrutura de serviços no bairro, sem dúvida. Mas os pontos fracos são difíceis de achar. Talvez seja a necessidade de melhorar o uso do espaço público pela população”, destaca.
Desafios do bairro
Que a paisagem natural da Barra é um de seus maiores atrativos, ninguém questiona. O Porto da Barra, as ondas do Farol e o espetáculo do pôr do sol no Morro do Cristo são cenários que conquistam moradores e visitantes. Além disso, o bairro também oferece uma infraestrutura completa, com comércio variado, serviços de qualidade e acesso fácil a diferentes pontos da cidade, o que valoriza também o mercado imobiliário na região.
No entanto, desafios existem. Segundo o publicitário e diretor de comunicação da Amabarra, Waltson Campos, o ordenamento do uso do espaço público precisa ser aprimorado. Para ele, o crescimento acelerado, impulsionado pelos novos empreendimentos, exige estudos profundos e eficazes sobre a mobilidade urbana, saneamento e impacto ambiental. “A associação de moradores não é contra o desenvolvimento, mas destacamos a importância de um planejamento cuidadoso para garantir que o desenvolvimento da região ocorra de forma equilibrada e sustentável”.
Novos empreendimentos
Para quem busca um imóvel na Barra, há opções para diferentes perfis e orçamentos. Apartamentos antigos, sem elevador e garagem, têm preços mais acessíveis, enquanto os lançamentos recentes apresentam unidades entre R$ 350 mil e R$ 2,5 milhões. Entre os destaques estão os empreendimentos do tipo studio, que oferecem metragem reduzida, mas com ampla estrutura compartilhada, como academias, lavanderias coletivas, salão de jogos e piscina com lounge bar no rooftop.
O consultor imobiliário Cristiano Vargas observa que o bairro se tornou um verdadeiro canteiro de obras. “A demanda por novos imóveis é crescente, impulsionada não apenas pelos moradores locais, mas também por investidores que apostam na alta rentabilidade dos alugueis por temporada. Em 2024, mesmo com a Selic elevada, a venda de imóveis na Barra cresceu 20%, e as perspectivas para 2025 são ainda mais otimistas”.
O Futuro da Barra
Com uma localização privilegiada, infraestrutura consolidada e um mercado imobiliário aquecido, a Barra segue como um dos bairros mais valorizados de Salvador. Os lançamentos recentes têm transformado sua paisagem e impulsionado um novo perfil de moradores e investidores.
Entretanto, o crescimento acelerado exige planejamento. A necessidade de investimentos em mobilidade, sustentabilidade e gestão urbana será um desafio para os próximos anos. “O equilíbrio entre preservação histórica e inovação será fundamental para garantir que a Barra continue sendo um dos endereços mais desejados da capital baiana”, observa Vargas.
Morador há 55 anos do Porto da Barra, o surfista e mergulhador, Bernardo Mussi, que também é idealizador do Parque Marinho da Barra, ressalta a alegria de morar no bairro: “para mim a Barra é a síntese do que Salvador tem de melhor a oferecer para seus moradores e visitantes, pois é rica em história, meio ambiente natural e cultura. Aqui tem beleza, excelente localização e o astral do bairro que é incrível, sempre me atraíram de uma maneira muito especial. Como mergulhador e surfista, a Barra ainda me oferece condições excepcionais para a prática desses dois esportes”.
Para a novata na região, a empresária Maria Lúcia Oliveira, o bairro é tudo o que Bruno falou com a comodidade de ter uma variedade de serviços a disposição. “Moro aqui há dois anos e estou encantada. Não preciso nem sair daqui. Tem tudo o que preciso a poucos passos”.
A empresária mora em um dos novos empreendimentos construído próximo ao Farol da Barra, com apartamentos tipo estúdio de 33m². “Moro apenas com meu gato e o tamanho é suficiente para a gente. Casa grande só dá trabalho e despesa”, destaca Maria Lúcia.
De acordo com o publicitário e diretor de comunicação da Amabarra, Waltson Campos, houve uma explosão de lançamentos imobiliários, principalmente os de categoria studioesmart. “Isso fez o preço médio do m2 do bairro subir, colocando a Barra como um dos bairros com o m² mais caro da cidade. Foram muitos lançamentos nos últimos anos, que mudaram a paisagem do bairro”, observa ele.
Mercado de temporada
Outra transformação ocorrida com a chegada desses novos modelos de empreendimentos são os aluguéis por temporada. Embora não seja nenhuma novidade para o bairro, que é o mais procurado nos aplicativos de aluguel, esses apartamentos se tornaram a menina dos olhos de investidores.
“A intensa busca de turistas de toda parte do mundo por imóveis de temporada na região atrai investidores interessados nesse nicho de mercado, que apostam na alta rentabilidade dos alugueis e na valorização do metro quadrado na região. Não é à toa que a venda de imóveis registrou um crescimento de 20% em 2024 mesmo com a selic alta e com as excelentes perspectivas para 2025”, destaca o consultor de imóveis, Cristiano Vargas.
Ele reforça, ainda, que o bairro virou um verdadeiro “canteiro de obras”. “Muito difícil você caminhar pela Barra e não passar por algum plantão de lançamento. Isso deve-se principalmente pela carência do bairro em ofertas de imóveis novos, com academia, lavanderia coletiva, salão de jogos,itens de tecnologia construtiva,bem como piscina com lounge bar no rooftop e toda infraestrutura”.
Para o casal de paulistas, Silvia e Luis Antônio Marcondes, a Barra é o melhor bairro de Salvador. “Gostamos muito do bairro por sua localização, estrutura, comércio, gastronomia e segurança. Moramos por nove anos em Salvador e sempre que possível voltamos, e escolhemos a Barra”, conta Silvia, que está passando um mês na região, em um apartamento que alugou no edifício Nau, empreendimento residencial moderno, entregue em março de 2023 e que representa o novo conceito de moradia na região, combinando design moderno, lazer e sustentabilidade.
Oceania: um ícone da arquitetura baiana
Falar da Barra sem mencionar o icônico Edifício Oceania é ignorar um dos maiores símbolos do bairro, da arquitetura e da história de Salvador. Inaugurado em 1939, o prédio é um marco do estilo Art Déco e modernista, projetado pelo escritório carioca Freire e Sodré. Com nove pavimentos e unidades que hoje chegam a cerca de R$ 2 milhões, o edifício abrigou ao longo das décadas nomes ilustres como Flora e Gilberto Gil, Vladimir Brichta e Adriana Esteves, Lázaro Ramos e Wagner Moura.
O professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, Nivaldo Andrade, destaca que o Oceania foi pioneiro ao introduzir o conceito de condomínio vertical na cidade. "Antes dele, os edifícios eram ocupados por famílias inteiras. O Oceania possibilitou que diferentes pessoas adquirissem suas unidades de forma independente, transformando o modelo habitacional de Salvador", explica.
O edifício já abrigou diversos empreendimentos, como cassinos, sauna, boate, sorveteria, teatro e galeria de arte. Em 2008, o Edifício Oceania foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).
Segundo o professor, o prédio, além de ser o primeiro em regime condominal, abrigava cassino, boate, cinema, que depois foram transformados em outros empreendimentos. “Já teve um supermercado também. O prédio é também um marco por sua altura, enquanto os outros edifícios eram baixos, de quatro ou cinco pavimentos”.
Andrade ainda conta que a construção do prédio foi feita com material europeu. “Principalmente o cimento, para fazer o concreto armado, vinha da Europa. As louças e serralheria, enfim, essas coisas mais sofisticadas, vinham da Europa, dos Estados Unidos, de outros países, o que atrasou bastante a obra, por isso ele só foi inaugurado no início dos anos 40”, conta.
Andrade pesquisou a história do prédio para a sua tese de doutorado e relembra que a constução causou bastante polêmica na época. “Tinha um professor da Escola Politécnica que dizia que era um absurdo, que iria gerar sobrecarga em toda a infraestrutura da cidade. Ele se referia às redes urbanas de drenagem, de águas pluviais, enfim, de água, de energia elétrica, que eram todas muito preparadas para casas e não para ter tantas famílias morando no mesmo terreno”, explica.
Mas para ele, o prédio continua sendo um ícone peo pioneirismo na arquitetura e na tipologia de arquitetura de uso misto, que tem usos comerciais de serviços e também residenciais. E pela localização, em frente ao icônico Forte Santuário da Barra, com o farol da barra em cima.
Sobre o tipo de arquitetura, o professor explica que existe uma discussão sobre se é uma arquitetura moderna ou arquitetura estilo Art Déco. “Eu acho que ele é as duas coisas, porque elas não são excludentes. É moderna, mas tem muitos elementos estilísticos da Art Déco. Aliás, eu diria que ele é um dos maiores exemplares disso. Aquelas janelas circulares, parecendo escotilhas de navio, isso é uma coisa muito típica, tanto da arquitetura moderna quanto da Art Déco. Aqueles frisos verticais em baixo relevo também são características de Art Déco. Enfim, ele tem uma composição plástica muito interessante que é referência da arquitetura moderna desse período dos anos 30 e também da Art Déco. O projeto foi feito pelo escritório Freire e Sodré, que era um escritório do Rio de Janeiro que fez muitos prédios Art Déco em Copacabana”
Memorial Oceania
O Memorial Oceania foi inaugurado na festa de 80 anos, comemorado em agosto de 2023. “Foi um marco, um símbolo que a gente quer preservar no prédio, sobre as suas características originais. É uma réplica de uma sala construída, que teria sido construída na data de inauguração”, conta síndico, João Pedro.
Ele, que é morador do prédio há 40 anos, explica que embora não seja aberto ao grande público, é permitida a visitação de estudantes, assim como a de graduandos e profissionais de arquitetura. “Quem quiser pode pedir o acesso, mas não é aberto ao público. A gente dá autorização na portaria e a pessoa sobe no horário agendado”.
No prédio não há vagas de garagem fixas. “Temos estacionamento, área de estacionamento, mas nem todas têm. Não tinha a garagem junto com o apartamento, era vendida em escritura à parte. Mas o local que, de fato, brilha. Não é só o terraço belíssimo, o nascer do sol, mas o pôr do sol é um grande evento diário. Pode ser visto no terraço e é, sem dúvida, o pôr do sol mais bonito de Salvador”, completa.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes