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Chuva em Salvador: como evitar riscos ao dirigir em dia chuvoso
Não trafegue em vias alagadas, para minimizar perigos e erros que podem inviabilizar a cobertura do seguro
Por Núbia Cristina

As cenas de carros submersos em enchentes urbanas têm se tornado cada vez mais comuns no Brasil. Com o aumento da frequência e da intensidade das chuvas, alagamentos passaram a ser um desafio constante. Em Salvador, a falta de escoamento adequado em vários pontos da cidade tem elevado os perigos e os prejuízos para os motoristas.
Além de danos mecânicos sérios, como falhas no motor e na parte elétrica, os alagamentos podem gerar prejuízos irreparáveis ao patrimônio - e, pior, colocar em risco a vida de motoristas e passageiros.
Segundo Paulo Carvalho, sócio e corretor da Fic Bahia Corretora de Seguros, a cobertura mínima de seguros veiculares não é suficiente diante dos novos cenários climáticos. “A cobertura básica cobre apenas furtos e roubos. Hoje em dia, com as mudanças climáticas, é essencial contratar um seguro com cobertura compreensiva, que inclui incêndios, roubos, danos a terceiros e eventos da natureza, como alagamentos por águas pluviais”, alerta o especialista com mais de 20 anos de experiência no setor.
Alagamentos
Paulo explica que a perda parcial do veículo causada por alagamentos está coberta na maioria dos seguros com cobertura compreensiva, desde que o carro não tenha sido intencionalmente exposto ao risco. “Se o veículo estiver em via pública e for surpreendido por uma enchente, haverá cobertura, respeitando a franquia da apólice. Mas se o condutor tentar atravessar um alagamento ou ligar o carro com água no motor, a seguradora pode se recusar a pagar o conserto”, reforça.
A recomendação é clara: não agrave o risco. Tentar dar partida em um carro que teve o motor alagado pode causar danos irreversíveis. Em casos de perda total, se o conserto superar 75% do valor do veículo, a seguradora deve pagar a indenização integral, sem desconto da franquia.
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Outro ponto de atenção é a cobertura para serviços de higienização. “Muitas vezes, a água entra no carro e não danifica o motor, mas deixa lama e sujeira nos estofados e carpetes. Esse tipo de limpeza geralmente custa abaixo da franquia. Por isso, oriento meus clientes a incluírem uma cláusula específica para cobrir esses serviços”, afirma Paulo.
Importante destacar que os seguros não cobrem enchentes causadas por rios, lagos ou o mar, a não ser que o carro estivesse trafegando por via pública e tenha sido atingido pela força da água. “Temos um caso de um cliente que teve o carro levado por uma enchente em propriedade privada. Como o contrato era específico para alagamentos por águas de chuva em via pública, não houve cobertura”, relata. Em caso de enchentes, o veículo tem cobertura quando estiver em garagem ou estacionado em locais permitidos, não necessário estar trafegando.
Experiência real
A bióloga Luciana Bacaicoa conhece bem os perigos das chuvas fortes. Ela perdeu o carro, uma picape, em uma enchente mesmo tendo estacionado a mais de 200 metros do leito de um rio, numa ladeira. “A chuva foi tão intensa que o rio subiu mais de 10 metros. Quando voltei ao carro, vi que ele havia sido totalmente inundado. A marca da água estava 15 cm acima das janelas. Foi um choque!”, relata.
Luciana conta que o carro ficou cheio de lama e precisou ser guinchado. O prejuízo foi total. “Se eu tivesse deixado o veículo um pouco mais abaixo, o rio teria levado. Foi horrível.”
Dicas de ouro
Com experiência em dirigir longas distâncias em sua picape, uma L200 Triton Savana 2022, Luciana compartilha valiosas dicas de segurança: “Reduza a velocidade e aumente a distância do carro à frente; evite pistas com lâminas de água, que favorecem a aquaplanagem; jamais atravesse áreas alagadas desconhecidas. Buracos ou crateras podem estar escondidos”, ensina.
Se for inevitável atravessar um alagamento, destaca a bióloga, “mantenha a aceleração constante; não troque de marcha; evite velocidade alta que possa criar ondas sobre o capô; verifique a altura da água em relação à tomada de ar do carro (geralmente na altura da metade do pneu); ligue os faróis e evite o uso do pisca-alerta em movimento; ao passar por poças grandes, segure firme o volante e mantenha o limpador de para-brisa no máximo”, recomenda.
Luciana lembra que o recurso 4x4 de seu veículo tem sido uma ferramenta importante em situações de risco. “Em chuvas muito intensas, o 4x4 me dá mais controle. Mas o mais importante ainda é a atenção e o bom senso”.
Água pode destruir o motor do veículo
O condutor deve usar todas as estratégias viáveis para evitar vias alagadas. “Se há a possibilidade de evitar sair, a recomendação é aguardar passar a tempestade e sair depois”, alerta o gerente regional de pós-vendas do Grupo NewChase, Luciano Campelo.
“Pensando na mecânica do carro, os riscos evidentes são: pane elétrica, interrupção no funcionamento do motor, infiltração de água na região do cockpit, soltura e perda de componentes de acabamento - placa, molduras da caixa de roda, defletores inferiores etc.”, explica Campelo. Quando o veículo trafega em áreas alagadas, um dos problemas mais sérios que pode ocorrer é o calço hidráulico. A depender da circunstância, pode ocasionar a perda total do motor, causando enorme prejuízo.
O calço hidráulico ocorre quando entra água ou combustível no sistema do motor, comprometendo o funcionamento dos cilindros e pistões. “A perda total do motor é chamada de cálcio hidráulico, isso acontece quando entra água no sistema de ar do motor, causando danos internos na parte estrutural. O recomendado é direcionar o veículo para a concessionaria (oficina), para realização correta dos reparos necessários. Os prejuízos são significantes”, alerta Campelo.
Quando o carro passa por alagamentos, a água do exterior entra no motor e trava o movimento do pistão dentro do cilindro. Ela pode entrar no veículo através do filtro de ar (pela frente do veículo e vai direto para o motor) ou pelo cano de descarga (pela traseira do carro). Em geral, a entrada de água começa a ser um perigo para o funcionamento do veículo quando o seu nível está acima da metade das rodas. “Não arrisque seguir conduzindo”.
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