SAÚDE BUCAL
Ação de dentistas biológicos é atacada por conselhos
Profissionais defendem que a harmonização facial, no começo, também não era regulamentada
Por Madson Souza

Com presença cada vez maior nas redes sociais, a odontologia biológica é a tendência da vez no âmbito da saúde bucal, mas é atacada pelos conselhos da área. A premissa dos dentistas que atuam nesse segmento é cuidar da boca do paciente, mas tratando do corpo de forma geral, por conta da relação entre os dentes e órgãos. Na falta de comprovação científica, o Conselho Regional de Odontologia (CRO-BA) entende que esses procedimentos podem causar prejuízo para a saúde e para o bolso do paciente. Seis dentistas no estado estão sendo processados pelo CRO-BA.
Nas redes sociais os profissionais dessa prática ressaltam a ligação dos dentes com outras partes do corpo, num modelo semelhante à acupuntura, além de criticarem procedimentos estabelecidos na área, como o uso do flúor. Exemplo dessa relação dos dentes com órgãos seria o caso de um canino que é relacionado com o rim e que através do cuidado com o dente é possível atuar no combate ao problema do órgão. Ou que o alinhamento dentário tem a ver com fertilidade. Informações que, conforme os conselhos de odontologia apontam, não ter fundamento científico.
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A proposta da odontologia biológica, n a visão dadentista Débora Valente, que é favorável à prática, é de um tratamento que olhe para além dos dentes. “É uma visão que traz os dentes para o olhar sistêmico e não só olhar o dente individualmente. Você vai trabalhar o dente imaginando que ele está inserido no contexto do organismo inteiro. Então é uma visão integral, é uma visão sistêmica”, pontua. Existe uma ligação entre as coisas, porém não é da forma que a odontologia biológica tenta vender, conforme o presidente do Conselho Regional de Odontologia da Bahia, Marcel Arriaga.
“A gente sabe hoje que a odontologia tem, sim, uma ligação com o corpo de uma maneira como um todo. Com diabetes, com AVC, com problemas cardíacos. Mas não dessa maneira que essas pessoas tentam levar o paciente a acreditar. Eles querem tratar o corpo como um todo, avançando em áreas que não são odontologia. Diabetes tem a ver com odontologia, ela interfere no tratamento periodontal e vice-versa, mas um dentista não vai tratar a diabetes”, afirma Arriaga.
A prática de odontologia biológica é rechaçada pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), que não considera a modalidade nem como especialidade, nem como habilitação. Outros conselhos, como o da Bahia e o de São Paulo, também se manifestaram de que não existe a especialidade odontologia biológica. O motivo para isso é a falta de estudos robustos ou publicações em revistas científicas de renome que possam comprovar as teorias defendidas por essa modalidade.
No código de ética
A divulgação e a prática da odontologia biológica são consideradas infrações ao código de ética da profissão, que determina proibido o anúncio ou a divulgação de técnicas, terapias e áreas que não sejam cientificamente comprovadas, assim como anunciar a cura de doenças para as quais não exista tratamento eficaz. Na Bahia, seis profissionais estão sendo processados pelo CRO-BA por anunciar essas práticas. A punição inicial é a advertência, que pode se tornar multa e, mediante a insistência negativa, pode chegar à cassação do registro do profissional.
A prática ainda não é tão presente na Bahia, segundo Marcel. A expectativa da dentista favorável à prática, Débora Valente, é de que a modalidade cresça e que em algum momento seja regulamentada. “É uma coisa nova e tudo que foi novo em algum momento foi impactante. (...) A harmonização facial no começo também não era regulamentada.
Contudo, o presidente do CRO-BA aponta que a prática pode gerar prejuízos pra saúde e pro bolso dos pacientes também.
“O paciente pode deixar de fazer um tratamento de canal, que eles (adeptos da odontologia biológica) recriminam, e vir a perder o dente. Tem alguns tratamentos ortodônticos que indicam a extração de alguns dentes para poder acomodar os outros na boca e eles dizem que isso não deve ser feito, que o dente tem associação com o órgão”, afirma. Marcel informa que, quando esses profissionais são questionados sobre comprovação científica, apontam estudos que não são comprovados pelos pares, ou seja, que não cumprem parte do método científico.
Ele ainda deixa um alerta de que muitos dentistas que seguem a filosofia biológica usam o termo de odontologia integrativa, mas que não é uma nomenclatura adequada para esse trabalho. “As práticas integrativas são reconhecidas inclusive pelo SUS e pelo Conselho Federal de Odontologia, mas não devem ser confundidas com essa odontologia integrativa. Muitas vezes eles querem confundir de propósito”, comenta.
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