RETROSPECTIVA 2021
Ameaça de tsunami, crimes e covid: a Bahia viveu ano difícil
Muitos dramas vividos no estado não foram novidade, mas alguns sustos foram até levados na brincadeira

Por Bianca Carneiro, Lucas Franco e Matheus Calmon
O ano de 2021 nasceu com a expectativa de ser melhor em diversos sentidos. Ele foi o sucessor do período que expôs a humanidade a uma pandemia que forçou a mudança de hábitos, marcada principalmente pelo uso de máscaras, ruas vazias e, principalmente, pelo distanciamento social. Os baianos iniciaram o ano com a esperança de voltar a abraçar familiares, amigos, colegas e vizinhos e caminhar rumo à normalidade que já fazia parte do cotidiano.
• Bahia ultrapassa meio milhão de casos de Covid-19

Algoz de todo tormento, a Covid-19 começou o ano na Bahia com o registro de 1.284 casos e 30 mortes logo no primeiro dia de janeiro. Naquele momento, os olhares do estado e de todo o país estavam voltados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que estava nos últimos momentos para a liberação da vacinação no país. O estado foi o quarto a ultrapassar a marca de 500 mil casos confirmados. Em dezembro, mais de 1,2 milhão de casos positivos já foram confirmados.
• Ford encerra atividades na fábrica em Camaçari

Neste meio tempo, a Ford anunciou que a fábrica sediada no município de Camaçari estaria encerrando as atividades. No anúncio, a empresa afirmou que a produção nas plantas de Taubaté (SP) e da Troller (Horizonte, CE) também seriam encerradas. O fim das atividades da Ford Motor Company no Brasil, segundo a empresa, faz parte do processo de reestruturação da Ford na América Latina, que passaria a produzir veículos na Argentina e no Uruguai, importando-os para o Brasil.
Com os trabalhadores pegos de surpresa, foram realizadas negociações entre a Ford e o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgica, Siderúrgica, Mecânica, de Automóveis e Autopeças de Camaçari e um acordo coletivo delimitou o fechamento da fábrica.
•Bahia inicia vacinação contra Covid-19

Uma semana depois, exatamente no dia 19 de janeiro, aconteceu o episódio mais aguardado pelos baianos: a enfermeira Maria Angélica foi a primeira pessoa a ser vacinada contra a Covid-19 no estado e os baianos começaram a ser imunizados contra o vírus.
O local escolhido para o início do que prometia ser o novo tempo foi o Hospital Santo Antônio, parte das Obras Sociais Irmã Dulce. Além de Maria, Lícia Pereira Santos, de 83 anos, a indígena Deisiane Tuxá e o médico do Samu, Uenderson Barbosa, sentiram a mesma emoção ao receber a primeira dose naquele mesmo dia.
• Sem Carnaval, trabalhadores informais ficaram prejudicados

Durante a folia momesca de 2021, máscaras divertidas foram substituídas por máscaras de proteção facial. A multidão que seguia os artistas nos circuitos Dodô, Osmar, Batatinha e Riachão, entre outros, passou a fazê-lo, no máximo, de ponta a ponta da sala, enquanto assistia às lives, que tentaram suprir a ausência da festa.
O estado chegava ao primeiro ano sem Carnaval, festa responsável por gerar cerca de R $1,7 bilhão à economia de Salvador. Mesmo com o início da vacinação, as doses eram insuficientes e o medo era que a festa fizesse com que a situação ficasse ainda pior. A falta desta verba foi crucial e os efeitos foram sentidos por todos que trabalhavam na folia, principalmente os informais.
• Curva da Covid-19 volta a subir e medidas são tomadas
Após o fim de ano com baixa nos casos e mortes por Covid-19, os índices voltaram a subir. O surgimento de novas cepas e as aglomerações durante as festas de fim de ano foram apontadas como responsáveis. O toque de recolher voltou a valer no estado e a proibição de circulação à noite retornou a rotina dos baianos. Leitos fechados voltaram a ser abertos e as restrições mais rígidas implantadas.
Na Bahia, o número de pacientes aguardando regulação apresentou alta. Em Salvador, segundo avaliação do prefeito Bruno Reis, a pressão sobre o sistema de saúde foi quatro vezes mais forte entre fevereiro e março de 2021 em comparação ao início da pandemia, no ano anterior.
• Com vacinação em ritmo lento, São João foi cancelado em todo estado

Assim como aconteceu com o Carnaval, o São João - festa mais importante do interior do estado - não aconteceria pelo segundo ano consecutivo. Em abril, dois meses antes da festa, diversos municípios já anunciavam o cancelamento dos festejos juninos e os demais seguiram os passos gradativamente.
• Falsa professora de direito da Bahia é presa

Investigada por plagiar trabalhos de alunas, estelionato e exercício ilegal da advocacia em Salvador, a falsa professora de Direito Cátia Regina Raulino, foi presa em Florianópolis, Santa Catarina, em março. Ela passou a ser investigada em outubro de 2020 após alunas de uma faculdade particular em Salvador denunciarem que tiveram artigos plagiados por ela.
Em janeiro a 2ª Vara Criminal Especializada do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) havia aceitado a denúncia formulada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) contra Raulino, que virou ré em ação penal pelos crimes de documento público falso, violação de direito autoral e fraude processual.
• Bahia assustada com possível tsunami
Em setembro, uma notícia que parecia mais enredo de filme deixou os baianos assustados. Um vulcão nas Ilhas Canárias, no litoral da África, entrou em estado de alerta para uma possível erupção e segundo alguns especialistas, havia possibilidade da explosão provocar um tsunami que atingiria a costa do Nordeste, sobretudo a Bahia. Em Salvador, foi especulado que ondas de cinco metros destruiriam toda a Cidade Baixa, por exemplo.
A história de que a Bahia poderia ser atingida por um tsunami rendeu mensagens desesperadas, planos de fuga para bairros altos da capital baiana, como Brotas, discussões e memes nas redes sociais, com o assunto indo parar nos tópicos mais comentados do Twitter. Felizmente, apesar de ter, de fato, entrado em erupção, o vulcão Cumbre Vieja acabou prejudicando apenas a ilha onde estava situado. A erupção foi declarada oficialmente extinta no último sábado, 25 de dezembro, dia do Natal.

• Crimes em todo o estado
Ainda em setembro, um caso ocorrido na cidade de Barra, oeste do estado, deixou os baianos chocados. O médico pediatra Júlio César de Queiroz Teixeira, 44 anos, foi morto a tiros dentro do consultório onde prestava atendimento, em uma clínica particular. A ação foi filmada. A Justiça decretou a prisão preventiva dos cinco suspeitos, que vão responder por homicídio qualificado. Conforme as investigações, o crime foi encomendado por Diego Santos Silva (conhecido como “Diego Cigano”) após o mesmo supor que o médico teria assediado sua companheira durante uma consulta pediátrica.

Outubro também começou sangrento com o feminicídio da jovem Kezia Stefany da Silva Ribeiro, 21, em Salvador. Ela foi assassinada pelo seu namorado, o advogado criminalista Luiz Meira, com quem se relacionava há dois anos. Preso em flagrante, Meira chegou a ficar sem um local de custódia por falta de celas para advogados na Bahia. Ele segue detido no Batalhão de Choque da Polícia Militar, na cidade de Lauro de Freitas, e insiste que o tiro na cabeça que matou Kezia foi acidental.

Em abril, dois homens foram torurados e mortos horas após terem furtado carne em um supermercado da rede Atakarejo, em Salvador. Operações policiais tem buscado responsáveis pela morte de Bruno e Yan, enquanto tem sido apuradas as responsabilidades da rede de supermercados no caso.

Também na capital baiana, mas em agosto, uma mulher foi acusada de cárcere privado pela babá de sua filha. Diante da situação de desespero, a babá pulou do terceiro andar de um prédio e foi levada por uma ambulância do Samu para o hospital.
• Bahia recua com variante Ômicron e gripe
Meses após a Delta, uma nova variante da Covid-19 foi descoberta pela comunidade científica, em novembro. Altamente transmissível, a Ômicron chegou ao Brasil pouco tempo depois após as primeiras detecções no mundo. A Bahia foi um dos estados que ligou o alerta para a nova cepa. Se antes se discutia uma possível realização do Festival da Virada, a festa acabou oficialmente cancelada diante da ameaça. Ainda não há registros de casos da variante ômicron no estado. Na segunda-feira, 27, o Ministério da Saúde revelou que foram confirmados 74 casos no Brasil da nova cepa.
Em meio à novidade, uma velha conhecida do sistema de saúde voltou a causar problemas: a Influenza A H3N2, Síndrome Gripal (SG). Um surto de gripe atingiu em cheio o estado em dezembro, e conforme o balanço da Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) divulgado na quinta-feira, 28, a Bahia acumula, até o momento, 673 casos e oito mortes ocasionadas pela doença. Com isso, as prefeituras e o governo estadual passaram a promover, com frequência, mutirões de vacinação contra o vírus, ao mesmo tempo em que lidam com as estratégias contra a Covid-19.

• Ano termina de forma traumática com temporal no interior do estado
Em meio ao surto da gripe e da chegada da ômicron, o fim de ano também foi tristemente marcado pelos estragos causados pelas fortes chuvas que atingiram o sudoeste, sul e extremo sul da Bahia. Apesar do temporal ter começado no fim de novembro, a situação ganhou repercussão nacional com o agravamento do cenário e chegou a mobilizar personalidades, órgãos e entidades de dentro e fora do estado.
De acordo com o último balanço divulgado pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec) na quarta-feira, 29, a tragédia deixou 24 mortos. Ao todo, 141 cidades foram atingidas e 132 estão em situação de emergência. O rastro de destruição deixou, até o momento, 37.324 pessoas desabrigadas, 53.934 desalojadas e 434 feridos. Estima-se que mais de 629.398 pessoas tenham sido afetadas.

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