INFRAESTRUTURA
Ferrovias e portos: Bahia Export debate desafios e futuro da logística
Evento reúne líderes para buscar soluções e ampliar as oportunidades do setor na Bahia
Por Isabela Cardoso, Flávia Requião e Gabriela Araújo

O Bahia Export, fórum estadual de logística, infraestrutura e transportes, começou nesta quinta-feira, 14, e segue até sexta, 15, na sede da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), no bairro do Stiep, em Salvador. O encontro reúne empresários, representantes do setor produtivo, agentes públicos e especialistas para discutir gargalos e oportunidades que podem impulsionar o setor no estado.
Em entrevista ao Portal A TARDE, presidente do Grupo Brasil Export, Fabrício Julião, reforçou que o evento vai além de um encontro anual.
“O grande objetivo do evento é justamente reunir toda a cadeia produtiva de diversos setores. O Bahia Export é multissetorial, discutindo logística, infraestrutura e transporte. Mas o Conselho do Bahia Export se reúne permanentemente para construir uma agenda contínua e enfrentar desafios como rodovias, ferrovias e acessos”, explicou.
Nesta edição, temas como mineração, descarbonização, inovação e inteligência artificial ganharam destaque. “Sem inovação e inteligência artificial, o setor não vai crescer, o Brasil não vai crescer. Temos dois dias intensos, programação ampla e inscrições esgotadas, com público recorde”, comemora Julião.
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Resgate do protagonismo baiano
Para Fabrício Julião, a Bahia tem um papel estratégico no cenário nacional, mas precisa acelerar investimentos para ampliar sua competitividade.
“Eu acho que esse também é um pouco do papel do Brasil Export, poder ajudar a trazer novos investimentos, ajudar a ter os investimentos atuais. Tendo mais celeridade para poderem serem colocados de forma mais rápida para o mercado, saírem do papel, gerar mais empregos. Então, a Bahia precisa realmente cada vez mais resgatar esse protagonismo. […] Uma produção crescendo que está, talvez, sendo escoada por um lugar errado”, destaca.
Setor portuário brasileiro é destaque em crescimento
O presidente do conselho do Bahia Export, Roberto Oliva, que também preside a Intermarítima e a Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), destacou que o setor portuário brasileiro viveu uma expansão histórica nas últimas décadas.
“O setor portuário, de uma maneira geral no Brasil, foi o setor da infraestrutura que mais cresceu nesses últimos 25 anos. [...] Na virada do século a gente não chegava a fazer um milhão de containers no país, hoje só um terminal já movimenta mais de 4 bilhões. Isso tudo foi feito com investimentos privados”, afirma.

Oliva também alertou para os desafios de escoamento da produção baiana, especialmente de grãos e minérios.
“Nós não temos um quilômetro de linha de ferro funcionando. A Bahia é a terceira província mineral do país. Pará, Minas e Bahia. E todas essas jazidas estão a quase mil quilômetros de porto. Geralmente, quando você extrai da mineração, são baixos valores agregados. Então, você precisa de um transporte barato. Não há como o transporte rodoviário conseguir ser competitivo”, conclui.
Infraestrutura na Bahia
As discussões sobre o sucesso e obstáculos enfrentados na infraestrutura da Bahia deram o tom ao evento, que se estendeu até a noite desta quinta. O presidente da Federação de Indústrias da Bahia (FIEB), Carlos Passos, explicou as dificuldades enfrentadas pelo setor para a expansão das exportações no estado.
“Os principais gargalos, na nossa visão, é a macro infraestrutura viária. No setor ferroviário, nós precisamos efetivamente da solução da FCA (Ferrovia Centro-Atlântica) que ainda opera na Bahia, mas com grau de eficiência muito reduzido. Nós precisamos que essa ferrovia possa ser modernizada”, disse o chefe da FIEB ao A TARDE.

Outra queixa do setor diz respeito à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL). Segundo Passos, a demora para a construção da estrada impacta diretamente na celeridade das importações que saem do estado.
“FIOL é um projeto muito importante porque vai interligar a parte leste a oeste, inclusive com a perspectiva de se interligar a FICO (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste), inclusive, com trazer as cargas do porto brasileiro a Ilhéus ou para a Baía de Todos-os-Santos”, emendou.
Além das citadas, Passos elenca outros casos como uma ‘atraso’ no que se refere às exportações:
- Rodovias BR-324 e BR-116: devido à ligação com o estado de Minas Gerais.
- BR-101: presidente da FIEB espera que a rodovia seja duplicada para fazer divisa com o Espírito Santo;
- BR-242: que sai de Luís Eduardo Magalhães. Neste caso, a queixa deve-se ao tamanho da rodovia.
Dragagem da Baía de Todos-os-Santos: entenda importância da obra
O presidente da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), Antonio Gobbo, explicou como funciona a dragagem da Baía de Todos-os-Santos e a importância da intervenção.
“A dragagem da Baía de Todos-os-Santos é absolutamente necessária para que os postos da Baía consigam se adequar aos próximos 50 anos de operação.Hoje, a gente opera com navios de 366 metros, mas que não vem com a carga total. Isso porque a gente tem 15 metros nos principais berços de contêineres”, afirmou o Gobbo.
As obras, segundo ele, facilitará a chegada de novos navios com capacidade de até 400 metros nos próximos anos.
“Nos próximos 50 anos, o navio padrão vai ser de 400 metros. Ele tem 16 metros de calado. Com isso, nós precisamos ter profundidades superiores a isso para poder acomodar esses navios com carga total”, completou.
As obras de dragagem, por sua vez, também vão viabilizar a instalação da ponte Salvador-Itaparica, obra considerada prioritária pelo governo Jerônimo (PT). A expectativa é que as intervenções sejam iniciadas em 2026.
Nesse sentido, a Codeba e o consórcio responsável pelo equipamento ajustaram os projetos de canal de acesso para garantir a segurança e a funcionalidade tanto do equipamento viário quanto do porto.
“Com a incorporação do projeto da ponte Salvador Itaparica, fizemos um redesenho da geometria do canal de acesso e as simulações necessárias para incorporar as nossas necessidades de profundidade com as necessidades de proteção de salvaguarda dos pilares da ponte”, explicou o diretor da Codeba.
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Importância da Bahia Export
Já o secretário estadual da Casa Civil, Afonso Florence, falou sobre a importância do fórum para a macroeconomia e mencionou as sobretaxas de 50% sobre as exportações brasileiras enviadas aos Estados Unidos, que entraram em vigor no último dia 6 deste mês.
“Esse fórum tem um resultado imediato, inclusive, porque ele se realiza no momento em que o Brasil busca mitigação do impacto da tarifa estabelecida pelos Estados Unidos de produtos brasileiros e baianos”, disse o titular da pasta.

Ele ainda complementou: “Uma importante oportunidade de diálogo do setor produtivo dos operadores de logística, dos governos municipal e estadual sobre a estratégia de desenvolvimento e os desafios da economia baiana e brasileira”.
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