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IBGE

Mães têm 20% menos chance de trabalho na Bahia

Desigualdades de baianas é a 4ª mais expressiva entre estados brasileiros e se agrava entre mulheres negras

Por Madson Souza

09/03/2024 - 6:00 h
Simone Santos e os dois mais novos: a opção é o subemprego na informalidade
Simone Santos e os dois mais novos: a opção é o subemprego na informalidade -

Ontem, Dia Internacional das mulheres, elas ganharam flores, chocolate, abraços e beijos. Ao mesmo tempo, elas reivindicaram direitos que lhes foram negados e marcharam contra violências e desigualdades que se tornaram comuns. E haja motivos, se considerado o direito ao trabalho. De acordo com dados do IBGE, a presença de crianças em casa reduz em quase 20% a proporção de mulheres que têm um trabalho remunerado na Bahia.

As mulheres que moravam em domicílios nos quais havia ao menos uma criança de até 6 anos tinham quase 20% menos chances de estar num trabalho remunerado do que as mulheres sem criança em casa. Na Bahia, o nível da ocupação, ou seja, a proporção de pessoas que tinham trabalho remunerado (estavam ocupadas), era de 53,3% para as mulheres em geral.

O número aumentava para 56,8% entre as mulheres que moravam em domicílios onde não havia nenhuma criança de até 6 anos; e caía para bem menos da metade (45,7%) das mulheres que tinham ao menos uma criança de até 6 anos em casa.

A diferença de (-11,1 pontos percentuais) fazia o nível da ocupação das mulheres baianas com criança em casa ficar 19,5% menor do que o das mulheres que não tinham criança em casa. Essa desigualdade era a 4a mais expressiva entre os estados brasileiros.

A ambulante Simone dos Santos Sampaio conta que já foi recusada em várias entrevistas de emprego por ter filhos pequenos. “Quando eu realmente cheguei à idade de conseguir trabalhar de carteira assinada tive dificuldade, porque veio meu primeiro filho, e aí as pessoas não me davam essa oportunidade”.

Com dois filhos maiores de idade, um menino de 12 anos e uma menina de sete meses, ela explica que a questão “filhos” é sempre um tópico das entrevistas de emprego. E mesmo nos empregos Simone explica que muitas vezes é difícil conciliar a rotina de mãe e emprego porque é algo que os patrões não entendem.

“Trabalhei em um restaurante em 2016 e em algumas ocasiões precisei levar meu filho (...) e o dono do restaurante não gostava, achava ruim”. É por isso que Simone hoje prefere o trabalho informal, para definir os próprios horários e cuidar melhor dos filhos.

Dificuldades

Lindinalva de Paula, membro da Rede de Mulheres Negras da Bahia, explica que é preciso pensar nesses dados a partir de um recorte social. “Quando a gente fala que mulheres estão impossibilitadas de estar no trabalho porque têm crianças em casa, estamos falando da população negra. São mulheres negras que estão nos lares periféricos e não tem creches públicas para deixar seus filhos”.

Ela ainda ressalta que o baixo valor pago a essas mulheres impede que paguem creches particulares. Esses fatores levam essa população ao desemprego ou ao subemprego.

Outros impactos

Se a dificuldade para conseguir um trabalho formal gera diversas implicações para essa população, a aposentadoria negada pela informalidade leva a uma qualidade de vida pior ao envelhecer.

“Além disso, é preciso mudar o modelo de creche. Não pode ser que nem o ensino formal que começa às 08h e para às 12h. Volta de tarde e termina às 17h. A gente não pode deixar o nosso filho às 8h, se a gente tem que estar às 6h no ponto do ônibus, a gente não tem como pegar um filho 5 horas da tarde, se a gente está 7 ainda no trabalho. A luta das mulheres por creches é crucial, não só para colocar a gente no mercado de trabalho, mas também para possibilitar que a gente se qualifique”, afirma Lindinalva de Paula.

Intertítulo

Outro elemento importante para explicar essa discrepância entre as mulheres com crianças de até seis anos e as mulheres que não tem filhos é a divisão desigual dos afazeres domésticos e do trabalho de cuidados, de acordo com Mariana Viveiros, supervisora de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia.

“As mulheres gastam mais que o dobro do tempo que os homens nos afazeres domésticos e no trabalho de cuidados na Bahia. Isso impacta na entrada delas na vida profissional e no acesso delas ao trabalho remunerado”, explica Mariana. Ela ainda aponta que de acordo com os dados do IBGE, quando o homem tem uma criança em casa a chance dele estar trabalhando é maior.

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Tags:

Bahia crianças desigualdades Direitos mulheres trabalho

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