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EM JULGAMENTO

"Sorriso dela me corrói há 3 anos”, diz sobrevivente da 'Chacina Uber'

Nivaldo dos Santos Vieira confirmou envolvimento da ré, a travesti Amanda

Por Bianca Carneiro e Leo Moreira

19/04/2023 - 13:49 h
Julgamento ocorre no Fórum Ruy Barbosa, no Campo da Pólvora, em Salvador
Julgamento ocorre no Fórum Ruy Barbosa, no Campo da Pólvora, em Salvador -

Última testemunha de acusação a ser ouvida pelo júri, Nivaldo dos Santos Vieira, único sobrevivente da chacina que vitimou quatro motoristas de aplicativo, reviveu os momentos de terror que passou nas mãos dos criminosos há cerca de três anos em um cativeiro no bairro de Mata Escura, em Salvador. Quase quatro anos após os assassinatos, a travesti 'Amanda', apontada como uma das autoras do massacre, é julgada nesta quarta-feira, 19.

>>> Leia mais: 'Chacina Uber': famílias das vítimas se emocionam em início de júri

Muito emocionado, Nivaldo confirmou o envolvimento de Amanda, identificada oficialmente como Benjamim Franco da Silva Santos. Segundo o motorista, ela e um outro adolescente teriam entrado em seu veículo e apontado duas armas para sua cabeça.

“Ela entrou e colocou a pistola no meu olho e o outro colocou o 38 [revólver] atrás de minha orelha, dizendo: ‘vumbora, sua d*, segue’. E me deram coronhadas na cabeça", começou.

“Me levaram para um corredor de barracos e, no terceiro, mandaram eu entrar. Quando entrei, vi mais roupas, marcas de sangue e muitas outras coisas que mostravam que haviam mais vítimas. Tenho certeza que outros morreram ali", completou.

Ainda durante a oitiva, a vítima descreveu que Amanda era a pessoa que mais o agredia. "O sorriso dela me corrói há três anos. A pior parte foi quando ela [Amanda] me mostrou o rosto de Sávio [da Silva Dias] e disse que iria fazer a mesma coisa comigo. Fiz questão de estar aqui para substituir a imagem dela sorrindo pela cena de hoje no tribunal”, afirmou.

Por fim, Nivaldo acusou os aplicativos Uber e 99, aos quais ele e as outras quatro vítimas prestavam serviço, de negligência. O motorista questionou ainda a ausência das plataformas no julgamento.

“Os aplicativos sabiam que a gente estava lá. Os aplicativos monitoram a gente 24 horas. Eles sabiam que a gente tinha chegado lá. Que às 4h chegou um e ficou parado. Eles sabiam que o segundo motorista chegou às 5h e ficou lá. Porque eles não chamaram uma viatura? Eles deveriam estar sendo julgados hoje junto com Amanda”, clamou.

O caso

Quatro motoristas de aplicativo foram torturados e brutalmente assassinados no dia 13 de dezembro de 2019, na localidade de “Paz e Vida”, em Santo Inácio: Alisson Silva Damasceno dos Santos, Daniel Santos da Silva, Genivaldo da Silva Félix e Sávio da Silva Dias também foram assassinados. Nivaldo dos Santos Vieira foi sequestrado, mas conseguiu sobreviver.

A travesti Amanda é acusada de ter montado a emboscada e simular chamadas em aplicativos de viagem para atrair as vítimas. A motivação do crime, conforme os autos do processo, seria vingança, já que, supostamente, na noite anterior, motoristas teriam se recusado a entrar na localidade, alegando justamente a falta de segurança.

Com isso, a recusa das viagens teria impedido o atendimento médico da mãe de Jeferson Palmeira Soares Santos, conhecido como "Jel", traficante da facção conhecida como Bonde do Maluco, apontado como mandante e um dos autores dos crimes. Ao todo, quatro pessoas foram identificadas por algum tipo de envolvimento no crime.

Quando a polícia chegou no local indicado, acionada por Nivaldo que tinha conseguido fugir, encontrou os corpos dentro de um saco de nylon. Duas vítimas estavam com as mãos amarradas, sendo uma com cadarço, outra com barbante, e a uma estava com um fio amarrado no pescoço.

Amanda, que é a única suspeita viva, está presa desde 2019. Jeferson Soares foi encontrado morto dois dias depois do crime. Já Antônio Carlos Santos de Carvalho, de 19 anos e Marcos Moura de Jesus, de 30 anos, morreram em confronto com policiais no mesmo dia do crime. O adolescente citado por Amanda não foi identificado no processo.

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Tags:

Amanda chacina julgamento Júri nivaldo santo inacio Uber

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