Chuvas fortes ultrapassam média prevista para 1º mês da Operação Chuva | A TARDE
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Chuvas fortes ultrapassam média prevista para 1º mês da Operação Chuva

Capital baiana registou acumulados de 821,7 mm ao longo do mês de abril, segundo Codesal

Publicado terça-feira, 30 de abril de 2024 às 14:44 h | Autor: Da Redação
As expressivas chuvas foram causadas por uma combinação de fatores que aumentaram a umidade sobre a cidade
As expressivas chuvas foram causadas por uma combinação de fatores que aumentaram a umidade sobre a cidade -

O primeiro mês da Operação Chuva 2024 foi marcado por intensas chuvas que ultrapassaram significativamente a média histórica prevista para o período, estabelecida em 284,9 mm, segundo a Defesa Civil de Salvador (Codesal). A capital baiana registou acumulados de 821,7 mm ao longo do mês, um indicador que se aproxima de toda chuva esperada para abril, maio e junho juntos, que é 824 mm.

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No dia 2 de abril, foram registrados 120,8 mm em apenas 2 horas na região da Boca do Rio e, no dia 8, 212,4 mm em 24h, na região do IAPI. Mesmo com os altos índices pluviométricos, não foi registrado nenhuma ocorrência com vítimas. Esses números mostram que, com ações planejadas de prevenção e contingência, a Prefeitura de Salvador garantiu a segurança e a tranquilidade dos soteropolitanos diante das adversidades climáticas.

De acordo com o Centro de Monitoramento de Alerta e Alarme da Codesal (Cemadec), as expressivas chuvas foram causadas por uma combinação de fatores que aumentaram a umidade sobre a cidade, como o Complexo Convectivo de Mesoescala (CCM), os sistemas de baixa pressão (cavados) e a passagem de frentes frias pelo litoral da Bahia que intensificam o vento marítimo, fazendo com que mais umidade adentrasse o continente, além do aquecimento das águas do Oceano Atlântico.

A Operação Chuva é realizada anualmente no período mais chuvoso e é dividida em duas etapas: a preparatória, realizada ao longo do ano e intensificada em março, e a de alerta, entre abril a junho, quando são aplicados protocolos de monitoramento e resposta a situações de risco e prevenção de desastres. 

Acionamento de Sirenes

Diante do iminente risco de deslizamentos de terra devido ao encharcamento do solo pelas chuvas, a Defesa Civil de Salvador acionou, conforme estabelecido no protocolo do Plano de Prevenção de Defesa Civil (PPDC), as 14 sirenes do Sistema de Alerta e Alarme em áreas de risco prioritárias nos dias 07 e 08/04.

Essas áreas incluem Mamede (Alto da Terezinha), Bom Juá, Calabetão, Vila Picasso (Capelinha de São Caetano), Baixa do Cacau (São Caetano), Vila Sabiá (Liberdade), Voluntários da Pátria (Lobato), Irmã Dulce (Cajazeiras VII), Mangabeira 1 e 2 (Cajazeiras VIII), Creche e Moscou (Castelo Branco), Bosque Real e Olaria (Sete de Abril)

Em 15 de abril, ocorreu um novo alerta com para continuidade do risco de deslizamento nas comunidades de Creche (Castelo Branco), Bosque Real (Sete de Abril) e Moscou (Castelo Branco). No dia 25, nas sirenes das comunidades do Calabetão, Voluntários da Pátria e Baixa do Cacau foram novamente acionadas.

O Sistema de Alerta e Alarme é acionado após o volume de chuvas ultrapassar 150 mm, em 72 horas de chuvas intensas. Após o acionamento, os moradores são orientados a sair de suas casas e se dirigirem para um local ou para um dos centros de acolhimento provisórias mantidos pela Prefeitura em escolas municipais próximas às áreas de risco.

Ao longo do período, 264 pessoas foram abrigadas. As Gerências Regionais de Educação (GREs), a Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esporte e Lazer (Sempre) e os gestores das Prefeituras-Bairro colaboraram no abrigamento. Passado o risco apresentado pelas chuvas e após vistorias realizadas pelos técnicos da Codesal, as famílias que não puderam voltar em segurança para suas casas, receberam o auxílio moradia da Sempre.

O diretor da Codesal, Sosthenes Macêdo, enfatiza a importância da vigilância contínua, incentivando as pessoas a deixarem suas residências ao menor sinal de perigo, procurando abrigo em locais seguros.

Mesmo com os altos índices pluviométricos, não foi registrado nenhuma ocorrência com vítimas
Mesmo com os altos índices pluviométricos, não foi registrado nenhuma ocorrência com vítimas |  Foto: Olga Leiria / Ag. A Tarde
  

Ações preventivas

Ao longo do ano, a Defesa Civil de Salvador realiza ações preventivas nas áreas de risco da capital baiana. As vistorias são realizadas diariamente, a partir de demandas dos moradores ou de solicitações feitas através dos órgãos parceiros, para identificação de necessidade de intervenções, como demolição, limpeza de valas e canais, poda de árvores, limpeza e lonamento de encostas, aplicação de geomantas, entre outros.

Áreas mapeadas

A ocupação urbana de forma irregular e desordenada nas áreas de encostas é um dos principais problemas enfrentados pela administração municipal em Salvador.  A partir da reformulação iniciada em 2016, a Defesa Civil de Salvador passou a atuar prioritariamente com foco na prevenção, por meio da intensificação dos trabalhos educativos e inclusivos, da elaboração de planos de prevenção e dos mapeamentos das áreas de risco.

Já foram mapeadas 171 áreas de risco para deslizamento e alagamento. Além da avaliação das áreas, é realizada também a elaboração de mapas de ocupação, que consistem no cadastramento dos imóveis e dos residentes. Essa ferramenta destina-se a subsidiar a Defesa Civil na gestão, prevenção e redução dos riscos.

Através do conhecimento prévio e monitoramento dos processos que desencadeiam eventos adversos, torna-se possível planejar ações para mitigar certos tipos de ocorrências e reduzir as consequências, agindo diretamente sobre as edificações vulneráveis e os espaços suscetíveis a desastres.

Vistorias e encaminhamentos

Em abril, foram registradas 4.304 solicitações de vistorias, por meio da central telefônica 199, principal canal utilizado para registrar as demandas da população. Os maiores pedidos foram relacionados à ameaça de deslizamento de terra, deslizamento de terra, ameaça de desabamento e avaliação de imóvel alagado.

Dessas, 2.486 foram encaminhadas às secretarias, órgãos e entidades para realizar intervenções. A SUCOP, LIMPURB, SEDUR e SEMAN lideram a lista, pois têm atribuições relacionadas à estabilização de encostas, limpeza de áreas e demolição de construções em risco de desabamento.

A Operação Chuva é realizada anualmente no período mais chuvoso
A Operação Chuva é realizada anualmente no período mais chuvoso |  Foto: Olga Leiria / Ag. A Tarde
  

O Setor de Atendimento à Comunidade em Áreas de Risco cadastrou 1.050 famílias para atendimento social na Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre).

Lonas

Foram liberados pela Codesal e instalados pela LIMPURBB 31.482 m² de lona plástica em atendimento a 199 locais, sendo as prefeituras bairro mais atendidas Centro/Brotas, Liberdade/São Caetano e Cabula/Tancredo Neves. Nos meses anteriores à Operação Chuva (janeiro, fevereiro e março), foram mais 28.008 m² de lona em 166 localidades, sendo as prefeituras bairro mais atendidas com a colocação de lona Subúrbio/Ilhas, Liberdade/São Caetano e Cajazeira.

Proteção de encostas

Desde 2016, foram aplicadas geomantas em cerca de 300 encostas da cidade, representando um investimento de mais de 29 milhões de reais. A geomanta é uma tecnologia de cobertura provisória das encostas para impermeabilização, que utiliza um geocomposto de PVC e geotêxtil com cobertura de cimento jateado de rápida execução e baixo custo.

Programas educativos

Com o intuito de mobilizar, sensibilizar e capacitar os moradores das comunidades de Salvador, onde os riscos de desabamentos, deslizamentos e alagamentos são evidentes, a Defesa Civil realiza a formação de Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil – Nupdecs.

Para isso, a equipe mobiliza a comunidade, visitando todas as casas da poligonal mapeada e determinada. Utilizando-se de metodologias participativas e valorizando o conhecimento da própria comunidade, eles aprendem noções básicas para desenvolver as ações de defesa civil. Até o momento, foram formados 88 Nupdecs.

Levando-se em consideração que a capacitação do Nupdec acontece para pessoas maiores de 14 anos, o Nupdec Mirim surge como uma proposta de ação complementar para sensibilizar e capacitar o público infanto-juvenil a participar das ações de defesa civil em sua comunidade. O intuito do projeto é capacitar crianças e adolescentes por meio de metodologias que auxiliem a compreender o que é risco e como proceder antes, durante e após um desastre. Já foram formados até agora 33 Nupdecs Mirins.

Além dos Nupdecs, a Defesa Civil também realiza o Projeto Defesa Civil nas Escolas (PDCE), para crianças da rede municipal de ensino, e o Mobiliza Defesa Civil, que tem como objetivo formar multiplicadores da sociedade civil para auxiliar em situações de emergência.

Simulados

Durante a fase de preparação para a Operação Chuva 2024, entre janeiro e março, os moradores das 14 áreas de Salvador que possuem o Sistema de Alerta e Alarme participaram de simulados de evacuação. O exercício prático tem como objetivo preparar a população para situações de emergência relacionadas à chuva, como deslizamentos e alagamentos.

Guiados pelos técnicos e voluntários, os moradores participantes deslocaram-se pelos caminhos considerados mais seguros até escolas municipais próximas, que estão preparadas para servir como abrigos em caso de emergência real. A Codesal já realizou 54 simulados.

Cemadec

Ao longo da Operação, o Centro de Monitoramento de Alerta e Alarme da Defesa Civil de Salvador (Cemadec) desempenha um papel preponderante. Ele realiza análises de risco climatológico e, quando necessário, envia alertas às comunidades por SMS e aciona o Sistema de Alerta e Alarme nas regiões onde estão instalados.

A Prefeitura de Salvador, por meio da Defesa Civil, vem ampliando seu parque tecnológico com o acréscimo de mais pluviômetros e estações meteorológicas, visando tornar mais eficiente o acompanhamento dos eventos climáticos.

Nos últimos dois anos, o número de pluviômetros passou de 48 para 114, ampliando a cobertura dos acumulados de chuvas na capital baiana e fortalecendo as ações preventivas e de resposta nas áreas de risco.

As estações meteorológicas também aumentaram de 04 para 14 no mesmo período, acrescidas por 04 estações hidrológicas e 15 geotécnicas. Ao todo, a Codesal conta hoje com 147 equipamentos de avaliação do clima.

"Esses equipamentos são fundamentais para auxiliar no acompanhamento de eventos climáticos extremos e na tomada de decisões voltadas à prevenção e à preservação de vidas", destaca Gabriela Morais, coordenadora de Ações de Prevenção e Redução de Riscos.

Análise climatológica de abril

A previsão probabilística elaborada pelo Cemadec indicava que os meses da Operação seriam em torno ou acima das normais esperadas. Apesar dos Institutos Nacionais divulgarem a previsão abaixo da normal climatológica, nossos meteorologistas já previam os efeitos do aquecimento anômalo do oceano Atlântico e da atmosfera. Apesar da influência do El Niño e de outras forçantes que os modelos matemáticos meteorológicos estavam levando em consideração, o que predominaria na capital baiana seriam as condições do oceano, e assim foi.

Para o mês de abril de 2024, a estação automática de referência Ondina/INMET registrou um acumulado pluviométrico de 821,7 mm, ficando 288% acima da média climatológica (284,9 mm), o maior em 39 anos.

Outros anos que registraram grandes volumes de chuvas no mês de abril foram: 1984, com 889,8 mm; 1985, que chegou a 869,1 mm; 1996, registrando 758,8 mm; e 1975, com 737,9 mm.

Os sistemas meteorológicos atuantes no mês de abril foram: Complexo Convectivo de Mesoescala (CCM), Sistemas de Baixa Pressão, Cavado, Ventos Úmidos Provenientes do Oceano Atlântico e o avanço das frentes frias. Ressalta-se que a elevação da temperatura do Atlântico desempenhou um papel crucial na intensificação dos sistemas meteorológicos.

De acordo com os registros das estações monitoradas pelo Cemadec, o mês de abril de 2024 registrou expressivos acumulados em aproximadamente 2 horas e 30 minutos nas seguintes localidades: Boca do Rio – Centro de Convenções, 120,8 mm; Ondina, 98,4 mm; Federação, 96,6 mm; Rio Vermelho, 89,8 mm; Palestina, 88,8 mm; e Massaranduba, 86,4 mm.

Os bairros que mais registraram chuvas na capital baiana foram: Ondina, 821,7 mm; Liberdade - Vila Sabiá, 809,4 mm; Pituba – Parque da Cidade, 807,8 mm; San Martin, 789,6 mm; Massaranduba, 785,2 mm; Uruguai, 784,2 mm; Calçada, 768,6 mm; Nordeste de Amaralina, 764,2 mm; Rio Vermelho, 761,8 mm; e Brotas, 753,0 mm.

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