BAHIA
Mortadela pode matar? Entenda relação com doença rara causou mortes na Bahia
Há casos de botulismo em três cidades baianas
Por Gabriel Moura
Uma rara doença tem provocado mortes na Bahia. Ao menos três municípios são palco de um surto de botulismo: Campo Formoso, Senhor do Bonfim e Ribeira do Pombal. Já são ao menos cinco casos confirmados e duas mortes.
O botulismo é considerada uma doença rara, grave, de alta letalidade e não contagiosa.
Dos cinco casos, quatro possuem algo em comum: o consumo de mortadela de frango no dia anterior ao início dos sintomas, revelam informações são do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
Em entrevista ao Portal A TARDE, o infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Julio Croda, confirmou que a mortadela é um dos vetores de transmissão da doença por tratar-se de um ultraprocessado.
Apesar disso, a mortadela não é o vetor mais comum da doença. "O mais comum são casos relacionados a enlatados ou alimentos em conserva, como palmitos e pepinos", esclarece o pesquisador.
Essas embalagens de lata, ou plástico no caso da mortadela, propiciam um ambiente ideal para a proliferação da toxina botulínica produzida pela bactéria clostridium botulinum, causadora da doença, por deixarem o alimento sem oxigênio, além de serem comidas com baixo teor de acidez.
"Qualquer alimento pode carregar essa toxina. O que o consumidor precisa é estar atento é a procedência. O ideal é que deem preferência aos industrializados, especiamente de marcas renomadas, pois estes possuem alto grau de vigilância dos órgãos responsáveis, enquanto os feitos de forma artesanal não têm garantia de respeito às normas da vigilância sanitária", aconselha o especialista.
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Dos cinco casos confirmados na Bahia, quatro comeram mortadelas da mesma marca. O produtor em questão, entretanto, não foi informado.
Como é o botulismo
O botulismo é uma doença que atinge o sistema nervoso dos pacientes, impedindo a comunicação dos neurônios. Por isso, os principais sintomas são a dificuldade de realizar movimentos básicos, como falar, piscar os olhos e se levantar.
Sintomas esses que aparecem de seis horas a até 10 dias após o consumo do alimento contaminado.
O maior perigo de todos, no entanto, é quando a doença impede o paciente de respirar. "É neste momento que ela se torna mortal, provocando uma potencialmente fatal parada cardiorespiratória", alerta o infectologista Robson Reis.
Nesta fase da doença, que pode aparecer rapidamente após o início dos sintomas, o paciente precisa ser entubado e passar a respirar por aparelhos. A criação de aparelhos de respiração mecânica diminuiu a mortalidade da doença, que chegou a ser de 50% e hoje navega entre os 10%.
Em regiões pobres e sem infraestrutura médica adequada, como os interiores onde ocorreram os óbitos, o perigo é ainda maior.
"Existe tratamento para o botulismo, mas ele precisa ser feito de forma precoce. Ao início dos primeiros sintomas, especialmente nas áreas onde os casos estão ocorrendo, o recomendado é levar o paciente imediatamente ao médico", encerra Robson Reis.
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