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21/11/2023 às 6:18 • Atualizada em 21/11/2023 às 8:47 - há XX semanas | Autor: Alessandro Isabel

ESPECIAL CONSCIÊNCIA NEGRA

Veja expressões racistas que você utiliza e que carregam sofrimento

Origem vem de um período onde os negros e as negras eram tratados como mercadoria

Origem vem de um período onde os negros e as negras eram tratados como mercadoria
Origem vem de um período onde os negros e as negras eram tratados como mercadoria -

Quem nunca ouviu ou falou a frase: “A coisa tá preta”? Ou, “Disputar a nega”? Essas são expressões comuns, do cotidiano, mas que escondem um passado marcado por sofrimento, abuso, escravidão e muito preconceito. A etimologia desses termos, explica a historiadora Luana Soares, origina de um dos períodos mais traumáticos para o povo negro, período onde os antepassados de grande parte dos brasileiros foram sequestrados da África, torturados nos navios negreiros e tratados como objetos no Brasil.

“A partir do momento que os africanos são tirados de sua terra natal e trazidos para cá, para serem escravizados, eles já adquirem um novo status. É um status que desumaniza, um status que abole os resquícios de humanidade. É um status que objetifica, que transforma esse negro escravizado em mercadoria, assim como os animais na época, eram mercadorias”.

Nesse período, o domínio e construção da língua portuguesa eram feitas pela sociedade formada por políticos, grande fazendeiros e senhores de engenho. Grupo formado, em sua maioria, por europeus, ou filho de europeus. Dai, segundo especialistas, derivam expressões como: “Inveja branca”, representando um sentimento “bom”. No outro extremo temos a “Ovelha negra”, como um filho ruim, ou “Humor negro”, como de mal gosto, desagradável.

Além do racismo, o desrespeito e o machismo também estão presentes nas expressões populares, e ainda são bastante utilizadas. “Não sou tuas negas”, explica o historiador Ezequiel Canário, é um exemplo de termo pejorativo que remonta a época da escravidão, quando eram recorrentes os estupros, assédios e agressões.

“O termo é uma expressão carregada de sexismo e racismo, haja vista que historicamente fica comprovado o quanto mulheres negras foram objetificadas e violadas por senhores brancos em seus fetiches sexuais. Nesse sentido, muitos dos estudos históricos e sociológicos apontam o status da mulher negra como mera ”amante" dos senhores de engenho, refletido socioculturalmente na expressão “não sou tuas negas””.

A historiadora Luana Soares compartilha da mesma opinião. “Quando você diz: "Não sou tuas negas", normalmente, você está querendo afastar uma ideia ruim. Você está querendo dizer: “olha, eu não sou uma pessoa deplorável. Eu não sou uma pessoa ruim. Você não pode bagunçar comigo, como você bagunça com as outras pessoas.”. Então, essa associação da negra com a bagunça, como alguém que você pode agir de forma desordenada, tem uma carga racista que precisa ser repensada”.

Outra expressão ainda bastante utiliza nos dias de hoje, "Disputar a nega", remonta o momento onde os homens que faziam parte da classe dominante utilizavam as mulheres, escravizadas, como moeda de aposta, uma mercadoria para pagar dívida. Muitas dessas vítimas eram propriedades que serviam como alvo de disputa. Quem vencia a jogo levava o "prêmio" para suas fazendas, retirando as mulheres negras de suas famílias e, em muitos casos, utilizando-as como escravas sexuais .

Além das expressões, existem palavras que também carregam na sua origem o racismo. “Mulata”, por exemplo, deriva da palavra “mula” - que é o filhote do cruzamento de égua com jumento. O termo era utilizado para se referir as mulheres negras de pele mais clara, que eram filhas dos estupros dos patrões, brancos, com as empregadas escravizadas, negras.

Expressões racistas e suas origens:

E diante de tanto preconceito que perdura por séculos, a professora Josinete Teles listou sete expressões que carregam racismo e que são utilizadas, muitas vezes, sem o conhecimento da origem e significado.

“Meia tigela”: Remonta do tempo em que os negros que trabalhavam à força no campo nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, eles recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que hoje significa algo sem valor e medíocre.

"Mercado negro, magia negra e lista negra”: Estão entre as inúmeras expressões em que a palavra ‘negro’ representa algo pejorativo, prejudicial. No imaginário fica marcado o negativismo, não só na expressão, mas também na estética, onde tudo o que é preto, escuro traz medo, traz a ilegalidade.

“Cor do pecado”: Para muitos a expressão é vista como um elogio, mas na verdade é associada ao imaginário da mulher negra sensualizada. A ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na religião, como a brasileira.

“Nasceu com um pé na cozinha”: A expressão é literalmente ter origens negras. A mulher negra é sempre associada aos serviços domésticos, já que as escravas podiam ficar dentro das casas dos patrões e patroas, exclusivamente na parte da cozinha, onde, inclusive, dormiam no chão e davam luz aos filhos. Esse acesso também facilitava o assédio e estupro por parte dos senhores.

“Tem caroço nesse angu”: A expressão possui origem em um truque realizado pelos escravizados para melhor se alimentar. Quando o prato era composto de angu de fubá, a escravizada que lhes servia, por vezes, conseguia esconder um pedaço de carne ou alguns torresmos embaixo do angu, algo que não era permitido pelos patrões.

“Disputar a nega”: Possui sua origem não só na escravização, como também na misoginia e no estupro. Quando os “senhores” jogavam algum esporte ou jogo, o prêmio era uma escravizada negra.

“Preto de alma branca”: Também visto por alguns como elogio,a expressão nada mais é do que uma pessoa afirmando que uma pessoa preta só tem a sua dignidade validade de forma positiva por possuir algo pertencente apenas às pessoas brancas.

Educação

Para os especialistas consultados pelo Portal A Tarde, mais importante do que ter conhecimento sobre a origem das expressões, é trabalhar a conscientização de não propagar ideias, por mais inocente que possa parecer. "Muitas pessoas acreditam que é natural. Que não é por maldade. Que é "brincadeira" e que existe, até, um certo exagero no debate da questão. Mas, quando pensamos que as expressões retratam o sofrimento, a escravidão, o ódio, a morte de pessoas, não tem como ignorar.", destaca o educador, Mário Lacerda.

"O trabalho de desconstrução é bem mais desafiador. O Brasil deixou de ter escravidão em 1888 e, desde então, estamos há 135 anos perpetuando essas expressões. Temos que educar essa geração para que as próximas nem consigam imaginar que um dia naturalizamos falar: "Não sou tuas nega", "Disputar a nega" ou "Inveja branca". Estamos no mês da Consciência Negra e o mínimo que podemos fazer é ter a consciência de que conscientizar é importante na desconstrução dessa imagem que carregamos do preto, da preta", concluiu o educador.

Racismo é crime, denuncie!

Diversos órgãos públicos e governamentais como o Ministério Público, Defensoria Pública e a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) auxiliam no processo de denúncia contra o racismo. As delegacias físicas também são obrigadas a receber queixas de pessoas vítimas de atos racistas. Além da vítima, qualquer pessoa que tenha testemunhado o crime pode, e deve, denunciar o criminoso e garantir o direito da pessoa que foi alvo dos insultos.

Crimes pela internet:

Para denunciar casos de racismo em páginas da internet ou em redes sociais, o usuário deve acessar o portal da Safernet (clique aqui) e escolher o motivo da denúncia. Além disso, é necessário enviar o link do site em que o crime foi cometido e fazer um comentário sobre o pedido. Após esses passos, será gerado um número de protocolo, que o usuário deve usar para acompanhar o processo.

Também é possível fazer a denúncia diretamente por sites de órgãos públicos, como o Disque 100 e o portal da Câmara. Todas as denúncias vão para a mesma base de dados da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos e são acessíveis ao MPF. O sistema garante o completo anonimato dos denunciantes.

Cartilha “Expressões racistas: por que evitá-las”

E para tentar barrar a propagação e perpetuação das palavras e expressões racistas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou a cartilha "Expressões racistas: por que evitá-las". O material traz termos considerados ofensivos às pessoas negras e explica, de modo didático, o motivo para serem banidos do vocabulário das brasileiras e brasileiros. Veja abaixo:

Download
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"Dicionário de expressões (anti) racista"

A Defensoria Pública também disponibiliza um "Dicionário de expressões (anti) racista". No arquivo você terá acesso a um vasto material que demonstra palavras que podem substituir as expressões que conhecemos popularmente e que são preconceituosas. Veja abaixo:

Download
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Leia Mais:

>> Racismo é entrave para o desenvolvimento social, diz Ângela Guimarães

>> Lei do Racismo completa 34 anos com vítimas exigindo Justiça

>> Consciência Negra: a luta e a arte como formas de existência

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