CINEMA
Após polêmica, filme Geni e o Zepelim terá protagonista trans; entenda
Diretora do filme pediu desculpas à comunidade trans
Por Redação

O filme "Geni e o Zepelim", adaptação homônima da canção de Chico Buarque, será protagonizado por uma mulher trans. A decisão ocorreu neste sábado, 19, após a produtora Migdal Filmes anunciar que o papel principal seria interpretado por Thainá Duarte, uma mulher negra cis.
A obra musical de Chico Buarque é trilha sonora da peça de teatro musical Ópera do Malandro, lançada em 1978. Na letra da música não há a especificação do gênero de Geni, mas na obra teatral Geni é travesti. Por isso, a escolha de uma mulher cis para interpretar Geni no filme gerou críticas por parte da comunidade trans.
Em nota, a Migdal Filmes disse que a produção do longa Geni e o Zepelim tomou a decisão de redesenhar o projeto e justificou que a decisão foi fruto da escuta atenta e do aprendizado de intensas trocas com pessoas de diferentes setores da sociedade.
"Compreendemos que o momento político global, e em especial o cenário transfóbico no Brasil, impõe a todas as pessoas uma postura ativa e comprometida. Consideramos que esta mudança de abordagem da identidade de gênero da personagem no filme é a atitude acertada", disse a produtora.
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"Diante desta decisão, expressamos nossa profunda admiração e gratidão a Thainá Duarte - uma atriz de grandeza e talentos únicos. Agradecemos ainda à Associação de Profissionais Trans do Audiovisual (APTA), que realizou conosco uma conversa franca e nos apontou caminhos. Agora precisamos nos dedicar ao filme, que começa a ser rodado em duas semanas, no Acre. Em breve divulgaremos quem será a protagonista. Que Geni ganhe o mundo e sensibilize corações e mentes", acrescentou a Migdal Filmes.
Posição da diretora do filme
Inicialmente, a cineasta Anna Muylaer afirmou que a letra do Chico Buarque e o conto Bola de Seda, do Guy de Maupassant — no qual o artista disse ter se inspirado para escrever a música, poderiam ter várias interpretações.
Por isso, segundo a diretora, Geni poderia ser "uma mulher trans, uma mãe solteira, uma carroceira da favela do Moinho, uma presidente tirada do poder sem crime de responsabilidade ou uma floresta atacada diariamente por oportunistas".
Depois das críticas, Anna disse que fazer o filme com uma mulher cis como protagonista foi um erro. "Eu quero pedir muitas desculpas. Realmente, muita desculpa a todas as pessoas da comunidade trans que sofreram, se sentiram apagadas, se sentiram atacadas na sua própria identidade por causa dessa ideia. Por favor, me desculpem. Eu tive uma visão errada, mas nós refletimos e, claro, vamos mudar o rumo das coisas, nós vamos trocar a personagem e readaptar o roteiro para uma personagem trans", ressaltou.
A cineasta também pediu desculpas para a atriz Thainá Duarte, que tinha sido escolhida para atuar ao lado do artista Seu Jorge. "Por causa de uma ideia minha ela foi tão exposta a haters na internet, que eu entendo que seriam agressões a qualquer atriz cis que estivesse nesse papel, ocupando esse lugar. Mas ela sofreu esses ataques pessoalmente", citou Anna.
"Eu queria mais uma vez agradecer a todos que me ajudaram a entender a dimensão do ícone que é a Geni. E eu quero dizer que eu, como uma diretora cis, vou fazer todo o possível para honrar essa personagem trans, e vou dar o melhor de mim para fazer com que a Geni depois de 40 anos tenha um final de glória, como a gente criou para ela", emendou.
"Eu queria mais uma vez agradecer a todos que me ajudaram a entender a dimensão do ícone que é a Geni. E eu quero dizer que eu, como uma diretora cis, vou fazer todo o possível para honrar essa personagem trans, e vou dar o melhor de mim para fazer com que a Geni depois de 40 anos tenha um final de glória, como a gente criou para ela", emendou.
O que disse a atriz?
A atriz Thainá Duarte lamentou que todo esse processo do filme "tenha causado tanta dor" e disse que indagou o motivo da escolha em retratar Geni como uma mulher cis. De acordo com ela, a cineasta Anna Muylaer queria "fazer uma releitura, falar sobre a floresta, falar sobre a Amazônia, com um paralelo com o feminino, um feminino que é ferido, machucado e ela queria fazer isso com uma Geni cis".
A atriz contou que se sentiu mais tranquilizada quando a diretora do filme disse que estava em conversa com pessoas da comunidade trans, enquanto ela escrevia e desenvolvia o projeto. "Dentro dessas circunstâncias, eu acreditei que a minha experiência como atriz pudesse contribuir de forma positiva para essa releitura e tudo isso deu o fundamento para que eu pudesse tomar a decisão de aceitar esse papel", frisou.
"Ao longo da minha carreira, a maioria das minhas personagens foram abusadas, perseguidas, vítimas de violência doméstica, de relações abusivas, prostituídas, estupradas, mortas à facada, mortas amarradas em árvores apaulada, silenciadas... sobretudo silenciadas. Isso me fez olhar de fora a visão que o audiovisual tem e consequentemente a visão que ele cria com o imaginário sobre um corpo como o meu", continuou Thainá.
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