BELÉM
Estudo da Embrapa na COP30: 65,6% do Brasil é preservação nativa
Estudo da Embrapa Territorial revela que a agropecuária é guardiã de 29% da área preservada do país

Por Georges Humbert*

Em meio aos debates e às negociações da 30ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, no Pará, um novo e impactante estudo da Embrapa Territorial emerge como um farol de otimismo para o Brasil. Intitulado “Atribuição, Ocupação e Uso das Terras no Brasil”, o levantamento atualizado oferece um retrato detalhado do território nacional, destacando o profundo compromisso ambiental e a sustentabilidade da agropecuária brasileira.
Para o ex-pesquisador da Embrapa, Evaristo de Miranda, em análise recente veiculada pela AgroMais, os dados funcionam como um verdadeiro “atestado de sustentabilidade” para o setor. Essa conclusão contraria as críticas internacionais que, frequentemente, ignoram os avanços concretos do país em preservação nativa e uso eficiente da terra.
Retrato da conservação: mais de 65% do território
O estudo, apresentado no dia 10 de novembro pela chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Territorial, Lucíola Magalhães, durante o Espaço AgriZone da COP30, incorpora aprimoramentos metodológicos e dados recentes de bases oficiais, públicas e abertas. Embora o documento completo só seja disponibilizado no próximo ano, os resultados preliminares divulgados já pintam um quadro impressionante de equilíbrio entre produção e conservação ambiental no Brasil.
De acordo com a Embrapa, impressionantes 65,6% do território brasileiro – o equivalente a cerca de 5,6 milhões de quilômetros quadrados – são dedicados à preservação de vegetação nativa, incluindo cerrados, savanas, caatingas e florestas.
Quem protege os 65,6% do Brasil
Esse percentual notável posiciona o Brasil como líder global em conservação. A distribuição dessa área preservada mostra o esforço conjunto do Estado e dos produtores rurais:
- 19,7%: Áreas protegidas pelo Estado (unidades de conservação de proteção integral, terras indígenas e áreas militares).
- 6,5%: Unidades de conservação de uso sustentável.
- 29%: Áreas preservadas dentro das propriedades rurais, conforme registros no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SiCAR).
O dado mais significativo para a agropecuária brasileira é a contribuição dos agricultores: eles destinam, em média, metade de suas terras à proteção ambiental, o que equivale a metade da área total de imóveis rurais cadastrados no país.
Os 10,4% restantes do território com vegetação nativa incluem áreas ainda não cadastradas ou devolutas, identificadas por meio de sensoriamento remoto, crucial para o monitoramento rigoroso.
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Eficiência e uso da terra: ocupação pela agropecuária
No que diz respeito à ocupação do solo, o setor de agropecuária sustentável utiliza 31,3% do território nacional. Esta fatia demonstra eficiência e uma transição para usos mais produtivos:
- 10,8% são destinados a lavouras (incluindo culturas como soja, milho e cana-de-açúcar).
- 19,4% é ocupado pela pecuária, com tendência de diminuição graças a práticas mais intensivas e regenerativas.
- 1,1% corresponde à silvicultura (florestas plantadas), uma área maior que a França.
Comparações com levantamentos anteriores revelam um crescimento nas lavouras e uma contração nas pastagens, sinalizando uma transição para usos mais produtivos e sustentáveis.
Sustentabilidade por bioma: Cerrado e Amazônia
O estudo da Embrapa Territorial também oferece recortes por biomas, enriquecendo a análise de gestão territorial com contextos regionais:
No Cerrado:
- 52,2% das terras são voltadas à proteção e preservação ambiental.
- 34,7% dessa área é mantida por produtores rurais.
- A agropecuária ocupa 45,9% do bioma, equilibrando produção com conservação.
Na Amazônia:
- 83,7% do território é dedicado à vegetação nativa.
- A preservação é impulsionada por 34,9% em áreas protegidas estatais e 27,4% em propriedades rurais.
- A agropecuária representa apenas 14,1% (12,1% em pastagens e 2% em lavouras), servindo como fonte de renda sem comprometer a floresta em larga escala.
O posicionamento do Brasil como potência agroambiental
Evaristo de Miranda, em sua coluna, reforçou esses dados como um "certificado de sustentabilidade" emitido pela própria Embrapa, destacando contribuições do agronegócio, como programas de biocombustíveis e iniciativas de agricultura regenerativa.
"Quantos países dedicam 66% de seu território à preservação de vegetação nativa?”, questionou Miranda, criticando visões externas que consideram insuficiente o esforço nacional e afirmando que o agronegócio gerou os aspectos mais positivos da COP30.
Para Gustavo Spadotti, chefe-geral da Embrapa Territorial, esses resultados não só qualificam o debate ambiental, mas também fortalecem a imagem do Brasil como potência agroambiental. A atualização desses dados apoia políticas públicas, como programas de pagamento por serviços ambientais e financiamentos verdes, promovendo o uso sustentável da biodiversidade como vantagem competitiva.
Em um momento em que o mundo escrutina as práticas ambientais do Brasil, este estudo da Embrapa Territorial é um lembrete poderoso: a agropecuária brasileira é produtiva e, simultaneamente, guardiã de um patrimônio natural invejável.
*Georges Humbert é correspondente de A TARDE na COP30, em Belém.
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