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SUSTENTABILIDADE

COP30 em Belém: o que já avançou, o que segue travado – e onde entra Salvador

Secretário de Sustentabilidade analisa avanços e impasses na implementação da agenda global

Ivan Euler Pereira de Paiva*

Por Ivan Euler Pereira de Paiva*

17/11/2025 - 15:39 h
Ivan Euler é secretário da SECIS e mestre em Engenharia Ambiental Urbana
Ivan Euler é secretário da SECIS e mestre em Engenharia Ambiental Urbana -

Reunidos desde o dia 10 de novembro em Belém do Pará, no coração da Amazônia, os países-membros da Convenção do Clima vivem na COP30 um momento histórico: dez anos após o Acordo de Paris, o mundo é chamado a provar se é capaz de transformar as promessas em mudanças reais.

Escrevo este artigo em 16 de novembro de 2025, ao final da primeira semana de negociações. Acompanhei os debates na Blue Zone, a mobilização da sociedade civil na Green Zone e nas ruas de Belém, que foram tomadas por milhares de pessoas exigindo mais ambição e justiça climática.

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O que avançou até aqui

Mesmo em meio às tensões, algumas vitórias importantes merecem destaque. A primeira delas foi a aprovação da agenda de trabalho pela Presidência da COP30 logo no primeiro dia, um feito raro em conferências anteriores.

Entre os resultados concretos já anunciados, destaco:

  • Nova agenda sobre integridade da informação climática – Pela primeira vez, uma COP traz a desinformação climática para o centro das discussões. A Declaração sobre Integridade da Informação em Mudança do Clima, lançada no dia 12, estabelece compromissos conjuntos para combater fake news e garantir que as decisões sejam baseadas em ciência e transparência.
  • Declaração de Belém para a Industrialização Verde – Lançada em 14 de novembro com apoio inicial de 35 países e organizações, a Declaração de Belém propõe alinhar metas ambientais, sociais e econômicas, orientando investimentos para modernizar indústrias, acelerar a transição energética e gerar empregos verdes.
  • Hub de Plataformas de Países – Lançado em 15 de novembro, o Hub de Plataformas de Países visa apoiar nações na construção de suas próprias plataformas de investimento climático. Ele conecta financiamento, assistência técnica e conhecimento para acelerar a implementação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
  • Saúde no centro da adaptação – O Brasil apresentou o Plano de Ação em Saúde de Belém, que destaca os sistemas de saúde, especialmente o SUS, como eixo central da adaptação às mudanças climáticas. O plano reconhece o impacto de ondas de calor, enchentes e eventos climáticos extremos na saúde das populações mais vulneráveis.

Leia Também:

Relatórios diários da própria Conferência e de observadores independentes destacam avanços em temas como clima e saúde, ação climática orientada às pessoas e maior visibilidade para justiça climática, povos indígenas e juventudes.

Retrocessos, impasses e pautas emperradas

Embora o discurso e algumas iniciativas indiquem um nível mais alto de ambição, os desafios históricos persistem, e em alguns casos, se intensificam.

O principal obstáculo é a agenda de combustíveis fósseis. A busca por um consenso sobre a eliminação gradual ou redução acelerada dos fósseis ainda não foi incorporada formalmente à agenda da COP30. É possível que ela apareça apenas no “texto de cobertura” final, o documento político que resume os resultados da Conferência. Até o momento, não há garantias de que a COP30 em Belém resultará em um compromisso significativo nesse sentido.

Outro ponto de discordância é o novo objetivo coletivo de financiamento climático. Há pressão para que os países estabeleçam um roteiro que, na prática, quadruplicaria os recursos destinados a ações climáticas, com indicadores claros para adaptação e perdas e danos. No entanto, persistem divergências sobre o volume, os prazos, as fontes de recursos e o equilíbrio entre empréstimos e financiamentos concessionais ou não reembolsáveis.

Países e movimentos sociais exigem que a transição para uma economia de baixo carbono leve em conta empregos, renda e proteção social, especialmente em regiões dependentes de atividades intensivas em carbono. No entanto, as negociações sobre justiça climática e transição justa enfrentam resistência, com muitos compromissos permanecendo vagos ou não vinculantes.

Em resumo: Belém já alcançou alguns anúncios significativos, mas os principais desafios – fósseis, finanças e indicadores concretos de adaptação – permanecem sem solução para a segunda semana da COP30.

O papel de Salvador na COP30

No meio desse cenário global complexo, o que uma cidade como Salvador faz na COP30?

Nossa presença, ao lado do prefeito Bruno Reis, tem um objetivo claro: demonstrar que as decisões globais só se concretizam quando implementadas nas cidades, onde as pessoas vivenciam diariamente os efeitos das enchentes, ondas de calor, deslizamentos de encostas e insegurança hídrica e alimentar.

Participamos de debates sobre financiamento climático para governos locais, gestão de resíduos, soluções baseadas na natureza e planejamento urbano resiliente, compartilhamos as experiências de Salvador em:

  • Implementação de programas de economia circular, como o Recicla Capital, o Roda e o Repense Reuse;
  • Ampliação de áreas verdes e implantação de corredores verdes em uma cidade densa e litorânea;
  • Instalação de pátios e parques naturalizados;
  • Construção de uma agenda de justiça climática que reconhece o protagonismo de periferias, população negra, mulheres e juventudes;
  • Convergência das agendas de cultua e clima.

Salvador chega a Belém não apenas para acompanhar as negociações, mas para demonstrar que é viável priorizar a pauta climática no planejamento urbano e na gestão pública, mesmo diante de desigualdades históricas.

De Belém para Salvador – e de Salvador para o mundo

A COP30 ainda não acabou. A segunda semana determinará se os anúncios recentes se transformarão em decisões ambiciosas, com metas claras, prazos definidos e recursos garantidos. Uma lição já se tornou evidente: a agenda global e a agenda local são inseparáveis.

Como secretário de Sustentabilidade, Resiliência, Bem-Estar e Proteção Animal, concluo a primeira semana da COP30 com a certeza de que Salvador tem muito a aprender, mas também muito a compartilhar. Tenho a responsabilidade de garantir que a voz das cidades brasileiras, especialmente do Nordeste e do Atlântico Sul, continue sendo ouvida com força até o final desta Conferência e muito além.

Participe desta Conversa

Você acredita que as cidades, como Salvador, devem liderar a agenda de resiliência climática? Compartilhe nos comentários qual das iniciativas de Salvador – como a Economia Circular ou a Justiça Climática – você considera a mais urgente. Sua opinião move a nossa ação!

*Ivan Euler Pereira de Paiva, mestre em Engenharia Ambiental Urbana e Secretário de Sustentabilidade, Resiliência, Bem-Estar e Proteção Animal de Salvador.

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Tags:

Amazônia belém COP30 Salvador sustentabilidade

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