BRASIL
Fechamento de fábrica avaliada em R$ 1,5 bilhão causa mil demissões em um dia
Estrutura era considerada uma das mais avançadas da América Latina no segmento
Por Isabela Cardoso

A cidade de Três Corações, no sul de Minas Gerais, amanheceu no dia 15 de julho com uma notícia que poucos esperavam: a ADM, multinacional americana do setor de nutrição, comunicou o fechamento definitivo de uma de suas maiores unidades de produção no Brasil.
Em um encontro com os funcionários, a empresa informou que a fábrica de pet food, com capacidade de produção de 500 mil toneladas por ano, encerraria as atividades em 90 dias. Quase mil trabalhadores foram demitidos de uma só vez.
A estrutura, avaliada entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão, era considerada uma das mais avançadas da América Latina no segmento de alimentos para cães e gatos.
A decisão fez parte de um plano global de reestruturação da ADM, que visa cortar custos e concentrar investimentos em mercados considerados mais rentáveis.
As tentativas de vender a planta fracassaram ao longo de mais de um ano de negociações. Sem um comprador, a alternativa foi desligar as máquinas.
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Cidade impactada e economia local em risco
Com cerca de 80 mil habitantes, Três Corações perde uma de suas principais fontes de emprego e arrecadação. A ADM figurava entre as maiores empregadoras do município. Além dos quase mil funcionários diretos, estima-se que outros 300 postos de trabalho indiretos sejam afetados.
A movimentação da fábrica impulsionava pequenos negócios e serviços na região. Sem uma previsão clara de reconversão do espaço, há o temor de que o complexo industrial vire mais uma estrutura ociosa no interior brasileiro.
Sindicatos locais já se mobilizam para discutir alternativas com a empresa, mas até agora não houve anúncio oficial de plano de transição ou pacote de apoio aos demitidos.
Desligamento técnico e redirecionamento estratégico
Segundo informações apuradas, as operações devem ser encerradas por completo até meados de outubro. Até lá, apenas setores essenciais continuam funcionando, como a expedição de estoques e o desligamento das linhas de produção. Alguns poucos profissionais serão mantidos nesse processo técnico. A maioria dos desligamentos foi imediata.
O fechamento da planta ocorre em meio a um esforço global da ADM para economizar entre US$ 500 e US$ 750 milhões nos próximos anos. Em vez de manter unidades como a de Três Corações, a companhia optou por fortalecer operações em países como o México, onde uma nova fábrica de alimentos úmidos para pets foi recentemente inaugurada.
A decisão aponta para um redirecionamento estratégico claro: menos exposição a custos variáveis e ambientes regulatórios complexos, e mais investimentos em mercados considerados “eficientes e previsíveis”.
O México, além da proximidade com os Estados Unidos, oferece incentivos fiscais e agilidade regulatória que o Brasil hoje não consegue competir.
Setor de pet food cresce, mas segue concentrado
Mesmo com o fechamento, o mercado brasileiro de ração animal continua em expansão. Em 2024, movimentou mais de R$ 42 bilhões, com crescimento impulsionado pela humanização dos pets e pela busca por alimentos premium. No entanto, essa expansão é liderada por grandes grupos como Nestlé, Mars e PremieRPet.
A saída da ADM deve aumentar ainda mais a concentração no setor. Especialistas do mercado estimam que a ausência de um player desse porte pode gerar um efeito dominó: menos concorrência, maior pressão sobre preços e uma provável redução na variedade de produtos ofertados, principalmente nas linhas intermediárias e econômicas.
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