Guru do Bolsonarismo, Olavo colecionou declarações polêmicas | A TARDE
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Guru do Bolsonarismo, Olavo colecionou declarações polêmicas

Escritor influenciou conservadorismo no Brasil em meio a teorias conspiratórias

Publicado terça-feira, 25 de janeiro de 2022 às 12:37 h | Atualizado em 25/01/2022, 13:41 | Autor: Daniel Genonadio

O grande ícone da ala ideológica que fez parte do governo Bolsonaro, o autointitulado filósofo Olavo de Carvalho, que morreu na noite da última segunda-feira, 24, aos 74 anos, colecionou frases polêmicas, conexões com a extrema-direita e críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Apesar de se auto-denominar filósofo, ele nunca se formou e não tem nenhum diploma universitário, ainda que tenha chegado a estudar filosofia. Olavo, que já foi colunista em diversos jornais do país, incluindo a Folha de S.Paulo,conquistou fãs quando começou a ministrar cursos online e publicar livros com pautas que atraíram conservadores. 

"Não tendo encontrado, na época, cursos universitários de boa qualidade sobre os tópicos que eram de seu interesse, abdicou temporariamente dos estudos universitários formais e buscou professores particulares e conselheiros qualificados que o orientassem", diz o site que consta a biografia do escritor. 

O escritor foi responsável pela indicação do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Além disso, outros servidores lotados em ministérios também foram indicados por Olavo, na determinada ala ideológica do governo, que atualmente está enfraquecida diante do loteamento de cargos para o centrão pelo presidente Jair Bolsonaro. 

 "Jamais gostei da ideia de meus alunos ocuparem cargos no governo, mas, como eles se entusiasmaram com a ascensão do Bolsonaro e imaginaram que em determinados postos poderiam fazer algo de bom pelo país, achei cruel destruir essa ilusão num primeiro momento", falou no Twitter em 2019. 

O escritor deixa a esposa, Roxane, oito filhos e 18 netos
O escritor deixa a esposa, Roxane, oito filhos e 18 netos |  Foto: Reprodução | Instagram
 

Polêmicas

Com jeito escrachado e repleto de palavrões e expressões chulas, Olavo de Carvalho colecionou frases polêmicas em suas lives e aulas online de filosofia. Certa vez acusou Caetano Veloso de pedofilia e foi condenado a pagar uma indenização de R$ 2,9 milhões ao cantor e compositor. Sem dinheiro, deixou a dívida pendente até a sua morte. 

Ele também questionava a existência do aquecimento global, defendia o terraplanismo - teoria de que a terra é plana - e passou todo o período da pandemia negando a gravidade da Covid-19. "O medo de um suposto vírus mortífero não passa de historinha de terror para acovardar a população e fazê-la aceitar a escravidão como um presente de Papai Noel", postou em uma das suas inúmeras vezes em que desacreditou dos efeitos da doença. 

Olavo também desacreditava das vacinas contra a Covid-19 e influenciou o pensamento do bolsonarismo, que negou a gravidade da doença. Em entrevista, o professor chegou a dizer que a "epidemia simplesmente não existe". Olavo de Carvalho morreu oito dias depois de ser diagnosticado com Covid-19, apesar da causa da morte não ter sido divulgada pela família. 

O escritor também colecionou teorias bizarras, como quando afirmou que a Pepsi usava "células de fetos abortados como adoçante nos refrigerantes". Também disse que no Brasil "a distribuição de kits gays continua em alta", afirmação que também foi feita pelo presidente Jair Bolsonaro durante as eleições de 2018. 

Olavo também já declarou que os grupos de rock são satanistas e que os Beatles eram "semi-analfabetos em música. Mal sabiam tocar violão. Quem compôs as canções foi o Theodor Adorno", disse, em referência ao filósofo e um dos expoentes da Escola de Frankfurt.

Encontro entre Olavo de Carvalho e o presidente Jair Bolsonaro
Encontro entre Olavo de Carvalho e o presidente Jair Bolsonaro |  Foto: Alan Santos | PR
 

Brigas com Bolsonaro

A influência de Olavo de Carvalho no governo Bolsonaro diminuiu com o passar dos anos, conforme o presidente encontrou dificuldades com o Congresso e começou a dar cargos de membros da ala ideológica para partidos do centrão. Com isso, o escritor passou a criticar o presidente e chegou a afirmar que ele não representaria a direita. Seus seguidores, como Weintraub e Ernesto Araújo também viraram críticos do governo. 

"O Bolsonaro não é obedecido em praticamente nada. Quem manda no Brasil é a turma do STF, da mídia, do show business. Acabou. E o pessoal das Forças Armadas? Assiste a tudo isso. Só acredita em neutralidade ideológica. Ou seja, no Brasil só existem duas possibilidades: ou você é comunista ou você é neutro. Não existe direita. Existe bolsonarismo", opinou em entrevista à Jovem Pan.

"O Brasil vai se dar muito mal, gente. Não venham com esperanças tolas, porque é o seguinte: a briga já está perdida. Existem chances de fazer voltar... Existe uma chance remota, mas só se o Bolsonaro acordar, mas eu não sei como fazê-lo acordar. Dizem que eu sou o 'guru do Bolsonaro'. Isso é absolutamente falso. Conversei com ele somente quatro vezes na minha vida. E duvido que ele tenha lido um só livro inteiro. Se ele tivesse lido com atenção, teve muita coisa que ele fez e não faria", disse em dezembro do ano passado. 

Apesar de afirmar que só viu Bolsonaro quatro vezes, em junho de 2021, ele passou a reclamar da falta de apoio do presidente, a quem disse ser amigo, a seus aliados no governo. 

"E o que Bolsonaro fez para me defender? Bosta nenhuma. Aí vem com 'condecoraçãozinha'. Enfia a condecoração no cu. Porque eu fui seu amigo, mas você nunca foi meu amigo. Quantos crimes contra o Olavo você investigou, seu Bolsonaro? Nenhum. Você nem se interessou", falou. 

Após a morte de Olavo, ainda durante a madrugada desta terça-feira, 25, o presidente Jair Bolsonaro lamentou nas suas redes sociais. Seus filhos, Eduardo e Carlos Bolsonaro, que foram alunos do escritor no curso de filosofia, também emitiram um pronunciamento. 

“Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do nosso país, o Filósofo e Professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. “Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre.”, postou o presidente.

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