GÊNERO E RENDA
Mulheres estudam e trabalham mais, mas ganham menos, diz IBGE
Censo 2022 mostra que desigualdade salarial persiste, apesar do maior nível de instrução entre as mulheres

Por Andrêzza Moura

Apesar de representarem 52% da população brasileira, as mulheres continuam sendo minoria no mercado de trabalho e recebendo salários mais baixos do que os homens. É o que revela o módulo Trabalho e Rendimento do Censo Demográfico 2022, divulgado na quinta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com os dados, apenas 44,9% das mulheres com 14 anos ou mais estavam ocupadas no momento da coleta dos dados, contra 62,9% dos homens. Com o resultado, as mulheres compunham apenas 43,6% da força de trabalho brasileira naquele ano.
A desigualdade de gênero também se reflete nos rendimentos. Enquanto os homens recebiam, em média, R$ 3.115 mensais, as mulheres ganhavam R$ 2.506, uma diferença de R$ 609. E diferença se acentua entre os trabalhadores com ensino superior completo. Enquanto eles ganhavam, em média, R$ 7.347, elas recebiam R$ 4.591, o equivalente a cerca de 60% do rendimento masculino.
Essa desigualdade salarial é ainda mais alarmante quando se considera que as mulheres são, em média, mais instruídas do que os homens. Segundo o levantamento, 28,9% das trabalhadoras tinham ensino superior completo, contra apenas 17,3% dos trabalhadores homens.
Segundo Mariana Viveiros, supervisora de Disseminação de Informação do IBGE na Bahia, a explicação para essa discrepância está em múltiplos fatores estruturais e culturais.
“As mulheres ganham menos do que os homens, mesmo sendo mais instruídas em média do que eles, e isso se explica por uma conjunção de fatores que acabam levando as mulheres a estarem mais presentes em profissões, em atividades que pagam menos, menos valorizadas, e em cargos também, em posições que pagam menos”, afirma.
Menos chefia, menos valorização
A pesquisa mostra que a presença feminina é maior em ocupações com menor remuneração. As mulheres predominam em apenas três dos dez grandes grupos de ocupação:
- profissionais das ciências e intelectuais;
- trabalhadores de apoio administrativo;
- trabalhadores dos serviços;
- vendedores do comércio;
- mercados.
No extremo oposto, são minoria entre operadores de máquinas, montadores e nas forças armadas e de segurança pública.
Além disso, Viveiros destaca que a baixa presença feminina em cargos de chefia e nas áreas mais valorizadas financeiramente contribui para a desigualdade de renda.
“Você tem menos mulheres em cargos de chefia, em posição de direção, que são posições que pagam melhor. E em profissões também que são mais valorizadas em termos de salário, você acaba tendo menos mulheres”, explica. “E por que as mulheres não estão nesses locais mais valorizados? Além de, claro, você também ter menos mulheres trabalhando, isso também é um fator”, complementa.
Jornada dupla e barreiras culturais
A dupla jornada - trabalho remunerado e tarefas domésticas -, também impacta diretamente a trajetória profissional feminina. A supervisora lembra que as mulheres ainda dedicam o dobro do tempo dos homens aos cuidados da casa e da família.
“As mulheres gastam o dobro do tempo dos homens nas atividades que não são remuneradas, mas são um trabalho e consomem o tempo que poderia estar sendo usado para o trabalho remunerado”, pontua.
Para ela, essa sobrecarga dificulta o acesso das mulheres a posições que exigem maior dedicação. “Muitas vezes as mulheres têm essa dupla jornada, a necessidade de gastar o seu tempo com pessoas, com afazeres domésticos, que acaba dificultando que elas tenham tempo, tenham disponibilidade de tempo para se dedicar no nível que certas carreiras e certas posições exigem”, afirma ela.
Mariana Viveiros também ressalta a influência de fatores culturais na escolha profissional das mulheres.
“Há também, claro, questões culturais que acabam levando as mulheres para algumas carreiras e algumas profissões consideradas, entre aspas, mais femininas. E afastam um pouco elas, desde muito cedo das carreiras tecnológicas, científicas, matemáticas, mesmo das carreiras de medicina”, expõe a supervisora, afirmando que apesar das mudança desse cenário "ainda é uma realidade".
Recorte racial agrava desigualdades
O Censo 2022 também escancara as desigualdades de renda quando se considera a cor ou raça dos trabalhadores. A menor média salarial foi registrada entre os indígenas, com R$ 1.653 mensais, seguidos por pessoas pretas (R$ 2.061). No outro extremo, trabalhadores de cor ou raça amarela recebiam R$ 5.942 e brancos, R$ 3.659.
A disparidade se torna ainda mais evidente entre aqueles com ensino superior completo. Trabalhadores indígenas com formação superior ganhavam, em média, R$ 3.799, menos da metade do rendimento dos amarelos (R$ 8.411). Já pessoas pretas com diploma universitário recebiam R$ 4.175, ante R$ 6.547 dos brancos.
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O nível educacional também acompanha essas desigualdades. Entre trabalhadores brancos e amarelos, a proporção de pessoas com ensino superior ultrapassa a de pessoas sem instrução ou com fundamental incompleto.
Entre pretos, pardos e indígenas, ocorre o inverso. Entre os indígenas, por exemplo, 34,7% não completaram o ensino fundamental, enquanto apenas 12,4% concluíram o ensino superior.
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