INVESTIGAÇÃO
Nova lista com esquema de fraude das Americanas é revelado; entenda
Benefícios luxuosos para executivos e falso balanço de estoques, fretes e vendas estão entre o esquema investigado pela PF
Por Redação
Após dois anos da denúncia de fraude contra a Americanas que eclodiu na crise da empresa, novas descobertas, que incluem manipulação de dados sobre estoques, vendas e frentes, para garantir um “falso positivo” nos balanços da empresa, foram mapeadas. O escândalo abriu um prejuízo de cerca de R$ 25,2 bilhões para a empresa. As informações são do Portal Metrópoles.
Entre os “desvios de conduta" da empresa estava a concessão de benefícios para a cúpula varejista. Um tipo de autoconcessão de vantagens, no qual diretores faziam uso de veículos blindados sem o consentimento prévio do conselho de administração.
No esquema, os executivos recebiam um empréstimo para a aquisição de um carro. Esse tipo de medida fazia parte de uma estratégia para reter funcionários qualificados, oferecendo-lhes alguns mimos, até como uma forma de complemento salarial.
As vantagens também eram ainda mais turbinadas, pois após a aquisição dos blindados comprados pela empresa, os executivos ainda poderiam adquirir descontos de até 80%. No total, na sede da Americanas do Rio de Janeiro havia cerca de 20 carros, a maioria das marcas Volvo, Tiguan ou Land Rover.
Segundo relatos de funcionários, era possível saber quando havia reunião do conselho administrativo, pois os carros blindados desapareciam do estacionamento na sede carioca.
Somente em 2018, os gastos da empresa chegaram a R$2,3 milhões para blindar esses automóveis. Em abril de 2021, com a união da B2w (o braço digital da companhia) e da Americanas (o segmento de lojas físicas), o número de altos dirigentes da empresa diminuiu. Ele passou de 22 para quatro. Ainda assim, havia sete carros de luxo à disposição desse grupo.
Fretes
Já as fraudes funcionavam para criar um cenário falso de resultados positivos para a empresa, quando na verdade as despesas e tropeços comerciais eram escondidos das demonstrações financeiras.
Nos desdobramentos da investigação da Polícia Federal (PF), no período de um ano, foram encontrados cerca de R$200 milhões de custos de fretes, que incluíam o transporte de materiais e produtos para a abertura de novas lojas, lançados como investimentos no balanço da empresa. Assim, a prática corriqueira eliminava uma despesa que agia contra o resultado da companhia.
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Salários
A mesma lógica dos gastos transformados em aporte, também era aplicada ao pagamento dos salários de grupos de funcionários da empresa. Era o caso dos departamentos jurídicos e do RH que eram incluídos na folha de salários de uma empresa digital do grupo Americanas.
Já no setor de tecnologia da informação (TI), a despesa com a remuneração de pessoal pode ser considerada um investimento. No caso da varejista, no entanto, a inclusão de pessoas de áreas distintas na TI era mais uma forma de fazer evaporar custos.
Estoques
Os estoques também faziam parte das ficções contábeis, um inventário no qual todos os produtos eram lançados era alterado no levantamento para inflar o Ebitda da companhia (a sigla, em inglês, do indicador de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Assim, a empresa apresentava um resultado falso para o mercado.
A devolução de produtos por parte dos consumidores não era registrada para não reduzir o estoque e com isso fragilizar as contas no fim de cada período contábil. Isso acarretou na falta de alguns produtos nas prateleiras das lojas, por mais que constasse no sistema da companhia como disponível naquele ponto de venda. Segundo as investigações, em um período de cerca de dois anos, o “estoque falso” chegou a R$700 milhões.
Na prática, havia um número de baixas que poderia ser feito no estoque em determinado período. Se esse nível fosse superado, o inventário era manipulado para não comprometer o lucro da empresa.
Vendas
A manipulação de dados envolvia o GMV (Volume Bruto de Mercadorias), que representa o valor total das vendas online antes de descontos ou taxas. Durante a investigação de fraude, descobriu um sistema que multiplicava o GMV para alcançar números mais favoráveis e atender metas financeiras e projeções de analistas.
Esse fator de multiplicação podia chegar a 1,4 vezes, inflando o volume de vendas em até 40%. Inicialmente, houve receio de que essa multiplicação fosse automatizada, mas posteriormente foi constatado que era realizada por meio da manipulação de planilhas.
Multiplicação de telas
As investigações também revelaram que as fraudes na Americanas envolviam cartas de Verbas de Propaganda Cooperadas (VPC), que são pagamentos feitos por indústrias a varejistas quando há esforços adicionais de vendas.
A empresa manipulava VPCs reais e falsas para melhorar seus resultados financeiros e cobrir deficiências contábeis. Mesmo as VPCs verdadeiras eram "batizadas", com a área de TI criando múltiplas cartas menores a partir de uma original. Essa multiplicação das VPCs visava dificultar a detecção das fraudes pelas auditorias externas e reduzia assim, as chances de descoberta de cartas falsas.
Gestão imobiliária
A Americanas também utilizava um modelo de gestão de imóveis que gerava resultados imprecisos, que ajudava a melhorar seus números contábeis. Os contratos de aluguel começavam com descontos, frequentemente oferecidos por locadores para atrair a marca para shoppings.
A empresa prolongava ao máximo a recomposição desses aluguéis, e utilizava recursos jurídicos para adiar os reajustes. Isso impedia que a empresa conhecesse seus custos reais, e dificultava a avaliação da eficiência das lojas. Além disso, a mesma estratégia era aplicada aos fornecedores, com prazos de pagamento estendidos para reduzir custos e otimizar ganhos para manter as despesas ocultas.
Em nota, a Americanas disse ter sido vítima do esquema de fraude de resultados que envolveu a recorrente manipulação dolosa dos controles internos pelos ex-diretores. E reforçou que busca pelo esclarecimento das investigações e na responsabilização civil e criminal dos envolvidos.
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