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Quem é Dom Phillips, jornalista inglês desaparecido na Amazônia

Britânico estava morando em Salvador; esposa fez apelo às autoridades por celeridade nas buscas

Publicado terça-feira, 07 de junho de 2022 às 17:47 h | Atualizado em 07/06/2022, 18:13 | Autor: Da Redação
Dom Phillips mudou-se para o Brasil em 2007, de onde foi correspondente de diversos jornais internacionais
Dom Phillips mudou-se para o Brasil em 2007, de onde foi correspondente de diversos jornais internacionais -

O jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal 'The Guardian' no Brasil, e o  indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira desapareceram na Amazônia brasileira no domingo, 5. O britânico, que mora em Salvador, produzia reportagens sobre conflitos de terras e questões indígenas, acompanhado de Bruno, e vinha sofrendo ameaças em decorrência do trabalho.

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Natural do condado de Merseyside, onde fica a cidade de Liverpool, no Reino Unido, Dom Phillips mudou-se para o Brasil em 2007, de onde foi correspondente de diversos jornais internacionais como o Washington Post, New York Times, The Intercept, Financial Times, Tim e Bloomberg, além do próprio Guardian. Atualmente, o jornalista estava morando na capital baiana, mas ele também já viveu no Rio e em São Paulo.

Phillips, de 57 anos, é casado com Alessandra Sampaio. Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, ela fez um apelo emocionado às autoridades para que as buscas sejam intensificadas. Alessandra explicou que ainda não havia falado publicamente sobre o caso por conta do choque e que sua família ainda tem “um pouquinho de esperança” de que o marido e Bruno Araújo sejam encontrados, mesmo que sem vida. 

“Eu queria fazer um apelo para o governo federal e para os órgãos competentes, para intensificarem as buscas, porque a gente ainda tem um pouquinho de esperança de encontrar eles. Mesmo que eu não encontre o amor da minha vida vivo, eles têm que ser encontrados, por favor. Intensifiquem essas buscas. Eu não quis falar antes porque a família toda está muito chocada e a gente não está sabendo reagir. Mas eu estou fazendo esse apelo, por favor, para intensificar essas buscas”, pediu.

Outros familiares de Phillips também fizeram pedidos públicos para que as buscas fossem mais céleres.

"Meu irmão Dom vive no Brasil com a mulher dele, ele ama o país e se preocupa muito com as pessoas lá. Nós sabíamos que é um lugar perigoso, mas o Dom realmente é um jornalista talentoso e estava fazendo pesquisas para um livro quando desapareceu ontem. Nós estamos muito preocupados com ele e pedimos urgência às autoridades brasileiras para que façam tudo (...) se alguém puder ajudar e aumentar os recursos para as buscas, seria ótimo, pois o tempo é crucial”, disse disse Sian Phillips, irmã de Dom, que vive no Reino Unido.

De acordo com o The Guardian, ela disse que teve notícias de seu irmão na última quarta-feira, quando ele partiu para a floresta tropical de sua casa em Salvador. “Ele nos enviou uma foto da Amazônia com um arco-íris sobre ela do avião”, afirmou.

Imploramos às autoridades brasileiras que enviem a Guarda Nacional, Polícia Federal e todos os poderes à sua disposição para encontrar nosso querido Dom”, publicou no Twitter Paul Sherwood, cunhado do jornalista, na segunda, 6.

Jonathan Watts, editor de meio ambiente do Guardian, escreveu no Twitter que Dom Phillips, é um "jornalista excelente" e "grande amigo". O correspondente do The Guardian na América Latina, Tom Phillips, disse que a situação é "extraordinariamente preocupante". "Por favor, compartilhe o mais amplamente possível", pediu ele.

Ainda segundo o The Guardian, desde 2021 que Phillips se dedica a produção do livro "Como salvar a Amazônia?", motivo que o levou a retornar à região desta vez. A obra é financiada pela Fundação Alicia Patterson Foundation, como parte de um projeto que selecionou nove jornalistas para estudar sobre a situação da floresta. O britânico é o mais velho do grupo.

A agência literária Janklow & Nesbit divulgou a sinopse do livro que Phillips vinha escrevendo. O texto elogia o trabalho dele e ressalta a importância da apuração.

"Dom Phillips viaja pelas profundezas da Amazônia para nos mostrar o lugar mais maravilhoso da Terra, com toda a sua glória vibrante, frágil e radiante: a Amazônia", com esse argumento, Phillips detalha a biodiversidade amazônica, mas denuncia o aumento das emissões de carbono e do desmatamento, o que poderão levar a Amazônia a um desequilíbrio climático e redução das chuvas. O livro "Como Salvar a Amazônia" é descrito como, em parte, um diário de viagem, e em parte um guia motivado por desespero ambiental, pois "Dom Phillips nos leva ao coração dessa grande maravilha do nosso planeta, mostrando-nos a miríade de povos que ela sustenta e as muitas maneiras pelas quais podemos evitar o colapso deste incrível ecossistema", diz o site.

"Ele dá vida ao calor, à beleza, ao medo e ao esplendor dessa região densa e extensa, com seus fazendeiros pistoleiros, indígenas guerreiros, policiais corruptos, ativistas ambientais, pregadores evangélicos fervorosos, garimpeiros de ouro e resilientes ribeirinhos", elogia. 

Phillips é ativo no Twitter, onde comenta o noticiário brasileiro, mas evita falar sobre a vida pessoal. Já no Instagram, cuja conta é fechada, ele compartilhou, na última semana, o registro de uma travessia de barco que realizou em um rio amazônico: "Amazônia sua Linda", escreveu.

Bruno Araújo

Segundo a associação indígena do Vale do Javari (Unijava) e o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), o indigenista Bruno Pereira é muito experiente e “profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos". A região onde ele trabalhou é justamente a que ele e Dom sumiram.

Bruno Pereira deixou o cargo de coordenador da Funai em 2016, após um grande conflito entre povos isolados da região de Atalaia do Norte. Mas em 2018, ele se tornou o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém Contatados da Funai, e chefiou a maior expedição para encontrar índios isolados dos últimos 20 anos no Brasil.

No entanto, dois anos depois foi exonerado do cargo por pressão de ruralistas ligados ao governo Jair Bolsonaro. Nos últimos anos, ele atuava na sede da Unijava, em Brasília.

As autoridades brasileiras retomaram nesta terça-feira, 7, as buscas pelo indigenista britânico e pelo jornalista.

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