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ESCRAVIDÃO

Trabalhadores resgatados relatam rotina de humilhações e violência

Baianos resgatados em trabalho análogo à escravidão eram punidos com choques elétricos

Por Da Redação

05/03/2023 - 14:45 h | Atualizada em 05/03/2023 - 15:04
Trabalhador relatou condições de trabalho com humilhações
Trabalhador relatou condições de trabalho com humilhações -

Dois trabalhadores baianos que foram submetidos a condições análogas à escravidão na Serra do Rio Grande do Sul relataram uma rotina de humilhações e violência, como punições com choque, ofensas, comida azeda e cobranças por equipamentos de proteção.

Em uma entrevista ao Globo Rural divulgada neste domingo, 5, um das vítimas relatou ter recebido a oferta de R$ 2 mil para trabalhar na colheita de uva do Bairro Borgo, a cerca de 15 km dos vinhedos.

"Ofereceram R$ 2 mil, um mês, R$ 4 mil, dois meses, passagem de ida, de volta, alimentação e dormitório para gente. Mas, chegou lá e foi tudo enganoso", disse.

Leia mais: Escravidão no Sul: gaúcho diz que apenas baianos eram agredidos

O trabalhador contou que, ao chegar no local, havia um galpão com mais de 200 pessoas dentro. Os dias seguintes no alojamento se tornaram uma rotina na base de ofensas e gritos.

"Um quarto em frente a outro com 9 pessoas, a gente acordava 4h da manhã à base de grito, chamando 'acorda demônio', 'acorda para trabalhar,' 'baiano bom é baiano morto', 'se não trabalhar vai morrer'. Os que não conseguiam acordar para trabalhar tomavam choque no pé ou murro na costela para ter que acordar e para ir trabalhar", explicou.

De acordo com a vítima, as únicas refeições eram um pão com café pela manhã e uma quentinha azeda no almoço. Além disso, qualquer custo que eles tinham acabavam descontando do salário.

"Meio dia era quentinha azeda que a gente não comia. Chegava de noite não tinha comida para gente... Se perdesse uma bota, era R$ 200, R$ 300, para pagar a eles. Se perdesse uma luva, era pago também R$ 100. Tudo eles descontavam no dinheiro", relatou.

"Eu espero daqui para frente tocar minha vida, pedir a Deus que Deus abra uma porta de trabalho digna e eu vá trabalhar, tocar minha vida, porque isso foi muito traumatizante. Peço a Deus um novo recomeço de vida", desabafou um dos trabalhadores.

A maioria dos trabalhadores resgatados chegou à Bahia na segunda-feira, 27. Os demais optaram por permanecer no RS.

Entenda o caso

Dos 196 baianos resgatados, 54 vieram  para Salvador. Os outros foram para municípios do interior do estado
Dos 196 baianos resgatados, 54 vieram para Salvador. Os outros foram para municípios do interior do estado | Foto: Denisse Salazar | Ag. A TARDE

No dia 22 de fevereiro, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) resgatou 207 trabalhadores em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves, na Serra.

A operação foi realizada pela PRF, pelo MTE e pela Polícia Federal (PF) após três trabalhadores procurarem a PRF em Caxias do Sul dizendo que tinham fugido de um alojamento em que eram mantidos contra sua vontade. No local, os trabalhadores foram encontrados "em situação degradante".

Os trabalhadores resgatados receberam acolhimento no ginásio Darcy Pozza, em Bento Gonçalves, até que pudessem voltar para casa.

A maioria dos trabalhadores viajou da Bahia para o RS, contratados por uma empresa que oferecia a mão de obra para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região. Surpreendidos com as condições do trabalho no Sul do Brasil, tentaram ir embora, mas foram ameaçados e espancados.

O administrador da empresa chegou a ser preso pela polícia, mas pagou fiança e foi solto. As vinícolas que faziam uso da mão de obra análoga à escravidão devem ser responsabilizadas, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

As vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton informaram que o grupo era contratado de uma empresa terceirizada, a Fênix Serviços Administrativos, que negou indenização aos trabalhadores.

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