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SEGURANÇA PÚBLICA

Tudo 2 e Tudo 3: o significado por trás dos símbolos usados pelas facções

No Brasil, duas grandes alianças criminais predominam: o bloco “Tudo 2”, liderado pelo Comando Vermelho, e o bloco “Tudo 3”, comandado pelo PCC

Por Luan Julião

16/01/2025 - 18:47 h | Atualizada em 16/01/2025 - 18:59
No Brasil, duas grandes alianças criminais predominam: o bloco “Tudo 2”, liderado pelo Comando Vermelho, e o bloco “Tudo 3”, comandado pelo PCC
No Brasil, duas grandes alianças criminais predominam: o bloco “Tudo 2”, liderado pelo Comando Vermelho, e o bloco “Tudo 3”, comandado pelo PCC -

Os recentes assassinatos de jovens em diferentes estados do Brasil lançam luz sobre um fenômeno alarmante: o uso de simbologias, gestos e sinais associados a facções criminosas. No mês de outubro de 2024, os irmãos Gustavo Natividade, de 15 anos, e Daniel Natividade dos Santos, de 24, percussionistas do bloco afro Malê Debalê, foram mortos a tiros em Camaçari, na Bahia. A família diz que ambos não tinham envolvimento com o crime, mas uma foto em que apareciam fazendo um gesto interpretado como símbolo de uma facção rival teria motivado o ataque.

Casos semelhantes ocorreram em outras regiões. Em Feira de Santana, também na Bahia, Marcos Vinícius Alves Gonçalves, de 20 anos, foi assassinado em janeiro de 2025 após postar uma foto nas redes sociais com um gesto supostamente associado a uma facção criminosa. No Ceará, o adolescente Henrique Marques de Jesus, de 16 anos, foi morto após fazer um sinal com a mão, sem saber que se tratava de uma representação simbólica de um grupo criminoso local.

A origem das facções e seus símbolos

As facções criminosas brasileiras, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), surgiram em contextos distintos dentro do sistema prisional e expandiram suas influências para as periferias e territórios urbanos. Desde a década de 1970, essas organizações consolidaram um ethos próprio, que inclui regras de conduta, estruturas hierárquicas e produção simbólica. Essas características se refletem no uso de sinais manuais, emojis, músicas e outras expressões que representam suas identidades e rivalidades.

No Brasil, duas grandes alianças criminais predominam: o bloco “Tudo 2”, liderado pelo Comando Vermelho, e o bloco “Tudo 3”, comandado pelo PCC. Cada uma dessas facções utiliza símbolos específicos para marcar território e reafirmar sua identidade. Gestos como o número 2 ou 3 com as mãos, emojis, e canções com letras que exaltam essas organizações, fazem parte de uma linguagem codificada amplamente disseminada.

De acordo com o artigo Símbolos, sinais e signos de facções criminosas: aspectos iniciais sobre as dinâmicas no mundo do crime, do pesquisador Eduardo Armando Medina Dyna, publicado para o Observatório de Segurança Pública da UNESP, a disseminação das facções pelo Brasil foi acompanhada pela complexificação das relações entre os grupos criminosos.

“Diante desse contexto é que se difunde as facções pelo Brasil. Houve o estabelecimento de organizações criminais locais (como o Amigos dos Amigos (ADA) no Rio de Janeiro), às regionais (como o Bonde do Maluco (BDM), na Bahia, Espírito Santo, Sergipe, Alagoas) além das nacionais (PCC e CV, ambos presentes em todas as UF do país)", aponta o artigo de Dyna.

"A multiplicação de organizações criminais, muitas vezes difíceis de contabilizar pela instabilidade de suas existências, medidas por unificações, rachas e términos, como a antiga terceira maior facção do país, Família do Norte (FDN), geraram nos últimos 10-15 anos, um novo cenário que consolida esse tipo de racionalidade no mundo do crime, tratando dos comandos como organizadores das criminalidades e principalmente, na circulação e venda de substâncias psicoativas, cada um com suas próprias estratégias, moralidades, condutas e regras próprias, que transcendem para além do universo criminal, agindo em territórios da legalidade, impactando a vida dos moradores e trabalhadores que sofrem a influência do poder dessas organizações", completou.

Os dois principais blocos de facções que dominam grande parte do território nacional são o Tudo 2, associado ao Comando Vermelho (CV), e o Tudo 3, ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Essas facções não só disputam o controle territorial, mas também utilizam símbolos para estabelecer identidade e lealdade dentro de suas linhas.

As facções do Tudo 2, como o Comando Vermelho, fazem uso do número 2, uma referência direta ao "V" de Vermelho, muitas vezes simbolizado com sinais feitos com as mãos, emojis e até mesmo grafismos em áreas públicas.

“Dito isso, as organizações do Tudo 2 tem uma representação do número 2, seja por sinais com a mão, por emojis em redes sociais ou canções que são difundidas por músicas de gênero funk. Não se sabe de fato, como foi criado a representação “2” para essas facções, contudo, a probabilidade é alta de estar associado aos sinais “C” e “V” com a mão, sendo que o “V” é semelhante com o número 2. Assim, representações com o “2” com a mão é uma associação direta ao Tudo 2 e seus comandos. Os emojis “🚩”, “2️⃣”, “✌” também fazem parte dessas associações, concentrando-se em territórios que as facções do Tudo 2 influenciam, criando rivalidades simbólicas, somadas aos confrontos bélicos, políticos e territoriais que constroem esse tipo de universo."

No outro lado, o Tudo 3 é representado pelo número 3, que faz parte da simbologia do PCC. A utilização de símbolos como o número 3 e o Yin Yang são comuns entre facções ligadas ao PCC.

“As simbologias do Tudo 3, as organizações criminais também reproduzem a mesma lógica: sinais com a mão, emojis e signos em redes sociais, pichações com símbolos em becos, ruas e avenidas, flyers e avisos nas plataformas de internet e aplicativos de mensagem, além de músicas que narram essas experiências no mundo do crime. Como no Tudo 2, não há uma precisão da origem de fato sobre essa simbologia, podendo haver algumas hipóteses, como no alfabeto congo e a relação do PCC, dado que o signo do PCC é representado pelos números 15 3 3, sendo 15=P, 3=C e 3=C, tornando 3 um signo marcante e oposto ao Tudo 2. A aliança Tudo 3 utiliza emojis com as seguintes referências: “🤟”, “👌” e “☯️”. O símbolo do Yin Yang é mais voltado para o PCC, mas na análise e coleta de dados nas redes sociais, percebeu-se que outros comandos ligados a facção paulista também fazem esse mesmo tipo de signo", explica.

Esses sinais, frequentemente disseminados em redes sociais e até mesmo na comunicação digital, servem para marcar não apenas a territorialidade, mas também para reforçar as alianças e os conflitos entre as facções. A presença desses símbolos pode ser vista como uma forma de afirmação de poder, não apenas nas periferias, mas também nas áreas mais amplas, o que torna ainda mais difícil a diferenciação entre o “crime” e as atividades legítimas da sociedade.

"Dessa forma, a aliança Tudo 3, além de disputar o controle da ordem em determinados territórios, produz simbologias que são assimiladas com os territórios periféricos em que estão sob sua influência, deixando complexo, pela junção das práticas e discursos, diferenciar aquilo que é do “crime” e aquilo que supera a fronteira e vai para outros segmentos legais."

Além de seu impacto nas áreas dominadas, esses símbolos também geram um efeito de estigmatização. O pesquisador observa que o uso desses sinais leva a uma generalização de que todos os cidadãos em áreas sob controle de facções estão envolvidos no crime, o que contribui para a criminalização da pobreza e a marginalização de populações inteiras.

O fenômeno das facções criminosas no Brasil, suas simbologias e suas estratégias de domínio e comunicação são questões complexas que merecem atenção.

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Tags:

crime facção Organizado Sinais

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