TENTANTES
“Vivemos uma luta solitária”: a dor silenciosa de quem sonha ser mãe
Mulheres tentantes apresentam cerca de 25% mais sintomas depressivos
Por Victoria Isabel

O desejo de ser mãe faz parte da vida de muitas mulheres e, no mês de maio, com a celebração do Dia das Mães, esse sentimento costuma se intensificar. No entanto, para muitas, esse sonho é acompanhado por desafios emocionais e físicos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 1 em cada 6 casais enfrenta dificuldades relacionadas à fertilidade — um problema que afeta milhões de pessoas, mas que ainda é cercado de silêncio e tabus.
Luciene Maria de Almeida, de 42 anos, está há cerca de 10 anos tentando realizar o sonho da maternidade. Ela está em sua terceira tentativa de Fertilização In Vitro (FIV) - técnica de reprodução assistida - e apesar de todos os obstáculos, segue com esperança.
“Enfrentamos muitos desafios nesse tempo todo, as cobranças familiares, ver as pessoas próximas engravidando, sempre foi muito difícil. Nunca tive inveja de vê-las grávidas, mas eu sempre me perguntava: por que não com a gente? Por que só a gente não consegue? Mal sabia eu que, assim como nós, milhares de outros casais também passam por isso. É um pouco difícil controlar o emocional, mas eu não deixo de acreditar. Tem dias que são mais fáceis, outros mais difíceis, e assim vamos levando”, relata.
Na verdade, apoio a gente não tem, até porque não compartilhamos isso com as pessoas. Vivemos uma luta solitária, um apoiando o outro.
Quando o sonho encontra barreiras
Mulheres como Luciene são conhecidas como “tentantes” — termo usado para descrever aquelas que estão na jornada para engravidar, um caminho muitas vezes incerto. Dados da OMS de 2023 revelam que mulheres com dificuldades para engravidar apresentam cerca de 25% mais sintomas depressivos do que aquelas que não enfrentam esse desafio.
A psicóloga Liliane Carmen, que atende mulheres tentantes, explica que o desejo de ter filhos envolve significados profundos e pode gerar sofrimento psicológico intenso quando não se concretiza.
“O desejo de engravidar pode gerar sintomas psicológicos significativos, que podem incluir sentimento de culpa, angústia, ansiedade, incapacidade, frustração, tristeza, medo, isolamento, esquecimento, irritabilidade, cansaço, estresse, humor deprimido, entre outros. Esses impactos são agravados pela carga simbólica da maternidade e pela pressão social, e podem levar a transtornos mentais como depressão e ansiedade”, explica.
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Segundo Liliane, o acompanhamento psicológico pode ser um grande aliado para quem está tentando engravidar. “A terapia neste momento tem como principal objetivo acolher e escutar as demandas das pessoas que estão vivendo essa jornada, ajudando os indivíduos a lidar de forma menos dolorosa com os desdobramentos das tentativas, infertilidade e tratamento, facilitando o enfrentamento dos medos, angústias e mitos, possibilitando o reconhecimento de suas reais possibilidades frente aos recursos oferecidos pela medicina reprodutiva e minimizando o estresse provocado pela infertilidade e tratamento”.
Quando é hora de procurar ajuda médica?
Segundo a ginecologista Bárbara Melo, especialista em reprodução assistida, o principal sinal de que há dificuldade para engravidar é o tempo de exposição a relações sexuais desprotegidas sem ocorrência de gravidez.
“Considerando que essas relações estejam ocorrendo em uma boa frequência, principalmente no período fértil, pelo menos em torno de duas a três vezes na semana, quando esse tempo se prolonga por um ano ou mais, isso mostra a dificuldade de engravidar, é uma definição de infertilidade”, alerta.
A idade importa
A médica explica que o momento ideal para buscar apoio médico em casos de dificuldade para engravidar varia de acordo com a idade da mulher. Para aquelas com menos de 35 anos, é considerado aceitável tentar a gestação por até um ano antes de procurar avaliação médica. Já para mulheres entre 35 e 39 anos, a recomendação é buscar ajuda após seis meses de tentativas sem sucesso.
No caso de mulheres a partir dos 40 anos, o ideal é que a avaliação médica seja feita desde o início das tentativas. Isso permite identificar precocemente possíveis causas de infertilidade e otimizar o tempo, já que, nessa faixa etária, tanto a qualidade quanto a quantidade dos óvulos tendem a ser reduzidas.
Exames
De acordo com a especialista, existe uma série de exames para investigar a infertilidade da mulher, desde exames laboratoriais, dosagens hormonais, dosagens de vitaminas, até exames de imagem para avaliação do útero, como a ultrassom transvaginal.
“Em alguns casos pode ser necessário ressonância, a histerossalpingografia ou histerossonossalpingografia para a avaliação das trompas. Mas é importante lembrar de que a infertilidade de um casal heterossexual é definida como infertilidade conjugal, então além dos exames femininos é importante estender a pesquisa também aos exames masculinos e deles o principal é o espermograma”.
Bárbara explica que os tratamentos vão ser direcionados a depender da causa, das situações em que bastam medidas medicamentosas, as situações em que precisam de tratamentos de reprodução assistida, sejam eles o coito programado, que é o namoro programado, a inseminação intrauterina ou a fertilização in vitro, conhecida com a sigla de FIVI.
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