SANGUE NO OLHO
Festival Cine Horror promove oficina gratuita de filmes de terror
Serão três dias com o cineasta pernambucano Lula Magalhães compartilhando experiências para driblar a falta de dinheiro
Por Alan Rodrigues

Amantes do cinema de suspense e terror têm um encontro marcado em outubro, na 10ª edição do festival Cine Horror. O evento, totalmente gratuito, acontece na sala Walter da Silveira, nos Barris, em Salvador, mas a programação começa já na próxima semana.
Nos dias 28, 29 e 30 de julho, o cineasta pernambucano Lula Magalhães irá ministrar a oficina ‘Como Produzir Filmes de Terror de Baixo Orçamento’. Com 12 anos de carreira, Lula já produziu 10 curtas. O mais recente, o ainda inédito ‘Gibraltar’, tem previsão de lançamento justamente no mês do festival.
Ele também vai iniciar o processo de finalização do seu 1º longa: ‘Homens mortos não contam histórias’, previsto para chegar aos cinemas em 2027. A demora se deve exatamente à falta de financiamento e, por isso, ele considera tão importante incentivar os jovens cineastas a iniciarem suas produções mesmo sem verba.
“É importante para quem está começando, fazer por conta própria, sem a câmera perfeita, a edição perfeita, quem acaba o curso sai com sangue no olho. Precisa direcionar essa galera senão desanima”, diz Lula, se referindo aos cineastas que cursaram universidade.
Longo caminho
Ele próprio tem formação em administração e pós-graduação em gestão empresarial, foi professor de faculdade entre 2010 e 2019. Em 2014 lançou seu 1º curta, ‘Mandala night club’ e, no seguinte, ‘Invasão’ ganhou as telonas. Há 7 anos conheceu o Cine Horror, onde exibiu “Pequeno baú” e “Tudo que eu amo morre”.
O cineasta vê com otimismo a realização de festivais e a produção de filmes de terror em vários estados, mas sabe que ainda há um longo caminho a ser trilhado.
“Tem muita coisa sendo feita em São Paulo, Rio, Ceará, Pernambuco, infelizmente o grande público nacional ainda não tem o respeito que a gente merecia, as pessoas gostam de terror mas valorizam mais o que vem de fora”, lamenta Lula Magalhães.
E mesmo a produção cinematográfica de Pernambuco na última década não é algo que empolgue o diretor. ‘Essa ferveção do cinema pernambucano é grupinho, não é o pessoal da guerrilha que batalha sem editais’, afirma. ‘Dá visibilidade para o estado, mas ajuda pouco o cinema independente’, arremata.
Tem que fazer
Para ele, o cinema brasileiro está ainda muito focado em comédia e romance, enquanto na Argentina, México e Espanha, os filmes de terror estão muito mais difundidos. ‘O Brasil tá engatando, diz Lula, citando Rodrigo Aragão, diretor de ‘A mata negra’, e Guto Parente, de ‘Clube dos canibais’.
Para Lula, o cineasta que atua no segmento de terror precisa aprender cedo a realizar sem esperar por grandes apoios. ‘Editais não conseguem abarcar todo mundo. Ou fica tentando (ganhar um edital) e não faz nada, ou vai fazer’, diz.
“A gente sabe que dinheiro e estrutura importam, já tem pouca adesão da iniciativa privada, as empresas não querem atrelar a imagem a esse tipo de filme”, acrescenta Lula, que defende a produção em esquema de mutirão.
“Não existe custo zero, o cafezinho, a alimentação, tudo custa dinheiro”, explica o cineasta. Para contornar os obstáculos ele aposta na união. ‘Juntar uma galera fiel, que quer ver o filme ficar pronto. Vai errar, eu vejo meus filmes antigos e não acredito que eu fiz aquilo”, revela.
Cine Horror
O Festival Cine Horror é o primeiro e mais antigo evento do gênero em atividade do nordeste, completamente destinado à exibição, difusão e discussão do cinema fantástico, tornando-se referência no cenário nacional. É também o único evento do gênero existente até o momento na Bahia.
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Rafael Saraiva começou como espectador na 1ª edição e desde 2018 é produtor do festival. Ele destaca que a as 9 edições realizadas até agora foram feitas sem nenhum tipo de financiamento. Este ano, pela 1ª vez o Cine Horror teve o projeto aprovado na Política Nacional Aldir Blanc de fomento à cultura (PNAB).
Além da sala Walter da Silveira, o festival conta com apoio dos cineastas, que cedem suas obras para exibição gratuita. O não se restringe ao mês de outubro e contribui para a formação de público durante todo o ano com a promoção de oficinas e cine clubes.
Tendência
Este ano, o Cine Horror teve um recorde de inscrições, 312 filmes, entre curtas e longas. Rafael já enxerga o resultado desse trabalho. ‘O horror é um cinema mais nichado mas a gente já vê uma tendência’, diz ele. ‘Antes se concentrava na capital, hoje já vê uma produção no interior’, complementa.
Outros festivais pelo Brasil também integram a rede de promoção dos filmes de terror e contribuem para ampliar o público desse nicho. O maior deles é o Fantaspoa (RS), de Porto Alegre. Cine Fantasy e Boca do Inferno (SP), Morcego (GO) e Sinistro (CE) são outros festivais consolidados na cena nacional.
No festival Cine Horror são apresentados filmes que não estão disponíveis nos streamings e nem em ampla distribuição pelo circuito comercial. O projeto conta com apoio institucional da Fundação Cultural do Estado, por meio da Diretoria de Audiovisual (Dimas).
Interessados nas oficinas e na programação do festival, bem como dos cineclubes e outras notícias de cinema de terror podem seguir o perfil @cine.horror.festival ou acessar o site cinehorror.com.br.
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