Busca interna do iBahia
HOME > CINEINSITE
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

CINEMA NACIONAL

"Kleber traz um tempero nordestino”, diz ator sobre O Agente Secreto

Licínio Januário detalha participação em obra de Kleber Mendonça Filho revela bastidores e expectativas para o filme

Beatriz Santos

Por Beatriz Santos

06/11/2025 - 22:16 h
O Agente Secreto estreia 6 de novembro e já é considerado um dos filmes mais comentados do ano no Brasil
O Agente Secreto estreia 6 de novembro e já é considerado um dos filmes mais comentados do ano no Brasil -

O filme O Agente Secreto chega aos cinemas nesta quinta-feira, 6, cercado de expectativa. Após o sucesso de Ainda Estou Aqui, que colocou o cinema brasileiro no radar internacional, o Brasil acompanha de perto a produção de Kleber Mendonça Filho, cotada para representar o país no Oscar 2026.

Em entrevista exclusiva ao Cineinsite A TARDE, o ator angolano Licínio Januário, integrante do elenco, detalhou sua experiência ao interpretar um exilado político no Brasil de 1977, compartilhou bastidores do set e refletiu sobre o impacto histórico e social da obra.

Tudo sobre Cineinsite em primeira mão!
Entre no canal do WhatsApp.

Leia Também:

O longa se passa no Recife de 1977 e acompanha Marcelo (Wagner Moura), um professor de tecnologia que retorna à cidade em busca de documentos antigos da mãe e acaba mergulhando em uma teia de vigilância e repressão.

Durante a semana do Carnaval, ele percebe que a cidade que acreditava ser refúgio está longe de protegê-lo, enquanto tenta lidar com ameaças do passado e da ditadura.

Licínio interpreta um angolano exilado no Recife durante a ditadura militar brasileira, formando par com Isabél Zuaa. “É um personagem completamente diferente do que costumo fazer, um homem um pouco mais maduro, de muitos silêncios, que tem senso crítico para a política e carrega a experiência do exílio e o peso da resistência. Foi um privilégio interpretar alguém com tanta densidade histórica e emocional”, conta o ator.

Sobre o contexto histórico de seu personagem, Licínio explica: “A Angola estava passando por um período bastante complexo durante os anos 70. Em 1961, começou a luta armada no país, a luta pela libertação. E, em 1975, veio a independência de Angola. A partir daí, começou um processo de reestruturação, de implantação da democracia e do Estado democrático que vigora até hoje”.

Licínio Januário interpreta um angolano exilado durante a ditadura militar
Licínio Januário interpreta um angolano exilado durante a ditadura militar | Foto: Divulgação

Ele também traça paralelos entre Angola e Brasil: “Com certeza, houveram muitas opiniões divergentes durante as lutas, o que também se assemelha ao período que o Brasil estava vivendo. Acho que Angola e Brasil estão conectados desde sempre. Embora em estágios de conquista diferentes, sempre há um ponto de semelhança. O Kleber traz isso muito bem e consegue relacionar de forma interessante com o Brasil atual”.

E complementa: “O Brasil é um país continental. As pessoas costumam pensar nos Estados Unidos como o destino para onde gente do mundo inteiro migra, mas o Brasil também é esse país".

Existe uma comunidade estrangeira muito grande aqui, espalhada por todo o território, que vem por inúmeras razões. Ainda hoje, as questões de exílio e refúgio são muito recorrentes, tanto para povos estrangeiros quanto para povos africanos. Acho que é um personagem que dialoga muito com o Brasil e com a Angola dos anos 70.
Licínio Januário - Ator

Cinema como reflexão política

Licínio enfatiza a dimensão contemporânea do filme: “O poder do cinema realmente é imensurável, porque parece que vivemos em um mundo cíclico — as coisas acabam se repetindo, algumas lutas antigas voltam com o tempo, de alguma forma”.

O ator reforça a relevância da obra: “Querendo ou não, estamos vivendo um movimento político muito tenso — e isso está acontecendo no mundo inteiro. O filme tem esse poder: o de nos fazer repensar e entender para onde queremos caminhar, de nos levar à reflexão”.

O filme cumpre esse papel do cinema, o poder de denúncia, da arte e da educação; o poder de transmitir uma mensagem, de nos fazer repensar. E isso é muito importante para o momento atual, não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro.
Licínio Januário - Ator

Direção de Kleber Mendonça Filho e parceria com Wagner Moura

Sobre trabalhar com Kleber Mendonça Filho, Licínio destaca: “Foi uma experiência muito legal. Foi o primeiro diretor com quem trabalhei fora do eixo Rio–São Paulo, tirando o Lázaro Ramos — que, embora não seja do Rio, mora aqui há muitos anos".

Para mim, foi uma experiência muito boa. Ver, antes da direção, o roteiro, que é dele também, observar outro tempo de escrita, outro olhar, outro propósito. Foi interessante conhecer um cinema diferente do que se produz aqui no Sudeste.
Licínio Januário - Ator

Ele ainda explica: “O Kleber tem essa marca — tanto como roteirista quanto como diretor. Ele tem o seu próprio tempo e um jeito único de ver o mundo. Foi muito interessante estar ali, no meio de atores gigantes. Kleber trouxe um mix de atores que estão no mainstream do Sudeste junto com atores que estão no mainstream do Nordeste. Isso resulta em uma arte muito interessante”.

Licínio descreve sua convivência com Wagner Moura como inspiradora: “Sempre estive nesse lugar de admiração pelo trabalho de pessoas que fizeram parte do meu imaginário na adolescência, como referências artísticas. Estar ali, atento, observando, foi uma forma de aprendizado. Foi uma honra trocar experiências, dentro e fora de cena. Wagner é um cara super massa e atencioso”.

O ator classifica a experiência de trabalhar com Tânia Maria, atriz e artesã de 78 anos, como a que mais o marcou no set. “A dona Tânia tem grandes chances de estar concorrendo ao Oscar também. Ela começou em Bacurau e tem uma história super inspiradora. Ela não era atriz — o Kleber foi gravar na cidade dela e precisava de pessoas da região para fazer figuração no filme. E aí ela fez um improviso que acabou virando uma marca da obra."

Foi muito bom conhecer uma atriz nata, sabe? Estava tudo ali. Nós, atores, levamos para a cena a nossa bagagem de vida — e ela tem uma bagagem enorme. Pra mim, foi lindo vê-la estudando, se dedicando com tanta responsabilidade, trocando com a gente. Foi, sem dúvida, uma das coisas mais marcantes foi vê-la contracenando com o Wagner.
Licínio Januário - Ator

Um Oscar à vista

Sobre a indicação de O Agente Secreto para representar o Brasil no Oscar 2026, Licínio se emociona: “Eu sou de Angola, então, pra onde eu vou, levo Angola comigo. E, nesse filme, o meu personagem também carrega um pouco disso. Não sou eu, mas, de certa forma, há algo meu ali. A Isabél Zuaa, que faz meu par no filme, também tem uma conexão muito forte com essa energia. Angola está a um passo de chegar ao Oscar! É muito emocionante pensar nisso”.

Eu vim pro Brasil pra fazer engenharia civil. Nada a ver com cinema, com atuação, nada disso. E agora pode ser que eu esteja cravando meu rosto na maior vitrine do cinema internacional, levando a Angola comigo. Isso me deixa muito feliz. Espero que o que estamos fazendo aqui também influencie o que está sendo feito lá.
Licínio Januário - Ator

Expectativas para Salvador e o público nordestino

Licínio comenta sobre a recepção do público baiano: “Eu acho que o povo vai pirar de verdade. O filme é uma mistura — posso dizer que é um suspense, mas um suspense com a cara do Kleber. Tem comédia, tem ação, tem discurso político, tem um toque de terror e fantasia. A fotografia está linda demais, e o elenco é incrível”.

Sobre a marca nordestina no cinema do diretor, acrescenta: “Tem um olhar muito nordestino, e eu sinto isso de perto. Eu morei na Bahia por um tempo e voltei pro Rio por falta de trabalho — Bahia, me emprega (risos) — mas dá para ver claramente que o Nordeste tem um olhar pro cinema que é diferente. Para mim, é um cinema com outros objetivos, com outro tempero”.

O Kleber traz esse tempero nordestino, esse sabor pernambucano, mas com um toque de Hollywood — um ‘quê’ de cinema internacional. Ele brinca com os estereótipos do que a gente consome de Hollywood, e transforma tudo de um jeito muito nosso. É uma mistura muito legal: imagina um tempero nordestino, super Brasil, com um toque de Tarantino. Vai ser incrível ver a reação da galera.
Licínio Januário - Ator

Ao refletir sobre sua carreira, Licínio conclui: “Para mim, foi um processo natural de amor pela arte e pela atuação. Quando surgiu essa oportunidade, pensei: ‘Caraca, agora tudo faz sentido! É por isso que eu era viciado em cinema quando era mais novo’. Era algo que sempre esteve no meu caminho. Eu fico muito feliz de ver como a vida dá sinais — e ainda mais feliz quando a gente consegue entendê-los. O cinema já falava comigo desde que eu era moleque. E agora veio a confirmação.”

Veja o trailer de O Agente Secreto:

Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.

Participe também do nosso canal no WhatsApp.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Tags:

cinema filmes O Agente Secreto

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
O Agente Secreto estreia 6 de novembro e já é considerado um dos filmes mais comentados do ano no Brasil
Play

Cinebiografia de Michael Jackson ganha trailer e detalhes surpreendem

O Agente Secreto estreia 6 de novembro e já é considerado um dos filmes mais comentados do ano no Brasil
Play

O Agente Secreto e mais: saiba o que assistir nos cinemas de Salvador

O Agente Secreto estreia 6 de novembro e já é considerado um dos filmes mais comentados do ano no Brasil
Play

Filme divulga cena inédita em homenagem a Paulo Gustavo; veja vídeo

O Agente Secreto estreia 6 de novembro e já é considerado um dos filmes mais comentados do ano no Brasil
Play

Baiana, filha de Jimmy Cliff e estrela em Hollywood: a vida de Nabiyah Be

x