ANÁLISE
O Agente Secreto é bom mesmo? Descubra por que o filme virou sensação
Filme de Kleber Mendonça Filho é a aposta do Brasil para Oscar

Por Edvaldo Sales

Desde sua estreia em festivais internacionais como os de Toronto, Nova York, Londres e San Sebastian, ‘O Agente Secreto’ — filme de Kleber Mendonça Filho estrelado por Wagner Moura — vem fazendo barulho ao redor do mundo. Não à toa, foi escolhido para representar o Brasil na corrida por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Internacional. A escolha não poderia ser mais acertada, pois o longa é puro cinema com cara de Brasil e de Oscar.
Kleber emprega aqui, mais uma vez, características que fazem parte de sua assinatura — certeira e facilmente reconhecível por quem já teve algum contato com sua obra —, seja pela maneira paciente e perspicaz com a qual trabalha os movimentos de câmera e faz a trama avançar, pela habilidade em contar uma história que aborda temas atuais e que dialogam entre si de forma inteligente, ou por sua maneira singular de retratar um país que equilibra o orgulho nacional com a indignação diante das atrocidades que marcam a terra do “jeitinho brasileiro”, onde às vezes é preciso se proteger do próprio Brasil.
Ambientado em 1977, O Agente Secreto abre com uma sequência brilhante que, em poucos minutos, expõe a realidade marcada pelo descaso com a vida e pela corrupção — cenário em que o protagonista está inserido. A partir desse ponto, desenrola-se a história de Marcelo (Wagner Moura), professor e pesquisador de uma universidade pública que foge para o Recife após eventos perigosos que colocaram sua vida em risco. O que ele não esperava, porém, era que esse refúgio estivesse longe de ser seguro e acabasse se tornando palco de um jogo de gato e rato violento.
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Kleber Mendonça Filho constrói um thriller calcado na paranoia sem nunca pisar no acelerador de maneira brusca ou equivocada. As escolhas narrativas do diretor ajudam a moldar uma atmosfera inquietante, sem perder a fluidez na condução dos acontecimentos e das revelações, que elevam gradativamente o suspense.
Dentro desse cenário, o cineasta trabalha temas como o apagamento sistemático de pessoas e o impacto da falta de preservação da memória de um povo. É interessante observar, por exemplo, o quão simbólica é uma das cenas mais importantes do longa, que se passa no Cine Boa Vista — um dos cinemas de rua mais tradicionais do Recife. O local foi transformado no Banco de Sangue Hemato. O brilhantismo da escolha desse espaço está no fato de que o cinema é justamente uma das artes que mais contribuem para a manutenção da memória.
O elenco de O Agente Secreto é outro ponto alto que faz toda a diferença. O destaque, claro, é de Wagner Moura. O trabalho do ator, que já provou ser dono de um talento e versatilidade que faltam em muitos artistas, casou perfeitamente bem com a direção de Kleber Mendonça. O baiano dá vida a um protagonista carismático e vai inserindo pequenas nuances de maneira calma e assertiva. Além disso, Wagner encontra o tom ideal nos momentos de demonstrar sentimentos como medo, angústia e desespero.
A peça do elenco que consegue chegar perto — bastante perto, na verdade — de ofuscar Wagner é Tânia Maria como dona Sebastiana, uma personagem marcante por diversos motivos, mas os principais são o carisma e o magnetismo, pois é impossível assistir e não se encantar pela senhora meiga e astuta que administra a pousada dos refugiados em Recife e é responsável pelo tom cômico que dá ao filme um equilíbrio perfeito e necessário.

Já Maria Fernanda Cândido, mesmo com menos tempo de tela, presenteia o espectador com Elza, uma mulher sobre a qual o público não precisa saber muito, mas o que ela faz acrescenta um ponto de virada essencial para a história. O elenco ainda conta com trabalhos consistentes que merecem ser mencionados, como o de Daniel Leone, Alice Carvalho (que mais uma vez prova ser uma das atrizes mais interessantes da sua geração), Hermila Guedes, Roney Villela e Carlos Francisco.
O Agente Secreto só desliza em alguns momentos quando decide fugir de uma estrutura linear. Mesmo que essa decisão tenha uma justificativa narrativa bem colocada, existem algumas quebras que resultam em pequenos impactos na experiência. O filme de Kleber Mendonça Filho, porém, não perde força por isso, e se destaca por ser uma obra que transpira cinema com cara de Brasil, nos temas, na fotografia, na direção, no texto e no figurino. Vale destacar também a trilha sonora que faz um trabalho impecável na construção da tensão e do suspense e que, muito provavelmente, não vai passar despercebido pelo Oscar.
O Agente Secreto estreia no dia 6 de agosto.
Assista ao trailer de O Agente Secreto:
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