CICLO FRANCÓFONO
Salvador ganha maratona com filmes clássicos da França
Cineclube promove mostra com títulos restaurados e sessões com bate-papo
Por Rafael Carvalho

Clássicos do cinema francês vão ser uma constante na programação do cineclube Cinematógrafo nos meses de julho e agosto. Isso porque se inicia no próximo sábado, 12, o Ciclo Francófono do Cine Cineasta.
A mostra integra a programação do cineclube junta com outras exibições desta iniciativa idealizada pelos cineastas e programadores baianos Camele Queiroz e Fabricio Ramos. As exibições acontecem sempre aos sábados e domingos pela manhã, às 10h30, e em algumas quartas-feiras à noite, no Cine Daten Paseo, do Circuito Saladearte.
O Cine Cineasta, que já fazia parte da programação do Cinematógrafo, destacando sempre um único diretor e alguns de seus filmes mais emblemáticos, agora ganha uma variedade de filmes de autores, épocas e estilos distintos.
A curadoria do Ciclo ficou a cargo do crítico de cinema e programador Adolfo Gomes. “Adolfo é um profundo conhecedor da cinematografia francesa e, por seu espírito inquieto no que diz respeito a uma cinefilia muito própria, sempre nos cativou a possibilidade de trazer um pouco desse olhar para ações especiais do Cinematógrafo”, comentou Camele.
O filme de abertura do Ciclo neste sábado de manhã será Paris que Dorme (1923), filme raro e pouco conhecido do cineasta René Clair.
“Clair é um representante de vulto da vanguarda francesa”, pontuou Adolfo. “O filme sintetiza bem a veia onírica e documental deste grande realizador francês. Além disso, é um tributo ao cinema silencioso e um ponto de partida quase ancestral da nossa jornada através da filmografia produzida na França”, destacou.
Já no domingo, será exibido o drama histórico e sanguinário A Rainha Margot (1994), de Patrice Chéreau, que retrata o massacre de protestantes no século XVI.
Na quarta da próxima semana, à noite, é a vez do drama romântico César e Rosalie (1972), de Claude Sautet.
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Cinema de autor

O Ciclo Francófono possui apoio de algumas instituições culturais, como a Cinemateca Francesa, o Institut Français e a Embaixada da França no Brasil.
“A França tem uma marcada tradição de difusão do cinema produzido lá e no universo francófono”, afirmou Fabrício. “Eles promovem mostras, disponibilizando catálogos de filmes para compor a programação de cineclubes no mundo inteiro. No caso deste nosso projeto, as instituições francesas parceiras atenderam à articulação de Adolfo, liberaram e disponibilizaram os títulos que compõem o Ciclo”.
Integram ainda a programação obras icônicas e pouco celebradas, como Lancelot do Lago (1974), releitura muito pessoal das lendas arturianas e das histórias dos Cavaleiros da Távola Redonda, pelas mãos de um mestre como Robert Bresson.
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A cineasta Marguerite Duras, também ela uma escritora afiada, aparece na programação com um de seus filmes mais celebrados, o hipnotizante Canção da Índia (1974), que acompanha uma festa de diplomatas e burgueses franceses na colônia indiana.
Camele pontuou também que a parceria com Adolfo abraça um cinema de autor menos óbvio e ainda pouco explorado. “Em conversas e trocas nossas, surgiu esta ideia e nos animou bastante poder oferecer ao público de Salvador o cinema francófono para além da tão celebrada Nouvelle Vague”.
Diásporas africanas
A ideia de cinema francófono extrapola as fronteiras da França e inclui obras faladas em francês feitas em outras partes do mundo, geralmente coproduzidas e financiadas pela França. Este é o caso de muitos filmes do cineasta senegalês Djibril Diop Mambéty.
No Ciclo, serão exibidos dois dos médias-metragens mais importantes deste importante cineasta africano, em cópias restauradas: A Pequena Vendedora de Sol (1998) e O Franco (1994).
“Mambéty é um mestre. Seu cinema é cheio de vida e sol. Acho muito importante que autores da grandeza dele sejam conhecidos, sobretudo na Bahia. Os diálogos dos filmes de Mambéty, merece ser acrescentado, é como uma música universal, mesmo quem não domina o idioma é tocado por sua poesia e cadência”, destacou Adolfo.
Completam a programação outros clássicos do cinema francês, tais como o irreverente e arrojado Zazie no Metrô (1960), de Louis Malle; o drama politizado dirigido por Costa-Gavras, A Confissão (1970); e a cinebiografia lírica Van Gogh (1991), belissimamente dirigido por Maurice Pialat.

Encontros pulsantes
O Cinematógrafo, enquanto projeto de exibição, encontros e debates acerca do cinema brasileiro e mundial, vai completar nove anos de existência no próximo mês de dezembro, tendo continuado inclusive durante a pandemia.
“Sempre tivemos como proposta oferecer ao público uma experiência de cinema que vá além da exibição — uma experiência de encontro, escuta, reflexão crítica, descoberta e partilha, valorizando a relação de confiança entre o público e a curadoria”, declarou Fabrício.
Além do Cine Cineasta, a programação do cineclube inclui outros braços, como a faixa dedicada a filmes de comédia, filmes cult e uma importante iniciativa de programação voltada para o público infanto-juvenil, todos eles distribuídos em vários horários e cinemas do circuito Saladearte.
O evento conta ainda com um público cativo que participa ativamente das sessões e debates. “É uma plateia muito especial, dinâmica e interessada, que tem comparecido e valorizado sobremaneira as diversas ações realizadas pelo Cinematógrafo”, pontuou Camele, lembrando ainda que as sessões virtuais continuam acontecendo mensalmente.
Ciclo Cine Cineasta / A partir deste sábado (12), 10h30 / Saladearte Cine Daten Paseo / Programação: www.cinematografo.art.br
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