‘AMA MBA'É TABA AMA’
“Vai ficar na história”, diz diretora sobre filme focado em vivências
Filme baiano ‘Ama mba'é Taba Ama’ vai dar destaque para histórias da aldeia Tupinambá
Por Edvaldo Sales
Os desafios enfrentados por seis indígenas baianos pertencentes à aldeia Tupinambá e que vivem no município de Olivença, na Bahia, serão abordados no documentário ritual ‘Ama mba'é Taba Ama’, que foi gravado no Litoral Sul do estado. O termo que significa “Levanta essa aldeia, Levanta” dá título a um canto de ritual da língua nativa tupi. O filme é dirigido pelas cineastas Gal Solaris e Nádia Akawã Tupinambá.
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Junto com a história de Nádia, o filme mostrará as vivências indígenas de mais cinco pessoas. “A gente procurou por características específicas. Tem uma anciã, que é Dona Lourdes, que é uma das pessoas mais idosas da aldeia e tem muitos conhecimentos antigos; o vice-cacique Carcará, que é extrativista e agricultor; o Cipó, que é artesão e também tem conhecimentos sobre ervas medicinais; e o Pytuna, que é mais jovem, é um rapper e compõe músicas conectadas com as questões do território. Nós escolhemos para ter uma multiplicidade de olhares para compor o filme”, detalhou Gal em entrevista ao Portal A TARDE. “Nádia, que é uma liderança indígena, e o Cacique Ramon Itajibá Tupinambá também são personagens”.
O objetivo é valorizar a cultura dos povos originários, com destaque para a tribo Tupinambá, e fortalecer as lutas sobre importantes questões, como regularização fundiária em territórios considerados “sagrados”, Marco Temporal e morte de indígenas devido à invasão de áreas. Com o processo de urbanização das cidades, os territórios indígenas reduziram ao longo dos últimos anos e a narrativa acontece através das diferenças entre as paisagens dos espaços da aldeia sobre o desenvolvimento do entorno causados pela expansão imobiliária, turismo predatório e mineração.
Gal explicou que o trabalho surgiu de uma relação de longa data entre Glaucia e Nádia — a dupla já fez outros trabalhos. Depois de um curta realizado em 2017, a elas tiveram a ideia de fazer um longa-metragem e conseguiram recursos através da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA).
“A gente teve vários encontros na aldeia, nós conversamos com as pessoas, gravamos entrevistas. Desse processo de pesquisa resolvemos escolher esses personagens e focar dentro da Aldeia Tucum. O povo Tupinambá é composto por 24 aldeias e pega três municípios. A gente tem muita coisa para falar, mas resolvemos focar em uma das aldeias para poder aprofundar um pouco mais no cotidiano das pessoas”, detalhou a diretora.
A cineasta destacou que o objetivo é dar visibilidade ao cotidiano e também mostrar a luta por território. “A gente chama ele de filme ritual porque olhamos para esses personagens a partir do seu cotidiano, mas também da sua ritualização presente no dia a dia”, disse.
[...] A ideia é que a gente gere, de alguma maneira, uma empatia com esses personagens e com a luta Tupinambá.
Se ver na tela
Além de dirigir ‘Ama mba'é Taba Ama’, Nádia Akawã Tupinambá também é uma das personagens da produção. Segundo ela, o filme vai ficar marcado na história “porque muitas pessoas não imaginam do que somos capazes”.
“Não imaginam onde vivemos, ainda estão olhando para os livros que falam de nós no passado. Esse olhar contemporâneo de perceber-se dentro de todo o contexto humanitário vai ficar marcado. A Gal sentiu isso, e a gente é muito grato por tudo o que ela pensou e permitiu fazer. Que esse filme possa chegar nas escolas como recurso de material didático para informar sobre a história verdadeira deste país”, enfatizou.
Ao Portal, ela abordou a importância de se contar histórias pelo ponto de vista daqueles que estão tendo as suas vivências abordadas. “À medida que a gente vai falando de nós, nos vendo, nesse contexto histórico e também em nossas práticas, a gente vai se munindo de informações para que nós possamos compreender o lugar que ocupamos e, principalmente, o território que defendemos. Nossos corpos são nossos territórios e a gente precisa cuidar deles, da Mãe Terra, do lugar que pisamos, cuidar de tudo que vive. O filme traz histórias que são ritualizadas o tempo todo para mostrar exatamente que nada acontece por acontecer, que nada está pronto e que nada se faz de qualquer jeito”, refletiu.
Atrás e na frente das câmeras
Nádia Akawã afirmou que dirigir ‘Ama mba'é Taba Ama’ permitiu que ela tivesse um olhar clínico. “[...] Meu papel, além de estar na direção, foi também direcionar esse coletivo para que eles compreendam essa raiz do sagrado, que cada um deles também tem o seu pertencimento. É fazer com que eles se conectem com seus ancestrais a partir daquilo que eles vivenciam aqui. Foi muito forte para mim, para a equipe que presenciou, que participou e imergiu com a gente. [...] A memória é muito forte nesse momento, a gente trabalhou com muitas memórias, do cheiro, do paladar, da audição, do olhar e do sentir”, explicou.
Para a diretora, o filme vai abrir portas para outras produções, “porque uma vez falando de cada personagem, se percebe que cada um deles daria outros filmes. A gente está caminhando para muitas informações que poderiam dar várias séries, com várias temáticas, seja ela sobre o território, educação, rituais consagrados, entre outros”.
O filme faz essa imersão e traz várias possibilidades futuras de chegar nas escolas, nas universidades e nos festivais, mostrando do que somos capazes e, mais ainda, mostrando o protagonismo, porque quando eu me coloco como diretora, eu estou mostrando um protagonismo, eu estou mostrando um potencial.
‘Ama mba'é Taba Ama’ tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2025.
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